quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 1º - M.I.A. - Arular


"London, quiet down I need to make a sound. New York, quiet down I need to make a sound. Kingston, quiet down I need to make a sound. Brazil, quiet down I need to make sound". Arranca assim "Bucky Done Gun" (saudades deste Diplo?), um dos singles mais fortes de Arular. Está tudo aqui: o grime londrino - que, na altura, ainda vivia tempo excitantes com Dizzee Rascal e The Streets em topo de forma -, o hip hop nova-iorquino, o dub de Kingston e o baile funk brasileiro. M.I.A., um O.V.N.I. que, encorajado por Peaches, criou um álbum cujos beats base feitos numa Roland MC-505 - uma artista de quarto antes da propagação da espécie? - e politicamente inspirada nos tempos difíceis que terá viveu no Sri Lanka - o título é inspirado num nome código político usado pelo pai de M.I.A.: Arul Pragasam. Do título às letras é, portanto, justo referir que Arular é tremendamente influenciado pelo pai. Mais tarde viria a dizer que a cena punk londrina também teve uma grande influência no disco: dos Clash a Malcolm McLaren. Muito de vez em quando lá vem um álbum como Arular, complexo, que começa na capa e termina muitos anos mais tarde. Já o podemos classificar como clássico?

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 2º - Kanye West - Late Registration


Com Late Registration, Kanye consegue aquilo que nem Jay-z, nem Nas conseguiram: um segundo álbum ao nível da estreia. West admitira: "College Dropout tem coisas que foram feitas à pressa". Este não, seria à prova de bala, não fosse o magnífico produtor um rapper mediano. Em 2005, o ego já se manifestava, mas este é um Kanye mais humano - "Roses", por exemplo, é sobre a quase morte da avó e "Hey Mama" é um agradecimento à mãe. Lembramo-nos dos discos mais recentes e da forma como West vai potenciando as suas colaborações, Late Registration já tem isso: os versos do estreante Lupe Fiasco, do chefe Jay-z e do ex-arqui-inimigo Nas são pérolas ao nível da produção do West. "Sempre quis fazer um som que parecesse que estou a rappar do alto de uma montanha", dizia, como no vídeo de "Touch the Sky", com Pamela Anderson, em que a personagem de West acaba por se despenhar. Não é mais do que isso, um vídeo, pois Kanye, o polarizador, continua lá no alto da montanha.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 3º - Quasimoto - The Further Adventures of Lord Quas


Sempre que pensamos que Madlib abandonou Quasimoto (ou Lord Was ou Quas), ele regressa ao projecto. The Further Adventures Of Lord Quas é apenas o segundo álbum e chega cinco anos depois do primeiro, Unseen. Em 2013, assistimos ao surpreendente regresso com Yessir Whatever. Quer isto dizer que, mesmo que Madlib decida encostar o projecto durante os próximos dez anos, o melhor é não assumir que está enterrado. Quasimoto é apenas mais uma das muitas personagens do rapper e produtor, o equivalente a um shuffle de samples, ideias, letras e ritmos, soa a alguém facilmente se aborrecível a mexer no sintonizador de frequências de rádio. Para desfrutar plenamente é necessário tempo, ou no final o que vos ficará será apenas um tratado soul e funk de um "rapper" com voz de hélio. No final é tentar perceber porque é que um jornalista do New Musical Express deu um 2 numa escala de 1 a 10 a um disco destes - demasiado ocupados a ouvir a estreia dos Bloc Party?

domingo, 27 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 4º - Antony and the Johnsons - I am a Bird Now


Podemos perder-nos em eventuais metáforas relativamente ao título e identidade do artista Antony Hegarty. "Sou um artista, um animista, transgénero, ateu e um mamífero", esclareceu em entrevista à Out, sete anos depois. Mas I Am a Bird Now não é apenas um enorme desabafo de Hegarty, é o disco mais emocional desde... bem, desde Funeral dos Arcade Fire, editado meses antes. Os vários convidados - alguns andróginos, todos singulares - Boy George, Lou Reed, Rufus Wainright e Devendra Banhart - dão uma ajuda numa obra que tem muito de poética e que se baseia essencialmente na voz e piano, quase jazz, muito Nina Simone. Se não choraram ao ouvi-lo são bem capazes de não ter coração.

