terça-feira, 30 de setembro de 2014

[Semana 22-09-04] Saul Williams edita "Saul Williams"


Um tipo que evita os clichés do hip hop, embora neles caia quando crítica a MTV e toda a gratuitidade a ela associada - sim, em 2004 isto tudo até soava pertinente, embora imprevisível. Um gajo que usa uma toalha de samples hardcore/industrial para "rappar" sobre política, guerra e afins evitando as rimas e a abordagem mais convencional. Não é uma surpresa pois este álbum homónimo é já o segundo de Saul Williams, mas não deixa de ser um dos discos de hip hop (?) mais desafiantes do ano.

[Semana 22-09-04] Junior Boys editam "Last Exit"


Os Junior Boys terão sido dos primeiros a perceber o potencial da Internet que, em 2004, não dava os primeiros passos, mas ainda estava muito longe dos dias loucos de hoje. O Myspace era a cena, o YouTube ainda não existia e o Facebook não era nem uma miragem. Os dois primeiros EPs do duo foram distribuídos por bloggers com afinidades com o som dos canadianos. Last Exit pega em quatro canções desses EPs e junta-lhes mais seis que seguem a mesma linha. Sem medos, esta é a primeira vitória dos Junior Boys. O resto está no som fresco do duo, devedor daquela música de dança criada mais para ser sentida do que dançada. 

[Semana 22-09-04] Green Day editam "American Idiot"


Mais do que um disco político contra a administração Bush, seria apenas mais um no meio de tantos, American Idiot tem a seta apontada para dentro, para a América, a do 11 de Setembro, a dos fantasmas, a das guerras em nome do dólar, a América hipócrita e insegura. É sem dúvida nenhuma o disco mais ambicioso dos Green Day até à data - seguiriam-se várias edições do género a que fomos prestando cada vez menos atenção - chegando, por vezes, entre os épicos, citações/quase plágio aos clássicos do rock n' roll, canções punk e as baladuchas, a soar pretensioso. Há uma boa história a suportar isto tudo. Não, não nos referimos à jornada épica dos dois protagonistas desta aventura, St. Jimmy e Jesus Of Suburbia. Referimos-nos aquela que reza que este seria o "ou vai ou racha" da banda de Billie Joe Armstrong.






sexta-feira, 26 de setembro de 2014

[Semana 22-09-04] The Go! Team editam "Thunder, Lightning, Strike"


Imagens VHS avulso gastas pelo tempo, divertidas onomatopeias saídas de um comic book carregado de cores alegres e divertidas, samples cortados e colados por um ex-editor do Discovery Channel e o seu irmão, rato de estúdio - os obreiros desta auspiciosa estreia. Verdadeira pedrada no charco capaz de agradar (ou desagradar) os fãs de hip hop, soul e os indies com menos preconceitos. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

[Semana 15-09-04] Arcade Fire editam "Funeral"


Funeral quase parece pregação, um manual ao qual podemos recorrer sempre que algo nos corre mal, uma Bíblia para os desafortunados - da miséria, do amor, da morte. Foi ajudado pelas apoteóticas actuações ao vivo - missas para os destroçados, uma banda capaz de unir o mundo, salvá-lo, anunciar a paz, ganhar um Nobel. No final do dia, não era nada disto. Era apenas um conjunto de 10 canções para melómanos atentos e impressionados com a carga emocional, a imprevisibilidade e a ausência de catalogação desta dezena incrível de faixas.







quinta-feira, 18 de setembro de 2014

[Semana 15-09-04] Devendra Banhart edita "Nino Rojo"


Ouvimos Devendra Banhart a cantar sobre pardais e, mesmo que vislumbremos a metáfora inerente, não nos custa imaginar o ex de Natalie Portman a compor no meio da floresta. Não custa, pois, olhar para Banhart como um hippie fora de horas, fora do contexto que uma nova vaga de pares haveria de corrigir. Afinal havia espaço para este O.V.N.I. de letras desregradas e aspecto físico aparentemente descuidado. As canções parecem ter sido gravadas ao primeiro take, de forma despreocupada, e versam sobre macacos, caranguejos, tartarugas, corvos e porcos. Tudo muito muito bem humorado e metaforizado, apenas acompanhado com uma guitarra acústica várias vezes dedilhada. Nino Rojo é a segunda parte do projecto que havia começado com Rejoicing in the Hands, mas a exibição é boa ao longo das duas metades. Sem oscilações, como um jogador extremamente regular.

domingo, 14 de setembro de 2014

[Semana 08-09-04] Dizzee Rascal edita "Showtime"


Terá sido o canto do cisne do efémero grime. Showtime é o último bom disco do género que nasceu no East End londrino e que nos deu duas obras primas: A Grand Don't Come For Free dos Streets e Boy in the Corner, o primeiro de Dizzee Rascal, o miúdo que, com apenas 19 anos, venceu o Mercury Prize. Mantém-se a produção caseira, com beats que são bits, 8 bits, mas que também são sons de consolas e outras pérolas que servem perfeitamente às letras narcisistas de Rascal. Não é tão bom como o antecessor, mas augurava um futuro que não se veio a cumprir. Hoje em dia, a frescura Dizzee Rascal anda perdida algures entre a naftalina de Robbie Williams e o mau gosto de Will I Am.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

[Semana 01-09-04] Flotation Toy Warning editam "Bluffer's Guide to the Flight Deck"


1 de Setembro de 2004: Bluffer's Guide To The Flight Deck, dos Flotation Toy Warning chega às lojas. 14 de Setembro de 2004: o mundo treme com a edição de Funeral, a estreia discográfica (perfeita, perfeita) dos Arcade Fire, e respectivo burburinho.  

1 de Setembro de 2014: os Flotation Toy Warning cairam no esquecimento. Terão chegado ao fim? 14 de Setembro de 2014: os Arcade Fire são uma das maiores bandas do mundo. 

A comparação é inevitável, os paralelismos óbvios: produção rica, álbum emocional, registo catártico. Na altura, os Arcade Fire ainda não era uma inspiração. Os Flotation Toy Warning fartaram-se de ser comparados a Flaming Lips e Mercury Rev (e faz todo o sentido) para, por fim, à imagem das suas referências, caírem na irrelevância.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

[Semana 01-09-04] The Prodigy editam "Always Outnumbered, Never Outgunned"


Sete anos é muito tempo. Sete anos separam o terceiro (The Fat of the Land) do quarto disco (este) dos Prodigy. Uma infinidade de controvérsias e um hiato depois, a banda regressa, mas sem fria e distante. Always Outnumbered, Never Outgunned é o St. Anger dos Prodigy, é o patinho feio de uma discografia (sobrevalorizada), mas que serviu de base para construir um presente que ainda os vai mantendo relevantes. Mesmo aquilo que mais interessa na banda de Liam Howlett, os singles, ficam a perder para o restante catálogo. Sobram apenas dois bons singles, um muito bom ("Spitfire") e outro razoável ("Girls"). Sem coincidências, são essas as duas primeiras a surgir no alinhamento de um regresso aborrecido e muito pouco humano. O grupo ainda tenta humanizar Always Outnumbered... com convidados, mas nomes como Juliette Lewis e Liam Gallagher só servem para acentuar o desnorte.