terça-feira, 30 de julho de 2013

[Jukebox de há dez anos] Davide Pinheiro


É ingrato isto de tentar apresentar os convidados que já fizeram muito em meia dúzia de linhas. Davide Pinheiro começou a escrever sobre música há precisamente dez anos. O résumé inclui o Diário de Notícias, Disco Digital, PARQ Magazine, Vogue e uma actividade regular como DJ. Recentemente, lançou o blogue Mesa de Mistura que, apoiado por uma dinâmica página de Facebook, já se tornou numa referência para aqueles que procuram o que de mais estimulante se criar no mundo pop. O facto de não nos ter dado tempo para o convidar fala por si: o Davide é dos maiores melómanos que já tivemos o prazer de conhecer. A partir daqui as palavras são dele:

2003. Ano de primeiras escutas profissionais e de trabalho numa loja de discos. De The's como os Beatles. De afirmação do rock como força motriz da música de princípio de milénio. Do grime enquanto próxima grande cena. Dos Rapture enquanto primeiros cabeças de cartaz da DFA. De Outkast, Beyoncé ou Kelis enquanto símbolos de uma pop negra dançável, inteligente, íntegra e, no primeiro caso, genial como Prince. Ano de seca na música portuguesa em que o consenso da crítica patinou artisticamente num disco menor como é "Irmão do Meio". Dez anos é muito tempo e a memória para cá de Badajoz pouco mais retém que o EP de estreia dos X-Wife, o álbum dos Spaceboys e "A Ópera Mágica de um Cantor Maldito" chamado Fausto.


Os discos mais importantes de 2003 para Davide Pinheiro:

1. Outkast - Speakerboxx/Love Below


A canção da década está aqui num álbum que já anunciava a separação confirmada pela abstinência do nome Outkast pós-Idlewild. Um concentrado de música negra soul, R&B e hip-hop e talvez o melhor disco de música negra desde Prince e Michael Jackson.

2. The Postal Service - Give Up


Agora reeditado, Give Up é um prenúncio electropop que ganhou importância pela ausência de um sucessor. À distância de dez anos, está longe de ser uma obra-prima mas continua a soar fresco.

3. Dizzee Rascal - Boy in da Corner


Dizzee Rascal não mais voltou a ser tão pleno e urgente como em Boy In Da Corner mas juntamente com Mike Skinner (The Streets) anunciava uma cena nova inglesa que viria a manter-se actual até ao fim da década.

4. The Rapture - Echoes


A grande banda da DFA viria a ser a do patrão, James Murphy, mas ainda em 2003 ainda só havia um single dos LCD Soundsystem e o primeiro álbum a chamar a atenção para o ressurgimento punk funk foi Echoes dos Rapture.

5. The Kills - Keep On Your Mean Side


Num ano de The's, os Kills adaptaram o formato fadista ao rock'n'roll e captaram memórias dos blues e dos Velvet Underground num álbum poderoso de estreia.

6. Yeah Yeah Yeahs - Fever to Tell


Outro tiro certeiro à primeira. Num momento de grande efervescência no rock nova-iorquino, os Yeah Yeah Yeahs trouxeram de volta a explosão arty dos Blondie.

7. The Thrills - So Much For the City


A Califórnia vista da Irlanda e o single bronzeado de verão - "Big Sur". Prometiam muito mas apagaram-se e hoje quase ninguém os recorda.

8. The Mars Volta - De-Loused In Comatorium


A ressaca produtiva dos At The Drive-In num álbum em que os Mars Volta se distinguem pela fusão entre o excesso progressivo e sangue latino. O mesmo exotismo que fazia dos Jane's Addiction um ovni pré-grunge em Los Angeles.

9. Rufus Wainwright - Want One


O melhor álbum de Rufus Wainwright, capaz de fazer chorar as pedras da calçada. Arranjos grandes e operáticos para um disco opulento e de grande profundidade na escrita.

10. Beyoncé - Dangerously In Love


O princípio pós-Destiny's Child num disco que, além de bom, foi importante para infernizar preconceitos indie que lentamente se esbateram para uma noção de integridade despegada do género ou da projecção.

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