quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 1º - M.I.A. - Arular


"London, quiet down I need to make a sound. New York, quiet down I need to make a sound. Kingston, quiet down I need to make a sound. Brazil, quiet down I need to make sound". Arranca assim "Bucky Done Gun" (saudades deste Diplo?), um dos singles mais fortes de Arular. Está tudo aqui: o grime londrino - que, na altura, ainda vivia tempo excitantes com Dizzee Rascal e The Streets em topo de forma -, o hip hop nova-iorquino, o dub de Kingston e o baile funk brasileiro. M.I.A., um O.V.N.I. que, encorajado por Peaches, criou um álbum cujos beats base feitos numa Roland MC-505 - uma artista de quarto antes da propagação da espécie? - e politicamente inspirada nos tempos difíceis que terá viveu no Sri Lanka - o título é inspirado num nome código político usado pelo pai de M.I.A.: Arul Pragasam. Do título às letras é, portanto, justo referir que Arular é tremendamente influenciado pelo pai. Mais tarde viria a dizer que a cena punk londrina também teve uma grande influência no disco: dos Clash a Malcolm McLaren. Muito de vez em quando lá vem um álbum como Arular, complexo, que começa na capa e termina muitos anos mais tarde. Já o podemos classificar como clássico?

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 2º - Kanye West - Late Registration


Com Late Registration, Kanye consegue aquilo que nem Jay-z, nem Nas conseguiram: um segundo álbum ao nível da estreia. West admitira: "College Dropout tem coisas que foram feitas à pressa". Este não, seria à prova de bala, não fosse o magnífico produtor um rapper mediano. Em 2005, o ego já se manifestava, mas este é um Kanye mais humano - "Roses", por exemplo, é sobre a quase morte da avó e "Hey Mama" é um agradecimento à mãe. Lembramo-nos dos discos mais recentes e da forma como West vai potenciando as suas colaborações, Late Registration já tem isso: os versos do estreante Lupe Fiasco, do chefe Jay-z e do ex-arqui-inimigo Nas são pérolas ao nível da produção do West. "Sempre quis fazer um som que parecesse que estou a rappar do alto de uma montanha", dizia, como no vídeo de "Touch the Sky", com Pamela Anderson, em que a personagem de West acaba por se despenhar. Não é mais do que isso, um vídeo, pois Kanye, o polarizador, continua lá no alto da montanha.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 3º - Quasimoto - The Further Adventures of Lord Quas


Sempre que pensamos que Madlib abandonou Quasimoto (ou Lord Was ou Quas), ele regressa ao projecto. The Further Adventures Of Lord Quas é apenas o segundo álbum e chega cinco anos depois do primeiro, Unseen. Em 2013, assistimos ao surpreendente regresso com Yessir Whatever. Quer isto dizer que, mesmo que Madlib decida encostar o projecto durante os próximos dez anos, o melhor é não assumir que está enterrado. Quasimoto é apenas mais uma das muitas personagens do rapper e produtor, o equivalente a um shuffle de samples, ideias, letras e ritmos, soa a alguém facilmente se aborrecível a mexer no sintonizador de frequências de rádio. Para desfrutar plenamente é necessário tempo, ou no final o que vos ficará será apenas um tratado soul e funk de um "rapper" com voz de hélio. No final é tentar perceber porque é que um jornalista do New Musical Express deu um 2 numa escala de 1 a 10 a um disco destes - demasiado ocupados a ouvir a estreia dos Bloc Party?

domingo, 27 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 4º - Antony and the Johnsons - I am a Bird Now


Podemos perder-nos em eventuais metáforas relativamente ao título e identidade do artista Antony Hegarty. "Sou um artista, um animista, transgénero, ateu e um mamífero", esclareceu em entrevista à Out, sete anos depois. Mas I Am a Bird Now não é apenas um enorme desabafo de Hegarty, é o disco mais emocional desde... bem, desde Funeral dos Arcade Fire, editado meses antes. Os vários convidados - alguns andróginos, todos singulares - Boy George, Lou Reed, Rufus Wainright e Devendra Banhart - dão uma ajuda numa obra que tem muito de poética e que se baseia essencialmente na voz e piano, quase jazz, muito Nina Simone. Se não choraram ao ouvi-lo são bem capazes de não ter coração.

sábado, 26 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 5º - Sufjan Stevens Illinois


Illinois é o último álbum dedicado a um estado norte-americano, no âmbito do 50 State Project, premissa-brincadeira que Sufjan Stevens nunca se esforçou por cumprir, mas que chamou para si a atenção de muita gente. Mas que nada disto aliene a qualidade do trabalho de Sufjan que, com este 5º de originais chegou a muito mais gente. A viagem é épica, de mais de duas dezenas de canções (com títulos sem fim), instrumentos e músicos, constantes mudanças de direcção e harmonias, muitas. Tudo à grande. E à americana.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 6º - Devendra Banhart - Cripple Crow


Cripple Crow sucede os duplos projectos discográficos de 2002 (The Charles C. Leary e Oh Me Oh My) e 2004 (Rejoicing Hands e Niño Rojo) e confirma Devendra Banhart como um dos mais brilhantes escritores de canções da sua geração. A capa a la Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band antecipa a aventura épica de 22 canções, recheada de colaboradores e que bebe dos quatro cantos do mundo, Portugal incluído na célebre "Pensando Enti". Mais Cripple Crow é muito mais, é uma homenagem aos aos 50 (bossa nova, o Brasil) e 60 (a folk, os Beatles, Nick Drake, a pose hippie, John Fahey). É a maturidade aos 24, até ver insuperável.

[Os melhores álbuns de 2005] 7º - The Mars Volta - Frances the Mute


Não admira que Frances the Mute tenha sido recebido de forma pouco consensual - é um disco complexo, fora de tempo, diferente de tudo o que se fazia na altura e sem o efeito surpresa que acompanhou De-Loused in the Comatorium. Tanto louvores como apupos provêm do mesmo factor: complexidade técnica. Os que os defendem referem o virtuosismo, os que os atacam reclamam com a produção balofa e o puro exibicionismo. Rock sinfónico e psicadélico, música latina, música clássica e jazz. John Frusciante na guitarra, Flea no trompete e Larry Harlow, pianista de salsa nas teclas. Um disco louco, mas que ainda assim carrega a mais acessível canção do catálogo dos Mars Volta: "The Widow". Tem um refrão, imagine-se.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 8º - LCD Soundsystem - LCD Soundsystem


