sábado, 23 de abril de 2016

[Semana 18-04-06] Islands editam "Return to the Sea"


Os Islands surgem depois das diferenças criativas entre Alden "Ginger" Penner e Nick Diamonds, eles que no inicio da década, como Unicorns, desconstruíram a canção pop. Islands é o projecto de Diamonds e soa bem mais comportado. Não quer isto dizer que sigam um livro de regras, mas revelam alguns cuidados. Com a melodia, principalmente. E um apelo épico a que não serão alheios Richard Perry e Sarah Neufeld, colaboradores dos Arcade Fire que participam em Return to the Sea. Os primeiros dois minutos dos nove que compõe "Swans (Life After Death)", aliás, lembram o crescendo de uma "Neighborhood #1 (Tunnels)". Um dos discos mais desafiantes do ano, do hip hop ao country, passando por algumas influências tropicais.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

[Semana 18-04-06] Maritime editam "We, the Vehicles"


Não foram fáceis os primeiros anos dos Maritime. A ideia era superar a anterior vida dos membros (enquanto The Promise Ring e Dismberement Plan), mas a recepção ao primeiro álbum, Glass Floor, pode ser resumida neste texto da Pitchfork. É por isso que a qualidade destas canções é recebida com alguma surpresa. O aumento do nível de maturidade é assinalável e We, The Vehicles aproveita o balanço do pós-punk da moda, combinando esse som com algo mais maduro e próximo dos Death Cab For Cutie. Os Maritime ainda existem e este pode ter sido o álbum que os salvou.

O que aconteceu na semana de 11-04-2006?


Notícias/Concertos:

- É diagnosticada leucemia linfoblástica aguda a Arthur Lee.

- The Prodigy são confirmados no Sudoeste tmn.

- 50 Cent é confirmado no Super Bock Super Rock.

- Dirty Pretty Things actuam no Santiago Alquimista.

Disco da Semana: 

Moonspell - Memorial

É um exercício interessante assistir à recente polémica entre os Moonspell e os críticos nacionais, com os primeiros a apontar a negligência mediática dos segundos ao metal. Os Moonspell em 2006 gozavam de uma atenção que não notamos em 2016. Não eram referenciados por webzines como a Pitchfork ou a Fader, mas tinham a atenção das influentes Sputnikmusic e da Pop Matters. É de valor. Era. De facto, em 2016, acompanhando a perda de força do género, sobram apenas os blogues e sites dedicados ao género, os meios especializados. Há uma perda de interesse do grande público que não está a ser contabilizada: basta pensar na quantidade de festivais que os Moonspell faziam há dez anos. Memorial foi o sétimo disco em 11 anos e mantinha a tradição de não repetição, característica que foi distinguindo a banda de Fernando Ribeiro ao longo das últimas duas décadas e dos vários registos discográficos. Aqui a novidade estava no protagonismo dos sintetizadores.


Outras Edições:

The Fiery Furnaces - Bitter Tea
Killing Joke - Hosannas from the Basements of Hell
NOFX - Wolves in Wolves' Clothing
Spank Rock - YoYoYoYoYo
Secret Machines - Ten Silver Drops
The Charlatans - Simpatico The Zutons - Tired of Hanging Around
Drive-By Truckers - A Blessing and a Curse
Erasure - Union Street

Citações com dez anos: 

- “Alguma vez fiz uma saudação nazi? Digam-me vocês... Eu não sou uma porcaria de um nazi!" (Bobby Gillespie)

Obituário: 

- Proof, rapper dos D12, é morto à saída de um clube nocturno em Detroit. Tinha 32 anos.

O que aconteceu na semana de 04-04-2006?


Notícias/Concertos:

- Mike Patton e Sofa Surfers actuam na Casa da Música e Danko Jones no Paradise Garage.

- Eagles Of Death Metal actuam no The Tonight Show with Jay Leno.



Pearl Jam actuam no Late Show With David Letterman.


Disco da Semana: 

The Streets  - The Hardest Way to Make an Easy Living

A Grand Don’t Come For Free era praticamente insuperável. Não surpreende, portanto, que este The Hardest Way to Make an Easy Living tenha sofrido duras críticas. Mike Skinner mantinha qualidades, mas, tal como no que sobrou da história dos The Streets depois deste terceiro registo, estas foram perdendo força. Em 2006, o grime esgotava-se. Morreu.


Outras Edições:

Pretty Girls Make Graves - Élan Vital
LL Cool J - Todd Smith
Daniel Powter - Daniel Powter
Eagles Of Death Metal - Death By Sexy
X-Wife - Side Effects
Mind da Gap - Edição Limitada
Josephine Foster - A Wolf in Sheep's Clothing
Built to Spill - You in Reverse

Citações com dez anos:

- "Tratou-nos como samples. Ao invés de tocar uma guitarra, ele pegou num pequeno loop e usou-o para que soasse explosivo. Nem sequer soa como uma guitarra." (Luke Jenner, vocalista dos The Rapture, sobre Danger Mouse)

- “O álbum é sobre aquele receio anónimo que surge quando estás no trânsito a pensar: "estou certo de que devia estar noutro sitio qualquer." (Thom Yorke)

- "Soa a um cruzamento entre Led Zeppelin e Earth, Wind & Fire." (Tom Morello sobre o 3º álbum dos Audioslave)

- "O facto dos Arctic Monkeys estarem a ter tanta atenção é apenas baseado no facto do negócio mainstream ser uma data de atrasados mentais." (Thom Yorke)

- "Não sei se volto a dizer que isto [dos Gorillaz] acabou. Retirar e depois regressar é uma cena muito hip-hop." (Damon Albarn)

- "Tivemos um excelente almoço com os Sparks há uns meses e foi feita uma desafiante sugestão. Há um espírito similar a unir as duas bandas" (Alex Kapranos)

O que aconteceu na semana de 28-03-2006?