sábado, 26 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 5º - Sufjan Stevens Illinois


Illinois é o último álbum dedicado a um estado norte-americano, no âmbito do 50 State Project, premissa-brincadeira que Sufjan Stevens nunca se esforçou por cumprir, mas que chamou para si a atenção de muita gente. Mas que nada disto aliene a qualidade do trabalho de Sufjan que, com este 5º de originais chegou a muito mais gente. A viagem é épica, de mais de duas dezenas de canções (com títulos sem fim), instrumentos e músicos, constantes mudanças de direcção e harmonias, muitas. Tudo à grande. E à americana.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 6º - Devendra Banhart - Cripple Crow


Cripple Crow sucede os duplos projectos discográficos de 2002 (The Charles C. Leary e Oh Me Oh My) e 2004 (Rejoicing Hands e Niño Rojo) e confirma Devendra Banhart como um dos mais brilhantes escritores de canções da sua geração. A capa a la Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band antecipa a aventura épica de 22 canções, recheada de colaboradores e que bebe dos quatro cantos do mundo, Portugal incluído na célebre "Pensando Enti". Mais Cripple Crow é muito mais, é uma homenagem aos aos 50 (bossa nova, o Brasil) e 60 (a folk, os Beatles, Nick Drake, a pose hippie, John Fahey). É a maturidade aos 24, até ver insuperável.

[Os melhores álbuns de 2005] 7º - The Mars Volta - Frances the Mute


Não admira que Frances the Mute tenha sido recebido de forma pouco consensual - é um disco complexo, fora de tempo, diferente de tudo o que se fazia na altura e sem o efeito surpresa que acompanhou De-Loused in the Comatorium. Tanto louvores como apupos provêm do mesmo factor: complexidade técnica. Os que os defendem referem o virtuosismo, os que os atacam reclamam com a produção balofa e o puro exibicionismo. Rock sinfónico e psicadélico, música latina, música clássica e jazz. John Frusciante na guitarra, Flea no trompete e Larry Harlow, pianista de salsa nas teclas. Um disco louco, mas que ainda assim carrega a mais acessível canção do catálogo dos Mars Volta: "The Widow". Tem um refrão, imagine-se.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 8º - LCD Soundsystem - LCD Soundsystem


Em 2001, quando fundou a DFA, James Murphy virava trintão. Pouco depois, quando lança o single "Losing My Edge", tem 31. Em 2005, quando este muito antecipado homónimo chega às lojas já conta 34. Nunca encaixou nas premissas de uma estrela pop - demasiado peso, demasiado recatado e, pelo menos aparentemente, demasiado desajeitado, James Murphy é o herói indie improvável, chave mestra para aquela espécie de revolução que haveria de se seguir. O electroclash perde popularidade, a frente ofensiva da DFA tem os Rapture de "House of Jealous Lovers" em estado de graça e é a nova grande cena. LCD Soundsystem faz a ponte entre aquilo que os putos alternativos gostavam na altura - o pós-punk dos Bloc Party e Franz Ferdinand, o garage dos White Stripes e o rock dos Strokes - e a música de dança que, três anos depois, haveria de aprimorar e transformar numa obra-prima chamada Sound of Silver. Cerca de seis anos depois da estreia, Murphy, sabemos hoje, matou o projecto que "obrigou" os miúdos indie a dançar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 9º - System of a Down - Mesmerize / Hypnotize


Mezmerize é metade de um plano que só acabaria no outono, com a edição de Hypnotize, aquele que acabaria por ser o último disco dos quatro arménio-americanos. Mezmerize é brutal, político, jocoso. Basta olhar para essa bomba que é "B.Y.O.B.", canção e vídeo - e pensar que vivíamos a reeleição de George W. Bush. O misto de influências que resulta num som genericamente catalogado de metal e a química entre Serj Tankian e Daron Malakian são impressão digital de uma banda que entra para aquele rol de poucas que conseguiu não errar. Por vezes, parece que estão a gozar, que não se levam a sério, que Mezmerize não passa de um testemunho tonto daquilo que lhes vai na cabeça. Mas não. Isto é a sério e muito sério. É uma denúncia feita por uma das mais influentes bandas da altura.