Em 2001, quando fundou a DFA, James Murphy virava trintão. Pouco depois, quando lança o single "Losing My Edge", tem 31. Em 2005, quando este muito antecipado homónimo chega às lojas já conta 34. Nunca encaixou nas premissas de uma estrela pop - demasiado peso, demasiado recatado e, pelo menos aparentemente, demasiado desajeitado, James Murphy é o herói indie improvável, chave mestra para aquela espécie de revolução que haveria de se seguir. O electroclash perde popularidade, a frente ofensiva da DFA tem os Rapture de "House of Jealous Lovers" em estado de graça e é a nova grande cena. LCD Soundsystem faz a ponte entre aquilo que os putos alternativos gostavam na altura - o pós-punk dos Bloc Party e Franz Ferdinand, o garage dos White Stripes e o rock dos Strokes - e a música de dança que, três anos depois, haveria de aprimorar e transformar numa obra-prima chamada Sound of Silver. Cerca de seis anos depois da estreia, Murphy, sabemos hoje, matou o projecto que "obrigou" os miúdos indie a dançar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 9º - System of a Down - Mesmerize / Hypnotize


Mezmerize é metade de um plano que só acabaria no outono, com a edição de Hypnotize, aquele que acabaria por ser o último disco dos quatro arménio-americanos. Mezmerize é brutal, político, jocoso. Basta olhar para essa bomba que é "B.Y.O.B.", canção e vídeo - e pensar que vivíamos a reeleição de George W. Bush. O misto de influências que resulta num som genericamente catalogado de metal e a química entre Serj Tankian e Daron Malakian são impressão digital de uma banda que entra para aquele rol de poucas que conseguiu não errar. Por vezes, parece que estão a gozar, que não se levam a sério, que Mezmerize não passa de um testemunho tonto daquilo que lhes vai na cabeça. Mas não. Isto é a sério e muito sério. É uma denúncia feita por uma das mais influentes bandas da altura.

Com Hypnotize confirmava-se: o álbum duplo soou a enorme injustiça para com Daron Malakian, ele que terá sido o grande responsável por tudo o que ouvimos aqui. Os fãs adoram-no, mas os críticos apontam: devia ter continuado de boca fechado, tem demasiado protagonismo nesta ambiciosa investida. Percebemos que prefiram ouvir Serj Tankian, claro, é incomparavelmente melhor voz, mas Malakian não se sai assim tão mal e as baboseiras que vai cuspindo acabam por contribuir para uma das características que contribui para a impressão digital dos System of a Down (SOAD): humor. Independentemente das muitas coisas políticas que são ditas em Mesmerize e Hypnotize, o humor é omnipresente. E quanto mais estapafúrdio, mais político. É o último disco dos SOAD e nem vale a pena referir o nu-metal que a determinada altura lhes foi associado. Hypnotize mistura vários estilos sim, como o punk de "Kill Rock 'n Roll" e o trash metal de "Attack", passando por baladas como "Lonely Day". O ambicioso passo acabou por ser bem medido, os dois discos separados por seis meses acabaram por lhes dar protagonismo ao longo dos 12 meses de 2005. Dominaram o ano.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 10º - Okkervil River - Black Sheep Boy


A cover de Black Sheep Boy, canção blues dos anos 60, da autoria de Tim Hardin, que inspira tudo o que se segue neste magnífico terceiro álbum dos Okkervil River, eles que se confundem com o vocalista e letrista Will Sheff. Quer isto dizer que tudo o que se passa em Black Sheep Boy tem a mão de Sheff que criou Black Sheep, uma criatura do fantástico que terá passado por muito tal como está retratado na capa do álbum. Inteligente nas letras, certeiro na música, Black Sheep Boy é mais um dos dignos representantes da ascensão da folk vivida na durante a primeira década dos anos 00.

domingo, 20 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 11º - Beanie Sigel - The B. Coming


The B. Coming tem tanto de magnífico como de surpreendente. O extremo cuidado da produção, o entusiasmo com que Beanie Sigel abraça cada canção e a verdade das letras. Sigel sabe do que fala, os problemas com a lei já tinha começado em 2002 quando foi detido por posse de armas. The B. Coming foi gravado entre as semanas em que foi considerado culpado de possa de arma e drogas e a sentença de um ano que acabou por cumprir. Um ano depois, já fora da prisão, haveria de ser atingido por vários disparos durante um assalto. Os problemas continuam, a obra fica. Esta é uma obra-prima - da criteriosa escolha dos produtores às quase 100 por cento certeiras colaborações vocais.

sábado, 19 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 12º - Roisin Murphy - Ruby Blue



Ruby Blue, o disco de estreia de Roisin Murphy a solo, é também um dos mais surpreendentes do ano. Depois de quase uma década a criar hinos para as pistas de dança - hinos como este este -, Murphy baralha as expectativas e, com Matthew Herbert na produção, cria um som dançável, sim, mas também com resquícios jazz e neo-soul. É Herbert o responsável pela ponte entre os Moloko (chegou a remisturar "Sing it Back") e este projecto a solo que usa objectos do dia-a-dia e cuja principal inspiração terá sido. segundo a própria protagonista, Spearkerboxx/The Love Below dos Outkast. É um dos álbuns mais audazes do ano.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 13º - The Bravery - The Bravery


Na mesma semana de novo álbum dos New Order, a estreia dos Bravery, eles que curiosamente pegam em alguns dos ensinamentos da banda de Manchester. Também envolveram-se numa guerra de palavras com os Killers - outros obreiros dessa causa que é o revivalismo 80s, com canções recheadas a sintetizadores e um vocalista cuja voz se confunde facilmente com a de Robert Smith dos Cure. Depois disto, tantos os Bravery como os New Order, por motivos distintos, haveriam de cair no esquecimento. 

[Os melhores álbuns de 2005] 14º- Clap Your Hands and Say Yeah - Clap Your Hands and Say Yeah


Há hoje uma certa nostalgia em relação ao tempo do Myspace e dos blogs, em que bandas como os Clap Your Hands and Say Yeah (CYHASY) já o eram antes de o ser. É natural: já não existe aquela ideia de que tu, comum mortal, podes encontrar a próxima grande cena, pois, entretanto, as centenas de webzines dedicadas à música independente (?) já o fizeram. Este disco homónimo acaba por confirmar o que os mais atentos vaticinavam, uma auspiciosa estreia. A voz quase imperceptível, mas com alguns (vários) pontos de contacto com a de Thom Yorke valeram-lhes algumas comparações aos Radiohead, outros apontavam os Joy Division, outros ainda os Flaming Lips. A verdade é que as comparações não foram consensuais, ou não fosse CYHASY um álbum com voz própria. O facto de não termos tido direito a réplicas - do 2º disco quase não reza a história - levou-os a que 2015 tenha previsto uma assinalável celebração - reedição e digressão incluídas. Celebremos então.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 15º- Magic Numbers - Magic Numbers


Enquanto muitos repescavam ideias do rock do início dos 80s, bandas como os Thrills, os Clientele e estes Magic Numbers procuravam escrever a canção perfeita. As duas primeiras chegaram muito perto nas belas, magníficas colecções de canções que ambas editaram em 2003. Agora, em 2005, é a vez dos Magic Numbers. Também é rock, também é saudosista, sim, mas torna-se refrescante por negar todos os caminhos que toda uma nova carruagem de bandas londrinas seguia na altura.

