quarta-feira, 31 de julho de 2013

[Semana 29-07-03] Patrick Wolf edita "Lycanthropy"


2003, o ano de Adam Green, Joss Stone e Patrick Wolf, putos maravilha que não se viriam a tornar assim tão maravilhosos. Neste campeonato, a música não andava assim tão longe do futebol. Por norma, um talento começa a dar nas vistas aos 16 e atinge a maturidade aos 20 e qualquer coisa - com o advento da Internet, as coisas estarão um pouco diferentes, mas essa é conversa para outras núpcias. Os três exemplos apresentados no início deste texto são jogadores de segunda linha, aqueles que percorreram tudo o que é selecção sub-qualquer coisa, mas que só são chamados ao plantel principal em particulares. 

Lycanthropy é Patrick Wolf a brincar na areia, a enveredar pelo virtuosismo individual e a sacrificar o todo. Como qualquer talento com tendência para a individualidade, Wolf é inconstante, sendo capaz do melhor e do pior. 

terça-feira, 30 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] Davide Pinheiro


É ingrato isto de tentar apresentar os convidados que já fizeram muito em meia dúzia de linhas. Davide Pinheiro começou a escrever sobre música há precisamente dez anos. O résumé inclui o Diário de Notícias, Disco Digital, PARQ Magazine, Vogue e uma actividade regular como DJ. Recentemente, lançou o blogue Mesa de Mistura que, apoiado por uma dinâmica página de Facebook, já se tornou numa referência para aqueles que procuram o que de mais estimulante se criar no mundo pop. O facto de não nos ter dado tempo para o convidar fala por si: o Davide é dos maiores melómanos que já tivemos o prazer de conhecer. A partir daqui as palavras são dele:

2003. Ano de primeiras escutas profissionais e de trabalho numa loja de discos. De The's como os Beatles. De afirmação do rock como força motriz da música de princípio de milénio. Do grime enquanto próxima grande cena. Dos Rapture enquanto primeiros cabeças de cartaz da DFA. De Outkast, Beyoncé ou Kelis enquanto símbolos de uma pop negra dançável, inteligente, íntegra e, no primeiro caso, genial como Prince. Ano de seca na música portuguesa em que o consenso da crítica patinou artisticamente num disco menor como é "Irmão do Meio". Dez anos é muito tempo e a memória para cá de Badajoz pouco mais retém que o EP de estreia dos X-Wife, o álbum dos Spaceboys e "A Ópera Mágica de um Cantor Maldito" chamado Fausto.


Os discos mais importantes de 2003 para Davide Pinheiro:

1. Outkast - Speakerboxx/Love Below


A canção da década está aqui num álbum que já anunciava a separação confirmada pela abstinência do nome Outkast pós-Idlewild. Um concentrado de música negra soul, R&B e hip-hop e talvez o melhor disco de música negra desde Prince e Michael Jackson.

2. The Postal Service - Give Up


Agora reeditado, Give Up é um prenúncio electropop que ganhou importância pela ausência de um sucessor. À distância de dez anos, está longe de ser uma obra-prima mas continua a soar fresco.

3. Dizzee Rascal - Boy in da Corner


Dizzee Rascal não mais voltou a ser tão pleno e urgente como em Boy In Da Corner mas juntamente com Mike Skinner (The Streets) anunciava uma cena nova inglesa que viria a manter-se actual até ao fim da década.

4. The Rapture - Echoes


A grande banda da DFA viria a ser a do patrão, James Murphy, mas ainda em 2003 ainda só havia um single dos LCD Soundsystem e o primeiro álbum a chamar a atenção para o ressurgimento punk funk foi Echoes dos Rapture.

5. The Kills - Keep On Your Mean Side


Num ano de The's, os Kills adaptaram o formato fadista ao rock'n'roll e captaram memórias dos blues e dos Velvet Underground num álbum poderoso de estreia.