Com Hypnotize confirmava-se: o álbum duplo soou a enorme injustiça para com Daron Malakian, ele que terá sido o grande responsável por tudo o que ouvimos aqui. Os fãs adoram-no, mas os críticos apontam: devia ter continuado de boca fechado, tem demasiado protagonismo nesta ambiciosa investida. Percebemos que prefiram ouvir Serj Tankian, claro, é incomparavelmente melhor voz, mas Malakian não se sai assim tão mal e as baboseiras que vai cuspindo acabam por contribuir para uma das características que contribui para a impressão digital dos System of a Down (SOAD): humor. Independentemente das muitas coisas políticas que são ditas em Mesmerize e Hypnotize, o humor é omnipresente. E quanto mais estapafúrdio, mais político. É o último disco dos SOAD e nem vale a pena referir o nu-metal que a determinada altura lhes foi associado. Hypnotize mistura vários estilos sim, como o punk de "Kill Rock 'n Roll" e o trash metal de "Attack", passando por baladas como "Lonely Day". O ambicioso passo acabou por ser bem medido, os dois discos separados por seis meses acabaram por lhes dar protagonismo ao longo dos 12 meses de 2005. Dominaram o ano.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 10º - Okkervil River - Black Sheep Boy


A cover de Black Sheep Boy, canção blues dos anos 60, da autoria de Tim Hardin, que inspira tudo o que se segue neste magnífico terceiro álbum dos Okkervil River, eles que se confundem com o vocalista e letrista Will Sheff. Quer isto dizer que tudo o que se passa em Black Sheep Boy tem a mão de Sheff que criou Black Sheep, uma criatura do fantástico que terá passado por muito tal como está retratado na capa do álbum. Inteligente nas letras, certeiro na música, Black Sheep Boy é mais um dos dignos representantes da ascensão da folk vivida na durante a primeira década dos anos 00.

domingo, 20 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 11º - Beanie Sigel - The B. Coming


The B. Coming tem tanto de magnífico como de surpreendente. O extremo cuidado da produção, o entusiasmo com que Beanie Sigel abraça cada canção e a verdade das letras. Sigel sabe do que fala, os problemas com a lei já tinha começado em 2002 quando foi detido por posse de armas. The B. Coming foi gravado entre as semanas em que foi considerado culpado de possa de arma e drogas e a sentença de um ano que acabou por cumprir. Um ano depois, já fora da prisão, haveria de ser atingido por vários disparos durante um assalto. Os problemas continuam, a obra fica. Esta é uma obra-prima - da criteriosa escolha dos produtores às quase 100 por cento certeiras colaborações vocais.

sábado, 19 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 12º - Roisin Murphy - Ruby Blue



Ruby Blue, o disco de estreia de Roisin Murphy a solo, é também um dos mais surpreendentes do ano. Depois de quase uma década a criar hinos para as pistas de dança - hinos como este este -, Murphy baralha as expectativas e, com Matthew Herbert na produção, cria um som dançável, sim, mas também com resquícios jazz e neo-soul. É Herbert o responsável pela ponte entre os Moloko (chegou a remisturar "Sing it Back") e este projecto a solo que usa objectos do dia-a-dia e cuja principal inspiração terá sido. segundo a própria protagonista, Spearkerboxx/The Love Below dos Outkast. É um dos álbuns mais audazes do ano.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 13º - The Bravery - The Bravery


Na mesma semana de novo álbum dos New Order, a estreia dos Bravery, eles que curiosamente pegam em alguns dos ensinamentos da banda de Manchester. Também envolveram-se numa guerra de palavras com os Killers - outros obreiros dessa causa que é o revivalismo 80s, com canções recheadas a sintetizadores e um vocalista cuja voz se confunde facilmente com a de Robert Smith dos Cure. Depois disto, tantos os Bravery como os New Order, por motivos distintos, haveriam de cair no esquecimento. 