Notícias/Concertos:

- Bauhaus são confirmados no Festival Paredes de Coura.

- John Butler Trio actua na Aula Magna e The Sisters of Mercy e Boss AC no Coliseu dos Recreios.

- "Crazy" dos Gnarls Barkley faz história e torna-se no 1º single a atingir o Número 1 existindo apenas enquanto formato digital.


Disco da Semana: 

Morrissey - Ringleader of Tormentors

Com as óbvias diferenças, a carreira a solo de Morrissey pode ser comparada à de Frank Black: discografia homogénea, muitos furos abaixo das bandas que os transformaram em lendas vivas, respetivamente os Smiths e os Pixies. Outra comparação arriscada: a partir de You Are the Quarry (disco de 2004, o regresso sete anos depois de Maladjusted), Morrissey começou a parecer um Woody Allen da música, gravando em cidades diferentes, com resultados relativamente pobres. A este Ringleader of the Tormentors faltam momentos que o distingam, como a bela “Dear God Please Help Me”, canção que resume um álbum existencial, mas nem por isso essencial. Regressando a Woody Allen, à imagem do filme italiano do cineasta, as referências (Roma, Pasolini, Piazza Cavour, Visconti, Magnani) são fáceis, comuns. Resumindo: cliché. A Itália que o incendiário ex-Smiths trouxe para aqui é turística, universal. Mas, mais importante do que tudo isto, o oitavo álbum de estúdio confirmava que Morrissey estava de volta e fazia questão que o notássemos: da recusa em dar concertos no Canadá às críticas aos Arctic Monkeys, a atenção mediática estava lá. O vegetariano mais célebre do mundo estava de volta.



Outras Edições:

Flaming Lips - At War with the Mystics
Revistados - Revistados 25-06
Nine Inch Nails - Every Day Is Exactly the Same EP
Bubba Sparxxx - The Charm
Pink - I'm Not Dead
Lamb of God - New American Gospel
Fingertips - Catharsis

Citações com dez anos::

“Acho que o 2º álbum vai ser diferente." (Alex Turner)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

[Semana 28-03-06] Ghosface Killah edita "Fishscale" e T.I. edita "King"


Dois clássicos do hip hop do século XXI editados no mesmo dia. Mesmo na idade de ouro do hip hop, seja ela qual for, seria pouco provável. 

O de Ghosface Killah não é surpresa. Desde o "fim" dos Wu-Tang Clan que se afirmou, entre os 9, como dono da melhor carreira a solo. As referências não serão muito diferentes das que ainda hoje apresenta - afinal de contas, a cada disco que edita, o rapper baralha e volta a dar -, mas aqui surge na condição de contador de histórias que soam frescas e uma produção ao cuidado de pesos pesados como J. Dilla, Dr. Dre, Just Blaze e MF Doom.

King de T.I. é ponto de partido para a década de hip hop que se seguiu. Sim, é assim tão importante e poderíamos fechar este texto aqui. É um barómetro para o que se seguiu entre 2006 e hoje, mas na altura significou uma viragem em relação ao hip hop mais sulista do rapper. Vendeu meio milhão de cópias, mas é interessante pensar no que aconteceria se tivesse sido editado hoje (ou ontem) numa altura em que o negócio é essencialmente digital. Mais tarde, ainda no mesmo ano, haveria de colaborar com Justin Timberlake no celebrado Future Sex/Love Sounds. Queria ser o Rei do Sul, acabou Rei disto tudo. 



sábado, 2 de abril de 2016

[Semana 28-03-06] The Flaming Lips editam "At War With The Mystics"


You think you’re so radical, I think you ought to stop (say what?) But you’re going international, they’re going to call the cops (no, no, no) You’re turning into a poor man’s Donald Trump I know those circumstances make you want to jump Oh no"

Há algo de profético nas palavras de “Free Radicals”, segunda canção do 11º álbum dos The Flaming Lips. É um pormenor que diz muito em relação à pose da banda de Wayne Coyne. A bizarria e o nonsense com que tratam questões profundas não é para ser levado à letra. Em termos práticos, pode tornar-se inócuo apelidar os The Flaming Lips de banda psicadélica. São muito mais do que isso. O grupo criou uma identidade própria assente na sua imprevisibilidade, com bons ou maus resultados. Este At War With The Mystics (sim, título e disco de sensibilidade política) está do lado dos bons.