sexta-feira, 20 de maio de 2016

[Semana 09-05-06] The Black Angels editam "Passover"


Depois da estreia dos Black Mountain, a de outros "Black", membros da mesma linhagem rock. Os Black Angels têm em Passover um disco político como tantos outros da primeira década dos zeros que se focavam na obra de Bush, entre os conflitos no Afeganistão e no Iraque. Para isso, os Black Angels optam por um ângulo menos óbvio: centram as letras do álbum na Guerra do Vietname para estabelecer tangentes à do Iraque. E esta ideia de ir buscar a guerra mais antiga para explicar a mais recente que serve também para descrever um som do presente que não é mais que o passado (blues, psicadelismo, stoner, etc) que aqui reciclam com resultados muito interessantes.

terça-feira, 17 de maio de 2016

[Semana 09-05-06] Beirut editam "The Gulag Orkestar"


DeVotchKa e Gogol Bordello ganhavam atenção, esta ideia de música de leste para indies ganhava força e em breve chegaria ao seu estado de graça. Para isso muito contribuiu Zach Condon, nesta altura um miúdo de 19 anos, inegável talento de voz sofrida, quase quase a resvalar para a choradeira. The Gulag Orkestar é então world music para indies, música sem guitarras, mas tão emocional quanto possível. Incontornável estreia.

[Semana 09-05-06] Raconteurs editam "Broken Boy Soldiers"


Imaginem que tinham oportunidade de colaborar com o vosso melhor amigo e até calha desse vosso amigo ter talento. Os Raconteurs são isso, o encontro entre um amigo (Jack White) com um amigo (Brendan Benson) que, por sua vez, convida outros dois amigos (Jack Lawrence e Patrick Keeler). O resultado é bom: rápido, com boas melodias, bons riffs, boas canções. E, vá, numa altura em que Jack White ainda é “apenas” os White Stripes, vale a pena assinalar a existência de uma banda com baixista.





O que aconteceu na semana de 09-05-2006?


Notícias: 

- Morrissey e Yeah Yeah Yeahs são confirmados no Festival Paredes de Coura.

- Lazemby, Brakes e Zero 7 são confirmados no Sudoeste tmn.

- Arctic Monkeys actuam no Paradise Garage e Keane sobem ao palco da Aula Magna.

Disco da Semana: 

Burial - Burial

É difícil imaginar um mundo sem Burial, sem este som que parece que esteve sempre aqui. O dubstep que inventou é uma coisa anterior ao seu tempo, um tempo que viria acontecer nos anos que se seguiram, com o misterioso produtor também a fazer parte da história e a aprimorá-lo com esse documento fundamental de nome Untrue. Ao querer ficar longe dos holofotes, Burial acaba por criar uma aura misteriosa em redor da sua persona. Burial, esta estreia, é de culto, e é fundamental para perceber a música de dança (não muito dançável) dos últimos dez anos. Poderíamos ter mencionado a fusão de 2-step, jungle e UK garage lá atrás, mas este disco é muito mais do que uma soma de estilos.

Outras Edições

Orson - Bright Idea
The Raconteurs - Broken Boy Soldiers
Phoenix - It's Never Been Like That 
Beirut - Gulag Orkestar
Hoobastank - Every Man For Himself
Christina Milian - So Amazin'

Citações com dez anos:

- "Não quero tretas [acusações de] ser um traidor ou acabar com a banda... isto foi feito com a bênção [do grupo]" (Thom Yorke antecipando críticas relativamente ao seu álbum a solo, "The Eraser")

O que aconteceu na semana de 02-05-2006?


Notícias: 

- Mattafix, Jahcoustix & Dubios Neighbourhood e WhoMadeWho são confirmados no Sudoeste tmn.

- Xutos & Pontapés e espanhóis Deluxe são confirmados no Festival Vilar de Mouros.