[Os melhores álbuns de 2005] 16º - Bloc Party - Silent Alarm


Janeiro de 2005. O termo hype ainda era muito (demasiado) usado para descrever aquelas bandas que com um single ou um EP prometiam ser a próxima grande cena. Foi assim que os Union, ou seja, os Bloc Party antes de serem os Bloc Party - foram promovidos à Premier League do rock britânico, à boleia de um EP cujo som, dizia-se, dançava entre os Strokes e os Gang of Four. E é aqui que Silent Alarm resolve-se: afasta-se do som dos Gang of Four e, mesmo não oferecendo nada de novo, apresentam um som singular, com os mais variados truques de produção (Radiohead) e o entusiasmo que não haveria de se repetir.

domingo, 13 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 17º - Kaiser Chiefs - Employment


Dois meses depois de Silent Alarm, nova folgorosa estreia num mercado britânico que tentava prolongar à força o momentum que a magnífica estreia dos Franz Ferdinand havia encetado cerca de 12 meses antes. O revivalismo pós-punk a produzir bandas como cogumelos e a imprensa britânica sob os comandos do New Musical Express com hype atrás de hype numa altura em que o termo ainda fazia sentido. A estreia dos Kaiser Chiefs é bem simpática, mas foi elevada a um estatuto que não é o seu. Foi um dos álbuns do ano para muito boa publicação que quis ver aqui os sucessores de uns Blur que estavam à beira do hiato que se prolongou até esta década. A verdade é que, mais quatro álbuns depois, os Kaiser Chiefs são encarados como a banda de um carismático Ricky Wilson que virou jurado de um talent show, o The Voice, que o alcunha de Mr. Puppy Dog Eyes.

[Os melhores álbuns de 2005] 18º - Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better


Ah, o difícil segundo álbum, a pressão imensa de ter de estar à altura da estreia - os Bravery e os Kaiser Chiefs, só para citar dois exemplo contemporâneos, haveriam de se espalhar mais tarde, mas os Franz Ferdinand não, desafiando convenções e convicções atiram-se de imediato ao 2º disco e despacham a conversa do antes é que eles eram bons. Não, em You Could Have It So Much Better eles são igualmente bons, igualmente entusiasmantes, dando mesmo a ideia que era fácil e a melhor banda pop britânica do novo século. Mais tarde, com as inevitáveis mudanças, haveriam de sofrer como os outros, mas até aqui, tudo era imaculado.

sábado, 12 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 19º - The Game - The Documentary


Na longa lista de mártires do hip hop não constam os nomes de 50 Cent e The Game. Ambos foram brutalmente alvejados antes de se lançarem como apostas pessoais de Dr. Dre. Afinal de contas, uma boa história é também uma excelente ferramenta de marketing. The Documentary, muito pessoal álbum de estreia, o rapper menciona vários clássicos do hip hop. De cabeça: Ready to Die de B.I.G., Reasonable Doubt de Jay-z, Doggy Style de Snoop Dogg, Death Certificate de Ice Cube, Illmatic de Nas e, claro, The Chronic de Dr. Dre - produtor, mentor e padrinho. Está na noção do legado hip hop e da vontade de criar algo que garanta o estatuto de clássico uma das grandes forças de The Documentary. O resto está numa criteriosa escolha de colaborações e produtores que vão de 50 Cent a Kanye West, passando por Timbaland, Eminem ou Just Blaze.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 20º - My Morning Jacket - Z



O que fazer depois de uma obra-prima de 75 minutos, o magnífico It Still Moves? Logo à 1ª faixa, "Wordless Chorus", os My Morning Jacket mostram que colocaram o pé no travão e, à medida que o registo avança, vão acelerando devagarinho até chegar a canções de 6/7 minutos, já na 2ª parte do disco. Não é que a ambição dos My Morning Jacket seja proporcional à duração das canções, mas a banda torna-se naturalmente maior quando se alonga. Jim James, que quase tudo parece conseguir fazer, carrega um mundo de emoções que nunca se desmorona, mesmo em momentos como "Gideon", em que o vocalista torna a canção num single óbvio e magnífico single. Z prova os My Morning Jacket como uma das certezas do rock norte-americano do novo milénio. Mostram-se triunfantes em qualquer registo. Ainda hoje é assim.

[Os melhores álbuns de 2005] 21º - The Decemberists - Picaresque


Em tempos de aclamação de Funeral dos Arcade Fire, os Decemberists avançavam com o sucessor do muito aclamado Her Majesty the Decemberists. Curiosamente, e mantendo os paralelismos com o grupo canadiano, Picaresque foi, à imagem de Neon Bible (de 2007), gravado numa antiga igreja com Chris Walla dos Death Cab For Cutie. É o álbum que prova o culto da banda de Colin Meloy: na sequência do roubo da carrinha em que se encontravam os instrumentos da banda, os fãs doaram os oito mil dólares - isto numa altura em que ainda não existiam kickstarters ou crowdfunders. Mais provas de que os Decemberists podem ter estado bem à frente do seu tempo: o vídeo de "Sixteen Military Wives" foi distribuido via BitTorrent bem antes de Thom Yorke se lembrar de o fazer. No título às letras, Picaresque é um tratado com a literatura, coisa que lhes valeu algumas acusações de presunção. Não muitas, felizmente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 22º - M83 - Before the Dawn Heals Us


A discografia dos M83 sempre se pautou por uma evolução tanto sonora como estética. Se M83 e Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts são álbuns pouco humanos e centrados nos sintetizadores, este Before the Dawn Heals Us aponta numa direcção mais orgânica, com guitarras shoegaze e um som atmosférico e onírico. É o álbum da saída de Nicolas Fromageau e da emancipação de Anthony Gonzalez, material facilmente confundível com algo escrito para o cinema, não sendo raras as referências ao cinema de terror ou a um thriller. É o ínicio de uma equilibrada caminhada até Hurry Up, We're Dreaming e respectivo airplay na Cidade FM.

[Os melhores álbuns de 2005] 23º - Andrew Bird - Andrew Bird - The Mysterious Production of Eggs


É o sexto álbum, mas soa a primeiro. Até The Mysterious Production of Eggs, quase nove anos depois do debutante Music of Hair, Andrew Bird foi modelando uma identidade. Percebe-se que é aqui que a alcança e daí que, dez anos depois, pareça o primeiro. Até aqui, Bird andou pelo country e o bluegrass e, acima de tudo, pelo jazz, na companhia dos Bowl of Fire. O anterior Weather Systems já dava algumas pistas relativamente ao passo seguinte - assobiador profissional e mudança para um som folk - mas até aqui, a formação clássica parecia condicionar as composições e escolhas do músico. Ei-lo então diferente, em 2005, mais ambicioso e a fazer sombra a Rufus Wainright com um dos mais celebrados discos do ano. E a folk era a nova grande cena.

