sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 1º - Arcade Fire - Funeral


Funeral quase parece pregação, um manual ao qual podemos recorrer sempre que algo nos corre mal, uma Bíblia para os desafortunados - da miséria, do amor, da morte. Foi ajudado pelas apoteóticas actuações ao vivo - missas para os destroçados, uma banda capaz de unir o mundo, salvá-lo, anunciar a paz, ganhar um Nobel. No final do dia, não era nada disto. Era apenas um conjunto de 10 canções para melómanos atentos e impressionados com a carga emocional, a imprevisibilidade e a ausência de catalogação desta dezena incrível de faixas. 

[Os melhores álbuns de 2004] 2º - The Streets - A Grand Don't Come For Free


Contas feitas, o grime foi um género de miúdos - os autores dos melhores discos do género, Dizzee Rascal e Mike Skinner, foram perdendo frescura com o passar dos anos. A Grand Don't Come For Free, álbum conceptual, balança-se entre a sorte e o azar, o jogo e o amor, o azar ao jogo, a sorte no amor, a sorte no jogo, o azar no amor, o azar no jogo, o azar no amor. Material original clássico.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 3º - Kanye West - The College Dropout


The College Dropout marca o início de uma era, a era Kanye West, do excêntrico, do paranóico, do omnipresente, do génio. Num mundo dominado por um Jay-z, Eminem e, vá, 50 Cent, a estreia de Kanye não é uma pedrada no charco, mas chega para abanar os alicerces. É um Kanye diferente, globalmente respeitado, mas menos exposto. Confiante, mas sem excessos. De The College Droupout a Yeezus, apenas um problema: o facto de não conseguir comunicar para além das canções. Qual génio incompreendido.

[Os melhores álbuns de 2004] 4º - Death From Above 1979 - You're a Woman, I'm a Machine


Num contexto em que o rock pouco ou nada trazia de novo, este som que é punk e que é dançável e que é suado acaba por soar fresco. Um baixo e uma bateria, um ritmo infernal que, ironicamente, não ficaria mal como carta fora do baralho (a par dos Rapture) na DFA de James Murphy, a mesma que obrigou Sebastien Grainger e Jesse F. Keeler a colar um ano (o último da década de 70) ao nome pensado a priori. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 5º - The Go! Team - Thunder, Lightning, Strike


Imagens VHS avulso gastas pelo tempo, divertidas onomatopeias saídas de um comic book carregado de cores alegres e divertidas, samples cortados e colados por um ex-editor do Discovery Channel e o seu irmão, rato de estúdio - os obreiros desta auspiciosa estreia. Verdadeira pedrada no charco capaz de agradar (ou desagradar) os fãs de hip hop, soul e os indies. 

[Os melhores álbuns de 2004] 6º - Madvillany - Madvillain


É o trabalho de dois ratos de biblioteca (Madlib nos beats, Doom no microfone), registo perfeito que exalta as mais valias de cada um. Madlib, mestre do diggin, das referências a filmes dos anos 40/50, dos comics, dos compositores minimalistas. MF Doom, responsável por 1001 projectos fundamentais do hip hop mais negro e obscuro. A viagem é feita de canções curtas, mas complexas e carregadas de samples. Exige tempo, exige que nos debrucemos neste documento, fruto de uma das mais aguardadas e ricas colaborações do hip hop norte-americano. Madlib e Doom são artistas complexos que se escondem por trás de máscaras e pseudónimos que variam de acordo com a abordagem e que se cruzam de projecto em projecto. São várias as referências aos vários alter egos dos dois. Madvillainy é composto por 22 peças que compõe um puzzle complexo. É incrível, já o dissemos?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 7º - Dizzee Rascal - Showtime


Terá sido o canto do cisne do efémero grime. Showtime é o último bom disco do género que nasceu no East End londrino e que nos deu duas obras primas: A Grand Don't Come For Free dos Streets e Boy in the Corner. Mantém-se a produção caseira, com beats que são bits, 8 bits, mas que também são sons de consolas e outras pérolas que servem perfeitamente às letras narcisistas de Rascal. Não é tão bom como o antecessor, mas augurava um futuro que não se veio a cumprir.