Disco da Semana: 

Red Hot Chili Peppers - Stadium Arcadium 

Este disco esteve para ser triplo. Mais do que uma boa frase para começar um texto em que não há muito para dizer, esta afirmação é factual. A malta dos Red Hot, eles que gravaram coisas bastante interessantes ao longo de uma aqui já longa carreira, decidiu lançar o seu álbum megalómano, este Stadium Arcadium. Em 2006 era assim, sem álbuns-surpresa, sem teasers, sem blackouts nas redes sociais. A banda lutava com as armas que tinha, ou seja, bons músicos, Rick Rubin na produção e canções orelhudas, algumas funk, mas a maior parte cada vez mais pop. Então, é mais um disco dos Red Hot, sem grandes surpresas, mas com o dobro da duração. No 2º é como desempatar um jogo importante, começamos a olhar para o relógio.


Outras Edições: 

Dirty Pretty Things - Waterloo to Anywhere 
Girl Talk - Night Ripper 
Paul Simon - Surprise
Scott Walker - The Drift
Matmos - The Rose Has Teeth in the Mouth of a Beast

Citações com dez anos: 

- "Estas canções são a última declaração do Johnny [Cash], Esta é a música que queria que nós ouvíssemos." (Rick Rubin, sobre os últimos dois inéditos de Johnny Cash editados)



- "Vejo isto como algo a longo termo. Além disso, nunca tive oportunidade de gravar com um baixista nos The White Stripes." (Jack White sobre os The Raconteurs)

- "Este será um dos melhores álbuns dos últimos 20 anos." (Brandon Flowers, sobre "Sam's Town")

- “É triste que as pessoas roubem uma versão de fraca qualidade só porque um idiota a colocou na Internet." (Flea, sobre o leak de "Stadium Arcadium")

Obituário:

- Grant McLennan, fundador dos The Go-Betweens, vítima de um ataque cardíaco.

sábado, 7 de maio de 2016

[Semana 02-05-06] Matmos editam "The Rose Has Teeth in the Mouth of a Beast"


Registo conceptual: canções que são retratos musicais de importantes figuras gay, tanto a um nível histórico como cultural. O 5º disco dos dois Matmos é aquilo que promete e percebemos isto logo pelos títulos das canções que têm nomes das referidas personalidades escarrapachados: DJs, escritores, filósofos, cineastas e até feministas que tentaram assassina Andy Warhol. Simplificando: é um disco de dança com muitos géneros lá dentro. 

[Semana 02-05-06] Scott Walker edita "The Drift"


Scott Walker em 2006, um acontecimento, certo? Certo. O último álbum datava de 95, o anterior de 84 e o anterior a esse era de 74. Paradoxalmente, ao longo dos últimos anos, Walker tem-se revelado mais inspirado do que a partir do ano da Revolução de Abril. Não que o 25 de Abril alguma vez lhe tenha dito alguma coisa, mas é uma ponte interessante para o que se passa neste The Drift. E, entre muitas outras coisas, o que se passa neste The Drift é a guerra. Enquanto tema. Seja a II Mundial ou a mais recente contra o terrorismo (o 9/11). Claro que o ambiente é pesado, por vezes arrepiante. É um daqueles álbuns que fica bem dizer que gera mais perguntas que respostas. Até  porque é verdade. Soa a uma dramatização de um álbum que Scott Walter terá desenhado em primeira instância. 

O que aconteceu na semana de 25-04-2006?


Notícias: 

- Soulfly, Devil in Me, Twenty Inch Burial, Cinemuerte, Bizarra Locomotiva, Dapunksportif, If Lucy Fell, X-Wife e The Vicious Five, dEUS, The Cult, Editors, Keane, The Legendary Tigerman, Linda Martini, Peace Revolution, The Weatherman, Kalibrados, Boss AC, Patrice, Colectivo Footmovin´, Mercado Negro, Factos Reais e Mind da Gap fecham cartaz do Super Bock Super Rock XL.

- Kings of Convenience actuam na Aula Magna, Tom Zé na Culturgest e Fear Factory no Incrível Almadense.