[Os melhores álbuns de 2005] 24º - Arab Strap - The Last Romance


A um nível temporal, os Arab Strap são um hino a este blog: duraram precisamente dez anos. Este The Last Romance tem título premonitório e seria de facto o canto do cisne dos escoceses. Terminaram numa altura em que a cena local voltava a estar nas bocas do mundo via Franz Ferdinand. E, pegando numa referência da banda de Alex Kapranos, o duo composto por Aidan Moffat e Malcolm Middleton reclamava: "Take Me Out". Deixaram-nos fora, da cena, do hype, da moda. Meses antes da edição, os dois Arab Strap já revelavam desentendimentos: Malcolm queria um disco mais negro, Moffat preferia-o visceral. O segundo acabou por ganhar, mas, com o desentendimento e apesar dos bons resultados deste disco, a música ficaria a perder com o fim da banda. Estas canções continuam a descrever relacionamentos falhados, de um modo cáustico. A diferença é o próprio Moffat que a nota: "é um pouco mais acelerado, mas continua a lidar com o lado negro das relações. É como o lado negro da série Star Wars - mais rápido e mais sedutor.”

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 25º - Deerhoof - The Runners Four


Sete discos noutros tantos anos e, por fim, os Deerhoof são uma banda de canções pop. Não deixam de praticar a auto-sabotagem, mas estas canções são mesmo a sério. The Runners Four são duas dezenas de canções curtas, mas que ocupam o dobro da duração dos registos anteriores. Muitas canções não têm um arranque ou um final óbvio, lembrando material dos Guided By Voices, mas é dos Sonic Youth que temos como referência ao longo de um dos mais desafiantes discos de guitarras do ano.

[Os melhores álbuns de 2005] 26º - Los Hermanos - Quatro


Quatro é o último disco dos Los Hermanos e, voltando a ele, é difícil perceber o porquê de terem sido uma banda polarizadora: não se ama ou odeia Los Hermanos, só se ama. Porque eram bons. Muito bons. Resultavam de duas personalidades distintas, mas igualmente talentosas: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, o primeiro mais preocupado com as melodias, o segundo mais dedicado às letras. E, olhando para as discografias pós-Los Hermanos, podemos concluir que Camelo tinha as ideias mais arrumadas. Sou, de 2008, ditou o caminho que haveria de seguir até hoje, à Banda do Mar. Rodrigo Amarante tentou o inglês dos esquecidos Little Joy, algo estranho para quem compõe tão bem em português, e só em 2013 se voltou a notabilizar com o fenómeno "Youtubiano" Cavalo. Quatro será o disco mais intimista da banda, bandeira da Nova MBP. Mas não vale a pena colá-los ao que os originais fizeram nos anos 60 e 70. O que Los Hermanos fizeram foi especial, independentemente da inspiração de mestres como Chico ou Caetano.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 27º - Gorillaz - Demon Days


Por alturas do segundo álbum, os Gorillaz ainda eram encarados como o projecto que Damon Albarn alternava com os Blur. Demon Days vem dois anos depois de Think Thank, o sétimo da banda de "Parklife", e quatro anos depois do homónimo dos Gorillaz - uma grande ideia, uma pedrada no charco que correu bem a todos os níveis. Algumas diferenças do primeiro para o segundo álbum. Se a bonecada de Jamie Helett veio para ficar, na produção sai Dan the Automator e entra Danger Mouse - contrapartida acordada entre o produtor e a EMI na sequência do processo de The Grey Album, o controverso mashup entre White Album dos Beatles e Black Album de Jay-z. Ao ser menos acessível e festivo do que a estreia, Demon Days prova que os Gorillaz sobrevivem a humores e produtores. O caldeirão hip hop, funk, soul, ajudado por convidados, muitos - Neneh Cherry, Roots Manuva, Ike Turner, Martina Topley-Bird, De La Soul, entre outros - mantém-se e, embora diferentes, os Gorillaz triunfam num segundo excelente álbum.

[Os melhores álbuns de 2005] 28º - Queens of the Stone Age - Lullabyes to Paralyze


Peguemos nas palavras de Nick Oliveri, pouco antes da edição de Lullabies to Paralyze: "já o ouvi e é um bom álbum, mas estava à espera de um regresso às origens - um disco de guitarras mais pesadas". Assim sendo, caso Oliveri não tivesse sido despedido da banda por mal comportamento, os dois elementos mais importantes dos Queens of the Stone Age, colegas, amigos, irmãos, o próprio Oliveri e Josh Homme, teriam provavelmente chegado ao ponto das diferenças criativas. Que disco seria Lullabies to Paralyze, caso Oliveri tivesse feito parte do processo? Provavelmente, mais linha de baixo, menos linha de baixo, seria o mesmo - por mais que a soma das parte fizesse um todo magnífico, Homme sempre foi o cérebro da banda. Até "I Never Came", ou seja, durante as oito primeiras faixas, a linha é, mais coisa menos coisa, a de Songs for the Deaf. A partir de "Someone's Wolf" explora algum psicadelismo assegurando uma das linhas que sempre orientou Homme: a constante mudança de som.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 29º - Vashti Bunyan - Lookaftering



A grande diferença de Just Another Diamond Day, de 69, para este Lookaftering, de 2005, estará na experiência, na vida de Vashti Bunyan, e não tanto nas canções. A voz não envelheceu significativamente, as canções não mudaram, as histórias sim, são de uma mulher vivida. A história, bonita: disco editado no final da década de 60 que não vendeu, mas, no início da primeira década do século XXI, atingiu um estatuto de culto junto da afamada freak-folk, de Devendra Banhart a Joanna Newsom, passando pelos Animal Collective. São canções de uma folk sem tempo, que poderiam ser editadas hoje, há dez ou há 46 anos. Uma bonita história, a da calejada Vashti Bunyan.

[Os melhores álbuns de 2005] 30º - The Rosebuds - Birds Make Good Neighbours


Há coros à Funeral dos Arcade Fire logo na canção de abertura, "Hold Hands and Fight", mas este casal (Ivan Howard e Kelly Crisp) indie é de outra estirpe. Birds Make Good Neighbors procura a perfeição, mas é mais negro que a estreia dos Rosebuds, o explicito The Rosebuds Make Out. Assumamos então que na estreia, ainda se estavam a conhecer e agora, casados, encontram as dificuldades a que o matrimónio obriga. Bem resolvidos estavam neste segundo disco.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O que aconteceu na semana de 30-11-2005?