[Os melhores álbuns de 2004] 8º - Of Montreal - Satanic Panic in the Attic


É o álbum mais pop dos Of Montreal até à data. E uma ode ao psicadelismo. Os Beatles na música, na capa (referência óbvia a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) e no vídeo de "Disconnect the Dots", os Beach Boys na música, nas harmonias e um pouco por todo o lado e os Stones na referência satânica do título do disco. Uma trip. Uma magnífica.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 9º - MF Doom - MM... Food


A comida não é mais do que um meio para encaixar metáforas. MM... Food sucede Mudvillainy, a magnífica, perfeita, colaboração com Madlib, sendo que Doom usa praticamente os mesmos truques de produção de Madlib: referências ao cinema, séries de televisão e comics. Ao contrário de outras obras de Doom e apesar de, de certa forma, ser um álbum conceptual, MM... Food não cria uma narrativa sólida, uma história com principio meio e fim. Ainda que, ao lado de Mudvillainy, seja um parente pobre, não deixa de ser magnífico.

[Os melhores álbuns de 2004] 10º - The Hold Steady - Almost Killed Me


Os Hold Steady poderiam ser a banda de uma geração. Ou, pelo menos, de uma geração de jovens norte-americanos que têm em Almost Killed Me, o primeiro de seis celebrados álbuns que atingiu o cume com Boys and Girls in America, o manifesto de intenções do quinteto - as histórias do dia-a-dia de um adolescente, um diário diferente daquele que vemos na série contemporânea The O.C.

domingo, 21 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 11º - Franz Ferdinand - Franz Ferdinand


Já quase tudo terá sido dito relativamente a uma das estreias mais entusiasmantes da década passada, a dos eléctricos conterrâneos de Sir Alex Ferguson, comandados por um outro Alex de apelido Kapranos. Apesar da frescura, o homónimo dos Franz Ferdinand logo pareceu irrepetível. Infelizmente, tal como muitos dos seus contemporâneos, os que aproveitaram o balanço de Franz Ferdinand - gente como os Kaiser Chiefs, os Futureheads e os Maximo Park - os últimos dez anos têm revelado um percurso descendente. Ainda assim, as graças alcançadas são bem mais significativas que as conseguidos por quem fez a cama. Referimo-nos, claro, aos Gang of Four.

[Os melhores álbuns de 2004] 12º - Blonde Redhead - Misery Is a Butterfly


Tal como os Clientele em The Violet Hour (editado poucos meses antes),o que guia os Blonde Redhead em Misery is a Betterfly parece a procura da canção pop perfeita. Esta é uma luta antiga que coloca Brian Wilson e The La's no mesmo barco. Objectivo cumprido.

sábado, 20 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 13º - Saul Williams - Saul Williams


Um gajo que usa uma toalha de samples hardcore/industrial para "rappar" sobre política, guerra e afins evitando as rimas e a abordagem mais convencional. Não é uma surpresa pois este álbum homónimo é já o segundo de Saul Williams, mas não deixa de ser um dos discos de hip hop (?) mais desafiantes do ano.

[Os melhores álbuns de 2004] 14º - Scissor Sisters - Scissor Sisters


O primeiro álbum dos Scissor Sisters, que vai dos Bee Gees a Elton John (e até aos Pink Floyd), é um clássico, sabemos hoje. Um disco bem humorado em modo greatest hits com um apelo ao público indie que infelizmente não se voltou a repetir.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 15º - The Concretes - The Concretes


The Concretes é o culminar de nove anos de trabalho - dois EPs e uma compilação - que não é mais do que a fusão desses dois EPs - dos suecos e uma carta de amor ao continente americano - aos Velvet Underground, às girl groups, aos Mazzy Star.

[Os melhores álbuns de 2004] 16º - Dungen - Ta Det Lugnt


Hoje, em 2014, o psicadelismo foi reabilitado, fazendo parte do calendário de edições das mais prestigiadas publicações dedicadas à música. Hoje, em 2014, um novo álbum dos Tame Impala será sempre um dos mais aguardados da agenda discográfica anual. Ontem, em 2004, não era bem assim, as edições psicadélicas não eram tão celebrada. Ontem, em 2004, um tipo sueco, o multi-instrumentista Gustav Estjes, que, à imagem de Kevin Parker dos Tame Impala, a única cara do projecto, edita Ta det lugnt, aquele foi provavelmente o grande disco de rock psicadélico de 2004.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 17º - Flotation Toy Warning - Bluffer's Guide to the Flight Deck



1 de Setembro de 2004: Bluffer's Guide To The Flight Deck, dos Flotation Toy Warning chega às lojas. 14 de Setembro de 2004: o mundo treme com a edição de Funeral, a estreia discográfica perfeita, perfeita dos Arcade Fire, e respectivo burburinho.  