Disco da Semana: 

Neil Young - Living With War

Living With War é um declarado disco de protesto. É contra Bush e tudo o que rodeou os dois acidentados mandatos do antecessor de Obama. Quer isto dizer que há referências à Guerra do Iraque, o aumento dos preços do petróleo e o Furacão Katrina. Ao contrário dos muitos músicos contemporâneos, não se deixou ultrapassar pela idade digital. Living With War acabou por ser disponibilizado em streaming. Para acabar, uma frase feliz/infeliz (decidam vocês) do crítico do Austin Chronicle, que assim descreveu o disco: “American Idiot for hippies”.


Outras Edições:

Tool - 10.000 Days
Pearl Jam - Pearl Jam 
Snow Patrol - Eyes Open
António Variações - A História De António Variações - Entre Braga E Nova Iorque...
Cesária Évora - Rogamar 
Kussondulola - Guerrilheiro 
Gomez - How We Operate 
Mobb Deep - Blood Money

Citações com dez anos:

- "Cresci tanto desde o "Fallen"... e o [guitarrista] Terry Balsamo é o parceiro de escrita perfeito. Sinto que subi a todo um novo nível de inspiração e possibilidades." (Amy Lee em antecipação a "The Open Door")

O que aconteceu na semana de 18-04-2006?


Notícias: 

- Black Dice actuam em Vila Nova de Famalicão e os Pendulum vão ao Swing Club (Porto),

- Marcelo D2 é confirmado no Sudoeste tmn.

- É publicado o último jornal Blitz.

Disco da Semana: 

Gnarls Barkley - St. Elsewhere

Pode dizer-se que St. Elsewhere completa a ponte para a idade digital do single. Do single, sublinhamos, pois o mercado do download foi essencialmente definido assim, por canções soltas. Estávamos ainda longe da propagação do streaming que domina o mercado em 2016. “Crazy” é então o primeiro single a atingir o #1 do top britânico numa altura em que existia apenas em formato digital. Antes dos Gnarls Barkley, Cee Lo Green e Danger Mouse eram relativamente conhecidos. Danger Mouse afirmava-se como fenómeno da Internet: The Grey Album, Demon Days dos Gorillaz e o álbum colaboração com MF Doom. Cee Lo vinha investindo na sua carreira a solo, depois de sete anos de Goodle Mob. Nenhum dos dois estaria à espera que este divertido combo soul, funk e hip hop fosse alvo de tamanha atenção. Tanto a nível crítico e comercial, o ano foi deles.


Outras Edições: 

Cult of Luna - Somewhere Along the Highway
Godsmack - IV
Rihanna - A Girl Like Me
Bruce Springsteen - We Shall Overcome: The Seeger Sessions
White Rose Movement - Kick
Feist - Feist Open Season
Arctic Monkeys - Who the Fuck Are Arctic Monkeys? EP

Citações com dez anos: 

- "São as mesmas paixões e os mesmos problemas, embora os problemas estejam mais silenciados. Eu continuo a ser o centro das atenções." (Iggy Pop sobre o 1º álbum dos Stooges desde 1973)

- “George W Bush deveria ver o seu mandato impugnado. É um mentiroso, sendo que as suas mentiras deixaram milhões na miséria. Não trouxe nada de bom a não ser para os bilionários corporativos ligados ao petróleo." (Flea)

sábado, 23 de abril de 2016

[Semana 18-04-06] Islands editam "Return to the Sea"


Os Islands surgem depois das diferenças criativas entre Alden "Ginger" Penner e Nick Diamonds, eles que no inicio da década, como Unicorns, desconstruíram a canção pop. Islands é o projecto de Diamonds e soa bem mais comportado. Não quer isto dizer que sigam um livro de regras, mas revelam alguns cuidados. Com a melodia, principalmente. E um apelo épico a que não serão alheios Richard Perry e Sarah Neufeld, colaboradores dos Arcade Fire que participam em Return to the Sea. Os primeiros dois minutos dos nove que compõe "Swans (Life After Death)", aliás, lembram o crescendo de uma "Neighborhood #1 (Tunnels)". Um dos discos mais desafiantes do ano, do hip hop ao country, passando por algumas influências tropicais.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

[Semana 18-04-06] Maritime editam "We, the Vehicles"


Não foram fáceis os primeiros anos dos Maritime. A ideia era superar a anterior vida dos membros (enquanto The Promise Ring e Dismberement Plan), mas a recepção ao primeiro álbum, Glass Floor, pode ser resumida neste texto da Pitchfork. É por isso que a qualidade destas canções é recebida com alguma surpresa. O aumento do nível de maturidade é assinalável e We, The Vehicles aproveita o balanço do pós-punk da moda, combinando esse som com algo mais maduro e próximo dos Death Cab For Cutie. Os Maritime ainda existem e este pode ter sido o álbum que os salvou.