6. Yeah Yeah Yeahs - Fever to Tell


Outro tiro certeiro à primeira. Num momento de grande efervescência no rock nova-iorquino, os Yeah Yeah Yeahs trouxeram de volta a explosão arty dos Blondie.

7. The Thrills - So Much For the City


A Califórnia vista da Irlanda e o single bronzeado de verão - "Big Sur". Prometiam muito mas apagaram-se e hoje quase ninguém os recorda.

8. The Mars Volta - De-Loused In Comatorium


A ressaca produtiva dos At The Drive-In num álbum em que os Mars Volta se distinguem pela fusão entre o excesso progressivo e sangue latino. O mesmo exotismo que fazia dos Jane's Addiction um ovni pré-grunge em Los Angeles.

9. Rufus Wainwright - Want One


O melhor álbum de Rufus Wainwright, capaz de fazer chorar as pedras da calçada. Arranjos grandes e operáticos para um disco opulento e de grande profundidade na escrita.

10. Beyoncé - Dangerously In Love


O princípio pós-Destiny's Child num disco que, além de bom, foi importante para infernizar preconceitos indie que lentamente se esbateram para uma noção de integridade despegada do género ou da projecção.

domingo, 28 de julho de 2013

[Semana 22-07-03] Raveonettes editam "Chain Gang of Love"


O Guardian descreveu-os como a versão indie dos Roxette e acrescentou que "pelo menos os Roxette tinham melodias". A comparação é tão descabida que não tivemos em pejo em começar por aqui.

Os Raveonettes, duo rapaz-rapariga na altura tão em voga, tiveram uma ideia, uma das boas: juntar as guitarras sujas de um clássico da década de 80 - Psychocandy, o álbum seminal dos Jesus & the Mary Chain - ao doo wop das girls groups dos 60s, girls groups como as Rounettes. O baptismo do projecto não será inocente, a estética a preto e branco também não. No fundo, dos White Stripes aos My Bloody Valentine, o que estes dinamarqueses ainda hoje fazem é tão simples como reciclar as estéticas que mais os influenciaram como músicos. Resultou.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

[Semana 22-07-03] Canibus edita "Rip the Jacker"


A diferença que faz uma grande produção. Rip the Jacker, para além de inverter o título de um dos mais famosos assassinos da história, é o "ou vai ou racha" de Canibus. É o quinto álbum do rapper, mas o primeiro em que aposta numa produção ambiciosa. Rip the Jacker é uma viagem. E que viagem! Os samples passeiam-se pelo minimalismo de Philip Glass, citações avulso de séries norte-americanas, o dub jamaicano e até (surpresa!) um fado de António Chaínho: "A Sombra (Fado Nocturno)". O nome a apontar no meio de todo este cosmopolitismo, o responsável por esta muda de lençóis, por esta cama impecavelmente apresentada é Kevin Baldwin aka Stoupe the Enemy of Mankind.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] peixe:avião


Depois de Madrugada - o segundo álbum e a palavra portuguesa favorita de Saul Williams -, há novo material a caminho, sendo o regresso é antecipado pelo single" Avesso". Mas os peixe:avião já não são só as canções. Há dois anos criaram a PAD - "colectivo de Artistas (...) [com a] missão de criar uma comunidade de artistas pautada por coerência estética e qualidade, cujas carreiras possam ser potenciadas de forma profissional." 

Os discos mais importantes de 2003 para os peixe:avião:

1. Broadcast - Haha Sound


2. Yo La Tengo - Summer Sun


3. The Shins - Chutes Too Narrow


4. Cat Power - You Are Free


5. The Postal Service - Give Up


6. Four Tet - Rounds


7. Broken Social Scene - You Got it in People


8. Manitoba - Up in flames


9. Sufjan Stevens - Michigan


10. The Sea and Cake - One Bedroom


terça-feira, 23 de julho de 2013

[Semana 22-07-03] Adam Green edita "Friends of Mine"