Notícias: 

- Os Grateful Dead pedem ao website archive.org para parar de disponibilizar concertos gravados pelos fãs para download gratuito. Os fãs protestam, acusando a banda de traição, recordando que os próprios Grateful Dead sempre encorajaram os fãs a gravar os concertos e a trocar cassetes e CDs de borla.

- Lil Wayne actua com Robin Thicke (pré-"Blurred Lines) no Tonight Show.



- dEUS actuam na Aula Magna e ao Pavilhão Atlântico sobem os Black Eyed Peas, que celebram a vitória do Sport Lisboa e Benfica perante o Manchester United.


Disco da Semana: 

Korn - See You on the Other Side

A mudança vinha sendo anunciada há algum tempo, mas só se confirmaria com este See You on the Other Side. Basta olhar para os créditos: com The Matrix (Avril Lavigne, Britney Spears, uma armada pop no CV) e Atticus Ross (Nine Inch Nails) na produção, e sem Brian "Head" Welch na guitarra. E depois, o vídeo de "Twisted Transistor", com Xzibit, Lil Jon, David Banner e Snoop Dogg como protagonistas, profanação para os fãs metaleiros, enterro com pompa e circunstância do finalmente proscrito nu-metal. Nota-se a influência dos Nine Inch Nails, os apontamentos industriais percorrem o disco que é longo, demasiado longo. É o início da fase mansa dos Korn que, mais tarde, haveria de acabar no dubstep. Percebe-se a necessidade de mudar, mas está aqui o início da caminhada para a irrelevância da banda de Jonathan Davis.



Outras Edições:

Lil Wayne - The Carter II
White Stripes - Walking With a Ghost 
Eminem - Curtain Call: The Hits
Lindsay Lohan - A Little More Personal (Raw)

Citações com dez anos: 

- "Acabámos de comprar uma velha igreja [Presbiteriana] a Sul de Montreal e vamos transformá-la no nosso estúdio de gravação." (Tim Kingsbury, guitarrista dos Arcade Fire)

- “O que a MTV me obrigou a cortar, destruiu por completo a narrativa do vídeo. [A censura] afectou-me de tal maneira que tive que retirar o meu nome dos créditos." (Michael Palmieri, realizador do vídeo de "Juicebox", dos The Strokes)



"Dizemos quase sempre que não. O assistente da Madonna veio à Suécia e mostrou-nos a canção. Soou-nos tão "catchy" que eu e o Benny [Andersson] dissemos logo "Sim". (Bjorn Ulvaeus, 1/4 dos ABBA)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

[Jukebox de há dez anos] Jimmy P


É um dos grandes em Portugal e trata o hip hop, a soul e o r&b por tu. Prova-o no disco que editou já este ano, FVMILY F1RST. O sempre disponível Jimmy P escolheu os seus discos de 2005.

Os discos mais importantes de 2005 para Jimmy P:

Kanye West - Late Registration



Lil Wayne - The Carter II


The Game – The Documentary



Gorillaz – Demon Days



Morgan Heritage – Family and Friends, Vol. 2



Coldplay – X & Y



50 Cent – The Massacre



Faith Evans – First Lady



Amerie – Touch



Public Enemy – Rebirth of a Nation 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O que aconteceu na semana de 22-11-2005?


Notícias: 

- Take That reúnem-se, mas sem Robbie Williams;

- Akon actua no Pavilhão Atlântico e WhoMadeWho actuam no Sabotage Club;

- São anunciadas as entradas de Black Sabbath, Sex Pistols e Blondie no Rock and Roll Hall of Fame. O evento viria a acontecer em 2006;

- Depois de ter adiado o concerto, Missy Elliott cancela definitivamente a data agendada para 10 de Dezembro no Pavilhão Atlântico;

Disco da Semana:

The Darkness - One Way Ticket to Hell... and Back 

O seu a seu dono: os Darkness foram um fenómeno singular. Têm o mérito de ter feito acontecer um disco, uma ideia e um som, com décadas de atraso. Em 2005, os Nirvana já há muito tinham enterrado o hair metal e relegado os Guns' n' Roses para a última grande seca - culpa aqui também para os próprios Guns que aborreceram os fãs com o duplo Use Your Illusion. Mas seguindo: em 2005, os Darkness não eram tão maus como muitos queriam fazer crer, nem significavam uma uma nova linhagem hardrock, como, aliás, sabemos hoje. A estreia Permission To Land é um conjunto de "guilty pleasures" e potenciais hits que nos anos 80 teria vendido dezenas de milhões e em 2005 vendeu milhões. Então, qual o motivo para One Way Ticket To Hell... and Back ter sido um falhanço a toda a linha? Simples: é mais complexo (Roy Thomas Baker, produtor dos Queen, pode ter sido o responsável), ou seja, mais chato, e não tem melodias tão boas com a estreia. É só isto, mas faz uma inacreditável diferença. Irónico que o título tenha servido de premonição para o que se seguiu: Justin Hawkins afogou-se em drogas e recorreu a clinicas de reabilitação (ele que passava dias a referir-se a Pete Doherty como um junky) e o falhanço comercial e crítico. Só recentemente, em 2011 regressariam do inferno, com uma digressão e, depois, dois discos. Curiosidade: o álbum foi disponibilizado no Myspace (que descanse em paz) dois dias antes da edição física.

Outras Edições:

INXS - Switch 
Chris Brown - Chris Brown 
Shakira - Oral Fixation Vol. 2
Linda Martini - Linda Martini EP
If Lucy Fell - You Make Me Nervous
Teresa Salgueiro - Obrigado

Citações com dez anos: 

- "Não sou a favor de quem sai com uma faca, mesmo quem apenas a usa para se defender. A melhor forma de te defenderes é correndo que nem um desalmado." (Alex Kapranos, referindo-se ao facto ser comum em Glasgow sair de casa com uma faca)

- "Teria todo o prazer em fazê-lo mais vezes." (Roger Waters, em relação à reunião dos Pink Floyd no Live 8)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O que aconteceu na semana de 15-11-2005?


Notícias: 

- Salvatore Acquaviva, um desconhecido escritor de canções belga, ganha o caso em que acusa Madonna de o ter plagiado em "Frozen". A canção da Rainha da pop ficava então proibida de ser transmitida ou vendida na Bélgica.



- Coldplay e Busta Rhymes actuam no Pavilhão Atlântico, Sigur Rós e Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra no Coliseu dos Recreios, Mercury Rev no Centro Cultural de Belém, Donavon Frankenreiter na Aula Magna e Boney M. e Vllage People na Noite Disco Fever.