1 de Setembro de 2014: os Flotation Toy Warning cairam no esquecimento. Terão chegado ao fim? 14 de Setembro de 2014: os Arcade Fire são uma das maiores bandas do mundo. 

A comparação é inevitável, os paralelismos óbvios: produção rica, álbum emocional, registo catártico. Na altura, os Arcade Fire ainda não era uma inspiração. Os Flotation Toy Warning fartaram-se de ser comparados a Flaming Lips e Mercury Rev (faz todo o sentido) para, por fim, à imagem das suas referências, caírem na irrelevância.

[Os melhores álbuns de 2004] 18º - A.C. Newman - The Slow Wonder


Carreira a solo após carreira a solo, os The New Pornographers têm vindo a provar que, embora também valha a pena, o todo não supera a soma das partes. Ainda antes de Dan Bejar editar o seu melhor disco como Destroyer, Kaputt, A.C. Newman lançou um magnifico disco que a geração The O.C. abraçou e que tem como grande inspiração outro magnífico álbum pop, Chutes Too Narrow dos Shins.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 19º - Devendra Banhart - Rejoicing Hands / Nino Rojo


Seria difícil situar a "New Weird America" no tempo se não fosse pela famosa capa da Wire, a de Agosto de 2003. Assim, numa das (mais de) 1001 caras da publicação de referência, David Keenan antecipava os anos de ouro do género - Devendra Banhart editaria Rejoicing Hands (primeira parte de um projecto maior que só terminaria meses depois, com Niño Rojo) e, um ano depois, a obra-prima Cripple Crow. Rejoicing Hands, que conta com Michael Gira na produção, é um dos pilares de um género que, apesar da magnifica história que o originou, nasceu com os dias contados. Ainda assim, entre 2003 e 2000 e qualquer coisa, Joanna Newsom, as CocoRosie e os Wooden Wand ainda teriam algo a acrescentar. 

[Os melhores álbuns de 2004] 20º - !!! - Louden Up Now


A experiência sempre foi melhor ao vivo do que em disco, mas nem esta premissa retira a Louden Up Now o estatuto de um dos melhores discos de dança lançados nos 00s - 66 minutos e nove temas que parecem um só. Nesta altura muito associados à DFA (The Rapture, LCD Soundsystem), a singularidade dos Chk Chk Chk (ou tʃk, tʃk, tʃk ou !!! ou o raio que os parta) começava no nome a acabava em palco, com o carismático Nic Offer louco, de um lado para o outro, de calções e a abanar a anca. No final de um manifesto punk-funk, carregado de referências políticas, um veredicto: a doença (a guerra, a de Bush e Blair, a do Iraque) e a cura: dançar, dançar durante 66 incríveis minutos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

[Semana 01-12-04] Jay-z e Linkin Park editam "Collision Course"


O mundo precisava mesmo de um mashup entre Jay-z e Linkin Park? Não, mas as contas bancárias dos envolvidos terão achado que sim. E o tempo deu-lhes razão. Afinal de contas, se a coisa até resultou de forma ilegal com o Grey Album (White Album dos Beatles e o Black Album do próprio Jay-z) porque não tentar a coisa pelas vias legais? Jay-z sempre se soube misturar, de R. Kelly a Kanye West. Surpreendeu na escolha de um alvo fácil como os Linkin Park para uma nova colaboração. Mais uma vez, a conta bancária terá achado que valia a pena. E o tempo, claro, deu-lhe novamente razão. Mais de 5 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Bem bom para uma altura em que cada vez se vendiam/vendem menos discos.

Collision Course equilibra os beats e rimas de Jay-z com os riffs e a gritaria dos Linkin Park. A vantagem vai, claro, para o rapper, cujo catálogo dá 10 a 0 ao da banda de Mike Shinoda e Chester Bennington. Por vezes, Jay-z rappa sobre os instrumentais banais dos Linkin Park, noutras é a vez dos Linkin Park a tentarem à força combinar o seu material com as produções de Jay-z. Se podíamos pegar em quaisquer dois discos e fazer o mesmo? Sim, na altura saíram alguns mashups do género, a fórmula gastou-se rapidamente. Danger Mouse safou-se bem, as contas bancárias dos envolvidos neste projecto também. Voltem lá a ouvir isto e digam-nos depois se a colaboração entre Lou Reed e Metallica continua a ser assim tão má.