O que aconteceu na semana de 11-04-2006?


Notícias/Concertos:

- É diagnosticada leucemia linfoblástica aguda a Arthur Lee.

- The Prodigy são confirmados no Sudoeste tmn.

- 50 Cent é confirmado no Super Bock Super Rock.

- Dirty Pretty Things actuam no Santiago Alquimista.

Disco da Semana: 

Moonspell - Memorial

É um exercício interessante assistir à recente polémica entre os Moonspell e os críticos nacionais, com os primeiros a apontar a negligência mediática dos segundos ao metal. Os Moonspell em 2006 gozavam de uma atenção que não notamos em 2016. Não eram referenciados por webzines como a Pitchfork ou a Fader, mas tinham a atenção das influentes Sputnikmusic e da Pop Matters. É de valor. Era. De facto, em 2016, acompanhando a perda de força do género, sobram apenas os blogues e sites dedicados ao género, os meios especializados. Há uma perda de interesse do grande público que não está a ser contabilizada: basta pensar na quantidade de festivais que os Moonspell faziam há dez anos. Memorial foi o sétimo disco em 11 anos e mantinha a tradição de não repetição, característica que foi distinguindo a banda de Fernando Ribeiro ao longo das últimas duas décadas e dos vários registos discográficos. Aqui a novidade estava no protagonismo dos sintetizadores.


Outras Edições:

The Fiery Furnaces - Bitter Tea
Killing Joke - Hosannas from the Basements of Hell
NOFX - Wolves in Wolves' Clothing
Spank Rock - YoYoYoYoYo
Secret Machines - Ten Silver Drops
The Charlatans - Simpatico The Zutons - Tired of Hanging Around
Drive-By Truckers - A Blessing and a Curse
Erasure - Union Street

Citações com dez anos: 

- “Alguma vez fiz uma saudação nazi? Digam-me vocês... Eu não sou uma porcaria de um nazi!" (Bobby Gillespie)

Obituário: 

- Proof, rapper dos D12, é morto à saída de um clube nocturno em Detroit. Tinha 32 anos.

O que aconteceu na semana de 04-04-2006?


Notícias/Concertos:

- Mike Patton e Sofa Surfers actuam na Casa da Música e Danko Jones no Paradise Garage.

- Eagles Of Death Metal actuam no The Tonight Show with Jay Leno.



Pearl Jam actuam no Late Show With David Letterman.


Disco da Semana: 

The Streets  - The Hardest Way to Make an Easy Living

A Grand Don’t Come For Free era praticamente insuperável. Não surpreende, portanto, que este The Hardest Way to Make an Easy Living tenha sofrido duras críticas. Mike Skinner mantinha qualidades, mas, tal como no que sobrou da história dos The Streets depois deste terceiro registo, estas foram perdendo força. Em 2006, o grime esgotava-se. Morreu.


Outras Edições:

Pretty Girls Make Graves - Élan Vital
LL Cool J - Todd Smith
Daniel Powter - Daniel Powter
Eagles Of Death Metal - Death By Sexy
X-Wife - Side Effects
Mind da Gap - Edição Limitada
Josephine Foster - A Wolf in Sheep's Clothing
Built to Spill - You in Reverse

Citações com dez anos:

- "Tratou-nos como samples. Ao invés de tocar uma guitarra, ele pegou num pequeno loop e usou-o para que soasse explosivo. Nem sequer soa como uma guitarra." (Luke Jenner, vocalista dos The Rapture, sobre Danger Mouse)