Adam Green era um miúdo quando se lançou nos Moldy Peaches e um adolescente quando tentou atinar numa carreira a solo que estreou com Garfield, apropriado título para um rapaz que, em condições normais, estaria em casa desempregado nessa mesma rotina feita à base de sono e lasanha. Podia ser um diário, o diário de um adolescente, um puto que canta os problemas de uma miúda (as que quer engatar, claro) e descasca na contemporânea Jessica Simpson - diz-se por aí que a mensagem é mais política do que parece. Um rapazola a disparar as referências de uma juventude perdida em desgostos amorosos, jogos do computador e livros de história. A mudança de voz quer ser porta-voz de uma maturidade que acabou por chegar mais tarde, cinco anos depois, com o óptimo Minor Threat.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] Gobi Bear


Foto: Rui Farinha

Gobi Bear enviou-nos esta lista a meio da digressão que o tem levado a viajar pela Europa. Folk cândida que se espalha num trio de EPs gravados em apenas 365 dias. 

Os discos mais importantes de 2003 para Gobi:

1. The White Stripes - Elephant 


2. The Strokes - Room on Fire


3. Sérgio Godinho - O Irmão do Meio


4. Los Hermanos - Ventura


5. José Gonzales - Veneer


6. Jay-Z - The Black Album


7. Explosions in the Sky - The Earth is Not a Cold Dead Place


8. Eels - Shootenanny!


9. Comeback Kid - Turn it Around


10. Cat Power - You Are Free


segunda-feira, 15 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] Flávio Torres


Uns receiam usar a termo, Flávio Torres usa-o sem reservas: cantautor. É-o na medida em que escreve e compõe as suas canções. Canções de amor, canções de protesto, canções (algumas inspiradas) que compõe "Canções de Bolso", álbum de estreia que pode ser ouvido no Spotify.

Flávio Torres revela que "é com muita satisfação [que] relembro aquilo que ouvia ou pelo menos parte do que ouvia em 2003. Inclusive tornei a relembrar alguns discos que têm passagens pessoais para mim muito importantes. Neste ano vivia entre Peniche (cidade onde estudava) e a Covilhã (Cidade que me viu nascer) grande parte deste período a minha ligação ao mar foi muito forte e o Verão inesquecível, em que uma onda de som vibrante entoava até mim. Guitarras na praia, cerveja entre amigos e partilha de muita música fizeram deste ano um dos melhores da minha vida. Aqui fica a minha lista desse ano de 2003 - Porque dez anos é muito tempo."

Os dez discos mais importantes de 2003 para Flávio Torres:

1. Sérgio Godinho - Irmão do Meio


Este é um disco de irmandade com excelentes canções do Sergio [Godinho] reinterpretados em colaboração com outros artistas nacionais, desde a Teresa Salgueiro ao José Mario Branco. Gostava muito de ouvi-lo pela noite fora, foi sem dúvida [um] dos grandes trabalhos discográficos nacionais de 2003. Para mim o melhor.

2. Ben Harper - Diamonds on the Inside


Ainda hoje considero este um dos melhores trabalhos do Ben Harper. Fiquei vidrado neste disco durante meses, a particularidade do roots rock e bluesy na alma destas canções trazem-me grandes memórias e fazem-me viajar não sei bem para onde. É um disco magico.

3. The White Stripes - Elephant


Disco que ouvia diariamente, para mim foi um dos grandes momentos de 2003, em que o rock foi reinventado de uma forma genial por Jack e Meg White - com garra e alma.

4. Jane's Addiction - Strays


Um disco explosivo que me agarrou na primeira audição. Lembro-me que quando ouvi o single “Just Because” senti de imediato aquela vontade de por em repeat. O resto do disco foi–se entranhando naturalmente, grandes musicas.

5. Fausto - A Ópera Mágica de um Cantor Maldito



É o 11º álbum deste grande artista nacional que infelizmente caiu no esquecimento de muitos e também [tem sido] desprezado. Este disco é grande como todos os outros do Fausto, a letra é magistral e gloriosa, a musica é fabulosa. É um disco para todas as idades, um verdadeiro álbum português. O Fausto acompanha-me sempre.