[Os melhores álbuns de 2005] 14º- Clap Your Hands and Say Yeah - Clap Your Hands and Say Yeah


Há hoje uma certa nostalgia em relação ao tempo do Myspace e dos blogs, em que bandas como os Clap Your Hands and Say Yeah (CYHASY) já o eram antes de o ser. É natural: já não existe aquela ideia de que tu, comum mortal, podes encontrar a próxima grande cena, pois, entretanto, as centenas de webzines dedicadas à música independente (?) já o fizeram. Este disco homónimo acaba por confirmar o que os mais atentos vaticinavam, uma auspiciosa estreia. A voz quase imperceptível, mas com alguns (vários) pontos de contacto com a de Thom Yorke valeram-lhes algumas comparações aos Radiohead, outros apontavam os Joy Division, outros ainda os Flaming Lips. A verdade é que as comparações não foram consensuais, ou não fosse CYHASY um álbum com voz própria. O facto de não termos tido direito a réplicas - do 2º disco quase não reza a história - levou-os a que 2015 tenha previsto uma assinalável celebração - reedição e digressão incluídas. Celebremos então.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 15º- Magic Numbers - Magic Numbers


Enquanto muitos repescavam ideias do rock do início dos 80s, bandas como os Thrills, os Clientele e estes Magic Numbers procuravam escrever a canção perfeita. As duas primeiras chegaram muito perto nas belas, magníficas colecções de canções que ambas editaram em 2003. Agora, em 2005, é a vez dos Magic Numbers. Também é rock, também é saudosista, sim, mas torna-se refrescante por negar todos os caminhos que toda uma nova carruagem de bandas londrinas seguia na altura.

[Os melhores álbuns de 2005] 16º - Bloc Party - Silent Alarm


Janeiro de 2005. O termo hype ainda era muito (demasiado) usado para descrever aquelas bandas que com um single ou um EP prometiam ser a próxima grande cena. Foi assim que os Union, ou seja, os Bloc Party antes de serem os Bloc Party - foram promovidos à Premier League do rock britânico, à boleia de um EP cujo som, dizia-se, dançava entre os Strokes e os Gang of Four. E é aqui que Silent Alarm resolve-se: afasta-se do som dos Gang of Four e, mesmo não oferecendo nada de novo, apresentam um som singular, com os mais variados truques de produção (Radiohead) e o entusiasmo que não haveria de se repetir.

domingo, 13 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 17º - Kaiser Chiefs - Employment


Dois meses depois de Silent Alarm, nova folgorosa estreia num mercado britânico que tentava prolongar à força o momentum que a magnífica estreia dos Franz Ferdinand havia encetado cerca de 12 meses antes. O revivalismo pós-punk a produzir bandas como cogumelos e a imprensa britânica sob os comandos do New Musical Express com hype atrás de hype numa altura em que o termo ainda fazia sentido. A estreia dos Kaiser Chiefs é bem simpática, mas foi elevada a um estatuto que não é o seu. Foi um dos álbuns do ano para muito boa publicação que quis ver aqui os sucessores de uns Blur que estavam à beira do hiato que se prolongou até esta década. A verdade é que, mais quatro álbuns depois, os Kaiser Chiefs são encarados como a banda de um carismático Ricky Wilson que virou jurado de um talent show, o The Voice, que o alcunha de Mr. Puppy Dog Eyes.

[Os melhores álbuns de 2005] 18º - Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better


Ah, o difícil segundo álbum, a pressão imensa de ter de estar à altura da estreia - os Bravery e os Kaiser Chiefs, só para citar dois exemplo contemporâneos, haveriam de se espalhar mais tarde, mas os Franz Ferdinand não, desafiando convenções e convicções atiram-se de imediato ao 2º disco e despacham a conversa do antes é que eles eram bons. Não, em You Could Have It So Much Better eles são igualmente bons, igualmente entusiasmantes, dando mesmo a ideia que era fácil e a melhor banda pop britânica do novo século. Mais tarde, com as inevitáveis mudanças, haveriam de sofrer como os outros, mas até aqui, tudo era imaculado.

sábado, 12 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 19º - The Game - The Documentary


Na longa lista de mártires do hip hop não constam os nomes de 50 Cent e The Game. Ambos foram brutalmente alvejados antes de se lançarem como apostas pessoais de Dr. Dre. Afinal de contas, uma boa história é também uma excelente ferramenta de marketing. The Documentary, muito pessoal álbum de estreia, o rapper menciona vários clássicos do hip hop. De cabeça: Ready to Die de B.I.G., Reasonable Doubt de Jay-z, Doggy Style de Snoop Dogg, Death Certificate de Ice Cube, Illmatic de Nas e, claro, The Chronic de Dr. Dre - produtor, mentor e padrinho. Está na noção do legado hip hop e da vontade de criar algo que garanta o estatuto de clássico uma das grandes forças de The Documentary. O resto está numa criteriosa escolha de colaborações e produtores que vão de 50 Cent a Kanye West, passando por Timbaland, Eminem ou Just Blaze.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 20º - My Morning Jacket - Z