Disco da Semana:

System of a Down - Hypnotize

Em 2005, o duplo Mesmerize/Hypnotize soou a uma enorme injustiça para com Daron Malakian, ele que terá sido o grande responsável por tudo o que ouvimos aqui. Os fãs adoram-no, mas os críticos apontam: devia ter continuado de boca fechado, tem demasiado protagonismo nesta ambiciosa investida. Percebemos que prefiram ouvir Serj Tankian, claro, é incomparavelmente melhor voz, mas Malakian não se sai assim tão mal e as baboseiras que vai cuspindo acabam por contribuir para uma das características que contribui para a impressão digital dos System of a Down (SOAD): humor. Independentemente das muitas coisas políticas que são ditas em Mesmerize e Hypnotize, o humor é omnipresente. E quanto mais estapafúrdio, mais político. É o último disco dos SOAD e nem vale a pena referir o nu-metal que a determinada altura lhes foi associado. Hypnotize mistura vários estilos sim, como o punk de "Kill Rock 'n Roll" e o trash metal de "Attack", passando por baladas como "Lonely Day". O ambicioso passo acabou por ser bem medido, os dois discos separados por seis meses acabaram por lhes dar protagonismo ao longo dos 12 meses de 2005. Dominaram o ano.



Outras Edições: 

Fort Minor - The Rising Tied 
Bonnie Prince Billy - Summer in the Southeast 
Mike Ladd - Father Divine
Chamillionaire - The Sound of Revenge
Queens of the Stone Age - Over the Years and Through the Woods

Citações com dez anos:

- "Ouvi uma voz na minha cabeça que dizia: "fá-lo, fá-lo, fá-lo!". E, quando [Lennon] passou por mim, puxei a arma, apontei as costas dele e apertei o gatilho 5 vezes." (Mark Chapman, assassino de John Lennon)

- "Antes de mais, [o Pete Doherty] não faz rock. Em segundo lugar, ele só vende discos porque as pessoas têm curiosidade em saber a que soa um junkie." (Justin Hawkins, vocalista dos The Darkness)

- "Estamos a ficar sem coisas para fazer, sem sítios para tocar e sem ar para respirar. Ainda assim, sentimo-nos melhor do que nunca." (Jack White, sobre os The White Stripes)

Obituário: 

- Link Wray, o inventor do power chord, morre aos 76 anos, em Copenhaga. devido a insuficiência cardíaca.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O que aconteceu na semana de 09-11-2005?


Notícias: 

- Underworld dão início ao The RiverRun Project, com o "Lovely Broken Thing", o primeiro de vários registos editados online. A banda refere que "a ideia será apresentar uma alternativa ao modo tradicional de editar novo material".


- Devendra Banhart actua na Aula Magna e Patrice no Coliseu dos Recreios.

Disco da Semana: 

Madonna - Confessions on a Dancefloor

Depois de, American Life, disco político relativamente falhado, Madonna "fecha-se" no estúdio caseiro de Stuart Price, homem com credenciais na área techno, que ajuda a Rainha a desenhar nova metamorfose com a máquina do tempo apontada para a década em que a artista foi mais feliz: 1980. Mas, curiosamente, arranca na de 70, com o grande acontecimento e, provavelmente, principal motivo pelo qual Confessions on a Dancefloor será lembrado: o sample de "Gimme! Gimme! Gimme!", dos Abba. O acontecimento é isso mesmo, um verdadeiro acontecimento, porque os Abba raramente cedem a este tipo de pedidos, mas a admiração é mutua e os suecos lá terão cedido à carta que a cantora fez questão de remeter para a Escandinávia. É então uma Madonna em estado de graça, uma última vez, a escalar topes, antes do bloqueio criativo que a faria imitar as novas princesinhas (ou não) da pop, as que vão capitalizando a Internet. Com o tempo, Madonna foi premeditando as suas mudanças, já aqui o fazia. Mas aqui fazia-o bem.




Outras Edições: 

- Bright Eyes - Motion Sickness
- Sun Kil Moon - Tiny Cities
- Menomena - Under an Hour
- Jack Rose - Kensington Blues
- The Mars Volta - Scrabdates
- P.O.D. - The Warriors EP, Volume 2
- Babyshambles - Down in Albion
- Green Day - Bullet in a Bible

Citações com dez anos: 

- "Comprei o nosso próprio álbum a um tipo que o estava a vender no eBay por 350 libras. Está codificado, pelo que vamos descobrir de onde vem o leak. Quem o fez, não sairá impune." (Justin Hawkins, vocalista dos The Darkness)

- "Não me interpretem mal, eu até gosto um bocadinho dos Franz Ferdinand e dos Kaiser Chiefs, mas os Bloc Party são terríveis. Nenhum deles está a tentar ser a melhor banda do mundo, é apenas lixo indie." (Noel Gallagher)

- "Temos uma relação muito boa. As pessoas gostam de me imaginar a mim e ao Paul McCartney num ringue de boxe, a destruir-nos um ao outro. De outra forma, torna-se desinteressante. As mesmas pessoas fazem-no para escapar ao mundo horroroso que habitam." (Yoko Ono)

- "Vamos levar o nosso tempo, este ano foi enorme para nós e será bom medir o que nos aconteceu, ao invés de avançar já para um novo álbum à pressa." (Billie Joe Armstrong)

- "Achamos que será um daqueles discos seminais da história musical britânica." (Drew McConnell, baixista dos Babyshambles, sobre o disco que se preparavam para editar "Down in Albion")

- “É facilmente o nosso melhor material e, paralelamente, o mais áspero. É agressivo, mostra o que é ser Americano nos dias que correm." (Eddie Vedder, sobre um novo álbum dos Pearl Jam)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

[Jukebox de há dez anos] Lisbon Kid


A ultimar o álbum de estreia, os Lisbon Kid acabam de assinar pela histórica (21 anos é imenso tempo) Wall of Sound e tiraram uns minutos para preparar esta lista.

Os discos mais importantes de 2005 para os Lisbon Kid:

LCD Soundsystem - LCD Soundsystem



Caribou - The Milk Of Human Kindness



Gorillaz - Demon Days


The White Stripes - Get Behind Me Satan



Sigur Ros - Takk



Telepopmuzik - Angel Milk



Vitalic - OK Cowboy



M83 - Before The Dawn Heals us



Daft Punk - Human After All



The Books - Lost And Safe

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O que aconteceu na semana de 02-11-2005?


Notícias/Concertos: 

- Para combater a pirataria, a Sony usa o Extended Copy Protection (XCP), um sistema amplamente criticado por correr o risco de causar problemas aos computadores. O sistema não era detectável pelos anti-virus e não possuía "uninstall".

- The Rasmus actuam no Hard Club, The Young Gods na Aula Magna e Mike Ladd em Serralves.