6. Calexico - Feast of Wire


Este álbum conta com instrumentais lindíssimos com a insubstituível trompete e aquela voz que se enquadra neste desenho perfeito. Este é um disco de melodias e de verdadeiras canções, "Black Heart" é uma das minhas favoritas [e] ouvia[-a] junto à tranquilidade do mar.

7. Neil Young - Greendale


Um disco acústico ao vivo de canções simples e nostálgicas que dispensam grandes apresentações. São canções que falam de uma localidade fictícia, Greendale, e dos seus habitantes, [os] que Neil [Young] criou. Mais tarde esta história saiu em filme. Acompanhou-me por noites a fio. Disco 5 estrelas.

8. The Black Keys – Thickfreakness


Este segundo trabalho dos The Black Keys conta com um mix de heavy-blues-garage fabuloso, na altura foi um pouco comparado com o Elephant dos manos White Stripes. No entanto, para mim, as diferenças são enormes e incomparáveis. Grande disco.

9. Easy Star All Stars - Dub Side of the Moon 


Se alguma vez ouvi um disco de versões em que estas são originais, têm a mesma alma e onde o destino da viagem é precisamente o mesmo, este é o disco. Versões do disco Dark Side of the Moon de Pink Floyd em modo dub/reggae muito bem feitas. Aconselho esta experiência. Este acompanha-me ainda hoje no carro.

10. Massive Attack - 100th Window


Como só os Massive [Attack] fazem - um Trip-Hop electrónico genuíno e bastante dark. Foi para mim, neste ano de 2003, um disco de refúgio onde as canções sintetizadas, não dançáveis e depressivas me comprometiam para relaxar e procurar alguma introspecção. Foi um disco de cabeceira muito bom.

domingo, 14 de julho de 2013

[Semana 8-07-03] Big Fat Mamma editam "Parece Difícil"


Vão oito anos desde a formação dos Big Fat Mamma (1995) até à edição do primeiro álbum (2003). Parece Difícil é aquilo a que a banda bracarense classificou de "Free", ou seja, um caldeirão de som em que cabem rock, funk, ska, hip hop, bossa, etc. 

Parece Difícil é a materialização de um conjunto de canções que levou quase uma década (muito tempo...) a preparar. A ironia está toda no facto de parecer fácil. 

Depois deste disco, não voltariam editar. Positivo: deixaram o cadastro limpinho. Onde é que eles andam? Budda (guitarra), Nico (bateria) e Alex Liberalli continuam juntos em vários projectos: Budda Blues Power, Monstro Mau. Trio Pagú e o trabalho na editora Mobydick Records. Aos restantes membros não apanhámos o rasto.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] Dusk at the Mansion


Já por aí andam desde 2009 - a memória traz-nos, por exemplo, a abertura para o concerto dos Klaxons no Musicbox, em 2010 -, mas o primeiro EP, que pode ser ouvido gratuitamente, só chegou em 2012. Do que daí ouvimos, a inclusão dos Kraftwerk nesta lista era inevitável. "Não existe nenhuma explicação abrangente para cada uma das escolhas. Cada um de nós os ouvia por razões diferentes. Mais importante é que, enquanto banda, reconhecemos que fizeram parte integrante do ano de 2003." 

Os dez discos mais importantes de 2003 para os Dusk at the Mansion:

1. The Strokes - Room on Fire


2. Kraftwerk - Tour de France Soundtracks


3. The Rapture - Echoes


4. Chris Clark - Empty the Bones of You


5. Placebo - Sleeping With Ghosts


6. Radiohead - Hail to the Thief


7. Massive Attack - 100th Window


8. M83 - Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts


9. Marilyn Manson - The Golden Age of Grotesque


10. Outkast - Speakerboxxx/The Love Below