O que fazer depois de uma obra-prima de 75 minutos, o magnífico It Still Moves? Logo à 1ª faixa, "Wordless Chorus", os My Morning Jacket mostram que colocaram o pé no travão e, à medida que o registo avança, vão acelerando devagarinho até chegar a canções de 6/7 minutos, já na 2ª parte do disco. Não é que a ambição dos My Morning Jacket seja proporcional à duração das canções, mas a banda torna-se naturalmente maior quando se alonga. Jim James, que quase tudo parece conseguir fazer, carrega um mundo de emoções que nunca se desmorona, mesmo em momentos como "Gideon", em que o vocalista torna a canção num single óbvio e magnífico single. Z prova os My Morning Jacket como uma das certezas do rock norte-americano do novo milénio. Mostram-se triunfantes em qualquer registo. Ainda hoje é assim.

[Os melhores álbuns de 2005] 21º - The Decemberists - Picaresque


Em tempos de aclamação de Funeral dos Arcade Fire, os Decemberists avançavam com o sucessor do muito aclamado Her Majesty the Decemberists. Curiosamente, e mantendo os paralelismos com o grupo canadiano, Picaresque foi, à imagem de Neon Bible (de 2007), gravado numa antiga igreja com Chris Walla dos Death Cab For Cutie. É o álbum que prova o culto da banda de Colin Meloy: na sequência do roubo da carrinha em que se encontravam os instrumentos da banda, os fãs doaram os oito mil dólares - isto numa altura em que ainda não existiam kickstarters ou crowdfunders. Mais provas de que os Decemberists podem ter estado bem à frente do seu tempo: o vídeo de "Sixteen Military Wives" foi distribuido via BitTorrent bem antes de Thom Yorke se lembrar de o fazer. No título às letras, Picaresque é um tratado com a literatura, coisa que lhes valeu algumas acusações de presunção. Não muitas, felizmente.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 22º - M83 - Before the Dawn Heals Us


A discografia dos M83 sempre se pautou por uma evolução tanto sonora como estética. Se M83 e Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts são álbuns pouco humanos e centrados nos sintetizadores, este Before the Dawn Heals Us aponta numa direcção mais orgânica, com guitarras shoegaze e um som atmosférico e onírico. É o álbum da saída de Nicolas Fromageau e da emancipação de Anthony Gonzalez, material facilmente confundível com algo escrito para o cinema, não sendo raras as referências ao cinema de terror ou a um thriller. É o ínicio de uma equilibrada caminhada até Hurry Up, We're Dreaming e respectivo airplay na Cidade FM.

[Os melhores álbuns de 2005] 23º - Andrew Bird - Andrew Bird - The Mysterious Production of Eggs


É o sexto álbum, mas soa a primeiro. Até The Mysterious Production of Eggs, quase nove anos depois do debutante Music of Hair, Andrew Bird foi modelando uma identidade. Percebe-se que é aqui que a alcança e daí que, dez anos depois, pareça o primeiro. Até aqui, Bird andou pelo country e o bluegrass e, acima de tudo, pelo jazz, na companhia dos Bowl of Fire. O anterior Weather Systems já dava algumas pistas relativamente ao passo seguinte - assobiador profissional e mudança para um som folk - mas até aqui, a formação clássica parecia condicionar as composições e escolhas do músico. Ei-lo então diferente, em 2005, mais ambicioso e a fazer sombra a Rufus Wainright com um dos mais celebrados discos do ano. E a folk era a nova grande cena.