Disco da Semana: 

Kate Bush - Aerial

Se dez anos é muito tempo, imaginem lá 12. Kate Bush não dava notícias desde 1993, estávamos mais ou menos no coração do grunge, ainda não tínhamos sobrevivido ao nu-metal e às girls/boys bands. Kate Bush deixa-nos no ano de In Utero, dos Nirvana, e regressa poucos meses depois de Funeral, dos Arcade Fire. É muito, muito tempo. Coincidentemente, uma das suas mais naturais descendentes, Fiona Apple, regressava de um hiato de seis anos (até no tempo que nos deixam na sala de espera têm pontos de contacto), com Extraordinary Machine. Mas do que nos queixamos? Com este épico Aerial, Bush tira a barriga de miséria aos fãs, são mais de 80 minutos e dois discos - acto de quem se está nas tintas para uma indústria discográfica que já demonizava aventuras deste género. Parece que o tempo não passou por ela. O primeiro disco é de canções, ao piano, com guitarras, não interessa, são canções de mulher feita, vivida. O segundo é um épico de 40 minutos tão onírico  e imprevisível (elogio) quanto lhe sugere o título.


Outras edições: 

A-Ha - Analogue 
Akron/Family - Akron/Family & Angels of Light 
Test Icicles - For Screening Purposes Only
Limp Bizkit - Greatest Hitz 
VA - Get Rich or Die Tryin': Music from and Inspired by the Motion Picture 
Sepultura - Live in São Paulo 
Scooter - Who's Got the Last Laugh Now?

Citações com dez anos: 

- Não quereria que usassem uma canção já escrita num anúncio, mas deram-me a oportunidade de escrever [um original e] senti-me inspirado". (Jack White, em relação à canção que escreveu para a Coca-Cola)


- "Não tenho culpa que a carreira dele a solo seja uma bosta e que fique com inveja daquilo que o Ozzy [Osbourne] fez." (Kelly Osbourne, depois de Bruce Dickinson acusar Ozzy Osbourne de sabotar o set dos Iron Maiden no Ozzfest)

- "Odeio a ideia, mesmo quando a estou a propor, mas a única maneira de lidar com a heroína é legalizando-a." (Lemmy)

- "[O segundo disco dos The Libertines?] Não tive nada a ver com isso." (Pete Doherty)

- "A "Give'er" conta com o Josh [Homme] na guitarra. É um solo que eu poderia tocar, mas nunca o poderia fazer como o Josh." (Peaches)


- A nossa estreia saiu há menos de um ano e lembramo-nos de estar a tocar num clube para apenas 20 pessoas. No dia seguinte, estamos a tocar com o David BowieI. Que ano incrível." (Win Butler)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

[Semana 26-10-05] Los Hermanos editam "Quatro"


Quatro é o último disco dos Los Hermanos e, voltando a ele, é difícil perceber o porquê de terem sido uma banda polarizadora: não se ama ou odeia Los Hermanos, só se ama. Porque eram bons. Muito bons. Resultavam de duas personalidades distintas, mas igualmente talentosas: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, o primeiro mais preocupado com as melodias, o segundo mais dedicado às letras. E, olhando para as discografias pós-Los Hermanos, podemos concluir que Camelo tinha as ideias mais arrumadas. Sou, de 2008, ditou o caminho que haveria de seguir até hoje, à Banda do Mar. Rodrigo Amarante tentou o inglês dos esquecidos Little Joy, algo estranho para quem compõe tão bem em português, e só em 2013 se voltou a notabilizar com o fenómeno "Youtubiano" Cavalo. Quatro será o disco mais intimista da banda, bandeira da Nova MBP. Mas não vale a pena colá-los ao que os originais fizeram nos anos 60 e 70. O que Los Hermanos fizeram foi especial, independentemente da inspiração de mestres como Chico ou Caetano.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

[Semana 26-10-05] Arab Strap editam "The Last Romance"


A um nível temporal, os Arab Strap são um hino a este blog: duraram precisamente dez anos. Este The Last Romance tem título premonitório e seria de facto o canto do cisne dos escoceses. Terminaram numa altura em que a cena local voltava a estar nas bocas do mundo via Franz Ferdinand. E, pegando numa referência da banda de Alex Kapranos, o duo composto por Aidan Moffat e Malcolm Middleton reclamava: "Take Me Out". Deixem-me fora, da cena, do hype, da moda. Meses antes da edição, os dois Arab Strap já revelavam desentendimentos: Malcolm queria um disco mais negro, Moffat preferia-o visceral. O segundo acabou por ganhar, mas, com o desentendimento e apesar dos bons resultados deste disco, a música ficaria a perder com o fim da banda. Estas canções continuam a descrever relacionamentos falhados, de um modo cáustico. A diferença é o próprio Moffat que a nota: "é um pouco mais acelerado, mas continua a lidar com o lado negro das relações. É como o lado negro da série Star Wars - mais rápido e mais sedutor."

sábado, 31 de outubro de 2015

O que aconteceu na semana de 26-10-2005?


Notícias:

- Os MTV EMAs acontecem pela 1ª vez em Lisboa.


- Antony And The Johnsons actuam no Coliseu dos Recreios, Seu Jorge na Aula Manga e Steve Vai na Casa da Música.

- Boss AC estreia o vídeo de "Hip Hop (Sou Eu e És Tu)" na PlayStation. Podia ser encontrado no menu de opções da Playstation Portátil, da Sony.


- Green Day levam os 9 minutos de "Jesus of Suburbia" ao Top of the Pops, tornando-se esta a actuação mais longa da história do programa.


- Ryan Adams actua no Late Show with David Letterman.


- Bob Geldof é nomeado Nobel Man Of Peace 2005.

Disco da Semana:

Wolfmother - Wolfmother 

Está longe de ser uma pedrada no charco, a estreia dos Wolfmother, mas não deixa de ser um dos melhores discos rock de 2005. O potencial radiofónico de Wolfmother prometia-lhes arenas cheias, não fosse o power trio desentender-se demasiado depressa. Riffs cantaroláveis e melodias redondas que resultavam em canções pop (sim, pop) claramente influenciadas por monstros como Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath e até, de forma, arriscamos, involuntária, White Stripes. Enquanto os Darkness prometiam o melhor disco de hardrock dos últimos muitos anos, os Wolfmother lembravam-nos que a Austrália, de tempos a tempos, oferece-nos uma belíssima banda de rock' n' roll sem espinhas - AC/DC e Tame Impala à cabeça. E a verdade é que os Wolfmother parecem ter vindo de uma máquina do passado, pois ninguém faz um disco assim sem ter perfeita noção que não se pode divorciar das suas influências.


Outras Edições: 

Rammstein - Rosenrot 
Carlos Santana - All That I Am 
Slipknot - 9.0: Live
Blink 182 - Greatest Hits
Sun Kil Moon - Tiny Cities
Deep Purpke - Rapture of the Deep

Citações com dez anos: 

- “Decidi tentar o celibato, pois ouvi dizer que ajuda na meditação e tentei a meditação porque disseram-me que ajudaria com a música." (Rivers Cuomo, líder dos Weezer)

- "Será a preto e branco e um pouco estranho, o que de certa forma é normal acontecer nos meus vídeos. Terá também um toque Série B." (Anton Corbijn, sobre o vídeo de "Talk", realizado para os Coldplay)


- "Se formos os Kaiser Chiefs do próximo ano, desisto [dos Arctic Monkeys]. Suponho que tenham vendido imensos discos, mas não gosto deles. São um bocado chatos." (Alex Turner)

- "A fama é um grande mito da nossa sociedade. Quase parece uma coisa em que tens que crer [para te sentires bem]. É como creres que vai para o paraíso, como dizeres para ti mesmo: "sou famoso, tudo vai ficar bem". (Jarvis Cocker)

- "As letras têm um toque romântico." (Marilyn Manson, anunciando um novo álbum, "The Golden Age Of Grotesque") 

[Semana 19-10-05] Danger Doom editam "The Mouse and the Mask"


MF Doom vinha coleccionando alteregos, Viktor Vaugh, em 2003, o(s) magnifico(s) Madvillainy, partilhado com Madlib, em 2004, e, como MF Doom, MM...Food, álbum conceptual sobre... Comida. Danger Mouse chegava com Guetto Pop Life, álbum de estreia de 2003, e o polémico/seminal The Grey Album, importantíssimo na forma como levantou a discussão dos direitos de autor. Já em 2005 haveria de produzir Demon Days dos Gorillaz - "castigo" aplicado pela EMI para fazer esquecer a "cowboyada" de The Grey Album. Danger Doom, portanto, registo quase 100 por cento inspirado em cartoons do canal televisivo Adult Swim. Danger Mouse como especialista em música de e para bonecada. The Mouse and the Mask é uma viagem psicadélica que, como de costume no trabalho de Doom, está carregada de referências e das temáticas favoritas do rapper: cinema, séries de TV (óbvio) e comics. As colaborações, à parte de Ghostface Killah, pouco acrescentam e é certo que o disco sobreviveria perfeitamente sem elas. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

[Semana 19-10-05] Kiss Me Deadly edita "Misty Medley"


Não é claro o porquê dos Kiss Me Deadly (homenagem a um livro/filme noir de 1955) não terem sobrevivido. Hipótese: honestidade, é esta a palavra que descreve a banda de Misty Medley, a entusiasmante estreia da banda de Montreal. A mesma honestidade que se começa a revelar no nome do disco para se espelhar nos títulos das canções - "groove", "pop", "ballads" ou a série de quatro "dances" - e na forma óbvia como coloca as referências, com os U2 à cabeça. Um discos de guitarras, sim, mas a apontar para a anca - chegaram a ser catalogados de pós-rock, mas o selo assusta mais do que cola. Regressemos ao início deste texto, ao porquê de não terem sobrevivido, à honestidade: é que o filme a quem "roubam" o título acaba de forma dramática. Fica a obra.

sábado, 24 de outubro de 2015

O que aconteceu na semana de 19-10-2005?


Notícias: 

- "I Bet You Look Good On The Dancefloor" chega ao nº 1 do TOP de singles britânico.



- The Mission actuam Garage, em Lisboa, e no Hard Club, no Porto.

- "Playing the Angel" dos Depeche Mode destrona "D'zrt" dos D'zrt, da 1º lugar do Top de discos.

- Stevie Wonder actua no Ellen DeGeneres.



Disco da Semana:

Vashti Bunyan - Lookaftering

A grande diferença de Just Another Diamond Day, de 69, para este Lookaftering, de 2005, estará na experiência, na vida de Vashti Bunyan, e não tanto nas canções. A voz não envelheceu significativamente, as canções não mudaram, as histórias sim, são de uma mulher vivida. A história, bonita: disco editado no final da década de 60 que não vendeu, mas, no início da primeira década do século XXI, atingiu um estatuto de culto junto da afamada freak-folk, de Devendra Banhart a Joanna Newsom, passando pelos Animal Collective. São canções de uma folk sem tempo, que poderiam ser editadas hoje, há dez ou há 46 anos. Uma bonita história, a da calejada Vashti Bunyan.

Outras Edições:

Mesa - VItamina
David Fonseca - Our Heart Will Beat as One
Robbie Williams - Intensive Care
Lightning Bolt - Hypermagic Mountain
We Are Scientists - With Love and Squalor
DJ Muggs Vs. GZA - Grandmasters
The Fiery Furnaces - Rehearsing My Choir

Citações com dez anos:

- "Tive que enviar o meu mensageiro até Estocolmo, com uma carta e a canção, implorando-lhes e referindo o quanto venero a sua música." (Madonna, referindo-se ao sample de "Gimme, Gimme, Gimme" dos Abba)



- "Acho que [antes de um novo álbum] vamos editar um EP, algures no final deste ano." (Damon Albarn, sobre o futuro dos Blur)

- "O mais absurdo é que não é nada do que eles dizem ser. A canção não é sobre Isaac Luria. Não sei nada sobre Isaac Luria, nunca poderia escrever sobre ele. Chama-se "Isaac" porque o homem que a canta chama-se "Isaac". (Madonna e a polémica relativa à canção "Isaac")



- "Chegámos ao fim de duas semanas de sessões [de gravação]. É tudo uma bosta, vamos separar-nos. Estamos ultrapassados, acabados. Estou a brincar, claro. Foi divertido." (Thom Yorke)

sábado, 17 de outubro de 2015

[Semana 12-10-05] Fiona Apple edita "Extraordinary Machine"


Fazer sair Extraordinary Machine sair foi um cabo dos trabalhos. Fiona Apple não editava há meia dúzia de anos e até aqui zero surpresas pois, mais ano menos ano, esta é a regularidade com que nos oferece um disco. A novela centra-se nos últimos três, primeiro com Jon Brion, produtor do anterior registo, o do título imenso, de 444 caracteres. A editora terá rejeitado por não ser suficientemente comercial, a mais velha história de todas. Decidiu-se regravar tudo com o produtor Mike Elizondo, escolha surpreendente pois era conhecido pela sua colaboração com Dr. Dre e sus muchachos Eminem ("Just Lose It") e 50 Cent ("In Da Club"). Não podemos comparar as duas versões porque não ouvimos a primeira, mas diz quem ouviu tudo vezes sem conta que esta última, a definitiva, soa muito melhor. Enredos novelescos à parte, Extraordinary Machine é um disco de voz e piano com vários apontamentos jazz. Nada de novo, portanto, relativamente aquilo que já ouvimos há década, não fosse toda a idiossincrasia inerente Apple, personagem sui generis, que na altura se separava de Paul Thomas Anderson, seguramente inspiração para algumas das letras que aqui escutamos.