[Os melhores álbuns de 2005] 24º - Arab Strap - The Last Romance


A um nível temporal, os Arab Strap são um hino a este blog: duraram precisamente dez anos. Este The Last Romance tem título premonitório e seria de facto o canto do cisne dos escoceses. Terminaram numa altura em que a cena local voltava a estar nas bocas do mundo via Franz Ferdinand. E, pegando numa referência da banda de Alex Kapranos, o duo composto por Aidan Moffat e Malcolm Middleton reclamava: "Take Me Out". Deixaram-nos fora, da cena, do hype, da moda. Meses antes da edição, os dois Arab Strap já revelavam desentendimentos: Malcolm queria um disco mais negro, Moffat preferia-o visceral. O segundo acabou por ganhar, mas, com o desentendimento e apesar dos bons resultados deste disco, a música ficaria a perder com o fim da banda. Estas canções continuam a descrever relacionamentos falhados, de um modo cáustico. A diferença é o próprio Moffat que a nota: "é um pouco mais acelerado, mas continua a lidar com o lado negro das relações. É como o lado negro da série Star Wars - mais rápido e mais sedutor.”

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 25º - Deerhoof - The Runners Four


Sete discos noutros tantos anos e, por fim, os Deerhoof são uma banda de canções pop. Não deixam de praticar a auto-sabotagem, mas estas canções são mesmo a sério. The Runners Four são duas dezenas de canções curtas, mas que ocupam o dobro da duração dos registos anteriores. Muitas canções não têm um arranque ou um final óbvio, lembrando material dos Guided By Voices, mas é dos Sonic Youth que temos como referência ao longo de um dos mais desafiantes discos de guitarras do ano.

[Os melhores álbuns de 2005] 26º - Los Hermanos - Quatro


Quatro é o último disco dos Los Hermanos e, voltando a ele, é difícil perceber o porquê de terem sido uma banda polarizadora: não se ama ou odeia Los Hermanos, só se ama. Porque eram bons. Muito bons. Resultavam de duas personalidades distintas, mas igualmente talentosas: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, o primeiro mais preocupado com as melodias, o segundo mais dedicado às letras. E, olhando para as discografias pós-Los Hermanos, podemos concluir que Camelo tinha as ideias mais arrumadas. Sou, de 2008, ditou o caminho que haveria de seguir até hoje, à Banda do Mar. Rodrigo Amarante tentou o inglês dos esquecidos Little Joy, algo estranho para quem compõe tão bem em português, e só em 2013 se voltou a notabilizar com o fenómeno "Youtubiano" Cavalo. Quatro será o disco mais intimista da banda, bandeira da Nova MBP. Mas não vale a pena colá-los ao que os originais fizeram nos anos 60 e 70. O que Los Hermanos fizeram foi especial, independentemente da inspiração de mestres como Chico ou Caetano.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 27º - Gorillaz - Demon Days


Por alturas do segundo álbum, os Gorillaz ainda eram encarados como o projecto que Damon Albarn alternava com os Blur. Demon Days vem dois anos depois de Think Thank, o sétimo da banda de "Parklife", e quatro anos depois do homónimo dos Gorillaz - uma grande ideia, uma pedrada no charco que correu bem a todos os níveis. Algumas diferenças do primeiro para o segundo álbum. Se a bonecada de Jamie Helett veio para ficar, na produção sai Dan the Automator e entra Danger Mouse - contrapartida acordada entre o produtor e a EMI na sequência do processo de The Grey Album, o controverso mashup entre White Album dos Beatles e Black Album de Jay-z. Ao ser menos acessível e festivo do que a estreia, Demon Days prova que os Gorillaz sobrevivem a humores e produtores. O caldeirão hip hop, funk, soul, ajudado por convidados, muitos - Neneh Cherry, Roots Manuva, Ike Turner, Martina Topley-Bird, De La Soul, entre outros - mantém-se e, embora diferentes, os Gorillaz triunfam num segundo excelente álbum.

[Os melhores álbuns de 2005] 28º - Queens of the Stone Age - Lullabyes to Paralyze


Peguemos nas palavras de Nick Oliveri, pouco antes da edição de Lullabies to Paralyze: "já o ouvi e é um bom álbum, mas estava à espera de um regresso às origens - um disco de guitarras mais pesadas". Assim sendo, caso Oliveri não tivesse sido despedido da banda por mal comportamento, os dois elementos mais importantes dos Queens of the Stone Age, colegas, amigos, irmãos, o próprio Oliveri e Josh Homme, teriam provavelmente chegado ao ponto das diferenças criativas. Que disco seria Lullabies to Paralyze, caso Oliveri tivesse feito parte do processo? Provavelmente, mais linha de baixo, menos linha de baixo, seria o mesmo - por mais que a soma das parte fizesse um todo magnífico, Homme sempre foi o cérebro da banda. Até "I Never Came", ou seja, durante as oito primeiras faixas, a linha é, mais coisa menos coisa, a de Songs for the Deaf. A partir de "Someone's Wolf" explora algum psicadelismo assegurando uma das linhas que sempre orientou Homme: a constante mudança de som.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

[Os melhores álbuns de 2005] 29º - Vashti Bunyan - Lookaftering



A grande diferença de Just Another Diamond Day, de 69, para este Lookaftering, de 2005, estará na experiência, na vida de Vashti Bunyan, e não tanto nas canções. A voz não envelheceu significativamente, as canções não mudaram, as histórias sim, são de uma mulher vivida. A história, bonita: disco editado no final da década de 60 que não vendeu, mas, no início da primeira década do século XXI, atingiu um estatuto de culto junto da afamada freak-folk, de Devendra Banhart a Joanna Newsom, passando pelos Animal Collective. São canções de uma folk sem tempo, que poderiam ser editadas hoje, há dez ou há 46 anos. Uma bonita história, a da calejada Vashti Bunyan.

[Os melhores álbuns de 2005] 30º - The Rosebuds - Birds Make Good Neighbours


Há coros à Funeral dos Arcade Fire logo na canção de abertura, "Hold Hands and Fight", mas este casal (Ivan Howard e Kelly Crisp) indie é de outra estirpe. Birds Make Good Neighbors procura a perfeição, mas é mais negro que a estreia dos Rosebuds, o explicito The Rosebuds Make Out. Assumamos então que na estreia, ainda se estavam a conhecer e agora, casados, encontram as dificuldades a que o matrimónio obriga. Bem resolvidos estavam neste segundo disco.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O que aconteceu na semana de 30-11-2005?


Notícias: 

- Os Grateful Dead pedem ao website archive.org para parar de disponibilizar concertos gravados pelos fãs para download gratuito. Os fãs protestam, acusando a banda de traição, recordando que os próprios Grateful Dead sempre encorajaram os fãs a gravar os concertos e a trocar cassetes e CDs de borla.

- Lil Wayne actua com Robin Thicke (pré-"Blurred Lines) no Tonight Show.



- dEUS actuam na Aula Magna e ao Pavilhão Atlântico sobem os Black Eyed Peas, que celebram a vitória do Sport Lisboa e Benfica perante o Manchester United.


Disco da Semana: 

Korn - See You on the Other Side

A mudança vinha sendo anunciada há algum tempo, mas só se confirmaria com este See You on the Other Side. Basta olhar para os créditos: com The Matrix (Avril Lavigne, Britney Spears, uma armada pop no CV) e Atticus Ross (Nine Inch Nails) na produção, e sem Brian "Head" Welch na guitarra. E depois, o vídeo de "Twisted Transistor", com Xzibit, Lil Jon, David Banner e Snoop Dogg como protagonistas, profanação para os fãs metaleiros, enterro com pompa e circunstância do finalmente proscrito nu-metal. Nota-se a influência dos Nine Inch Nails, os apontamentos industriais percorrem o disco que é longo, demasiado longo. É o início da fase mansa dos Korn que, mais tarde, haveria de acabar no dubstep. Percebe-se a necessidade de mudar, mas está aqui o início da caminhada para a irrelevância da banda de Jonathan Davis.



Outras Edições:

Lil Wayne - The Carter II
White Stripes - Walking With a Ghost 
Eminem - Curtain Call: The Hits
Lindsay Lohan - A Little More Personal (Raw)

Citações com dez anos: 

- "Acabámos de comprar uma velha igreja [Presbiteriana] a Sul de Montreal e vamos transformá-la no nosso estúdio de gravação." (Tim Kingsbury, guitarrista dos Arcade Fire)

- “O que a MTV me obrigou a cortar, destruiu por completo a narrativa do vídeo. [A censura] afectou-me de tal maneira que tive que retirar o meu nome dos créditos." (Michael Palmieri, realizador do vídeo de "Juicebox", dos The Strokes)



"Dizemos quase sempre que não. O assistente da Madonna veio à Suécia e mostrou-nos a canção. Soou-nos tão "catchy" que eu e o Benny [Andersson] dissemos logo "Sim". (Bjorn Ulvaeus, 1/4 dos ABBA)