- “O álbum é sobre aquele receio anónimo que surge quando estás no trânsito a pensar: "estou certo de que devia estar noutro sitio qualquer." (Thom Yorke)

- "Soa a um cruzamento entre Led Zeppelin e Earth, Wind & Fire." (Tom Morello sobre o 3º álbum dos Audioslave)

- "O facto dos Arctic Monkeys estarem a ter tanta atenção é apenas baseado no facto do negócio mainstream ser uma data de atrasados mentais." (Thom Yorke)

- "Não sei se volto a dizer que isto [dos Gorillaz] acabou. Retirar e depois regressar é uma cena muito hip-hop." (Damon Albarn)

- "Tivemos um excelente almoço com os Sparks há uns meses e foi feita uma desafiante sugestão. Há um espírito similar a unir as duas bandas" (Alex Kapranos)

O que aconteceu na semana de 28-03-2006?


Notícias/Concertos:

- Bauhaus são confirmados no Festival Paredes de Coura.

- John Butler Trio actua na Aula Magna e The Sisters of Mercy e Boss AC no Coliseu dos Recreios.

- "Crazy" dos Gnarls Barkley faz história e torna-se no 1º single a atingir o Número 1 existindo apenas enquanto formato digital.


Disco da Semana: 

Morrissey - Ringleader of Tormentors

Com as óbvias diferenças, a carreira a solo de Morrissey pode ser comparada à de Frank Black: discografia homogénea, muitos furos abaixo das bandas que os transformaram em lendas vivas, respetivamente os Smiths e os Pixies. Outra comparação arriscada: a partir de You Are the Quarry (disco de 2004, o regresso sete anos depois de Maladjusted), Morrissey começou a parecer um Woody Allen da música, gravando em cidades diferentes, com resultados relativamente pobres. A este Ringleader of the Tormentors faltam momentos que o distingam, como a bela “Dear God Please Help Me”, canção que resume um álbum existencial, mas nem por isso essencial. Regressando a Woody Allen, à imagem do filme italiano do cineasta, as referências (Roma, Pasolini, Piazza Cavour, Visconti, Magnani) são fáceis, comuns. Resumindo: cliché. A Itália que o incendiário ex-Smiths trouxe para aqui é turística, universal. Mas, mais importante do que tudo isto, o oitavo álbum de estúdio confirmava que Morrissey estava de volta e fazia questão que o notássemos: da recusa em dar concertos no Canadá às críticas aos Arctic Monkeys, a atenção mediática estava lá. O vegetariano mais célebre do mundo estava de volta.



Outras Edições:

Flaming Lips - At War with the Mystics
Revistados - Revistados 25-06
Nine Inch Nails - Every Day Is Exactly the Same EP
Bubba Sparxxx - The Charm
Pink - I'm Not Dead
Lamb of God - New American Gospel
Fingertips - Catharsis

Citações com dez anos::

“Acho que o 2º álbum vai ser diferente." (Alex Turner)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

[Semana 28-03-06] Ghosface Killah edita "Fishscale" e T.I. edita "King"


Dois clássicos do hip hop do século XXI editados no mesmo dia. Mesmo na idade de ouro do hip hop, seja ela qual for, seria pouco provável. 

O de Ghosface Killah não é surpresa. Desde o "fim" dos Wu-Tang Clan que se afirmou, entre os 9, como dono da melhor carreira a solo. As referências não serão muito diferentes das que ainda hoje apresenta - afinal de contas, a cada disco que edita, o rapper baralha e volta a dar -, mas aqui surge na condição de contador de histórias que soam frescas e uma produção ao cuidado de pesos pesados como J. Dilla, Dr. Dre, Just Blaze e MF Doom.

King de T.I. é ponto de partido para a década de hip hop que se seguiu. Sim, é assim tão importante e poderíamos fechar este texto aqui. É um barómetro para o que se seguiu entre 2006 e hoje, mas na altura significou uma viragem em relação ao hip hop mais sulista do rapper. Vendeu meio milhão de cópias, mas é interessante pensar no que aconteceria se tivesse sido editado hoje (ou ontem) numa altura em que o negócio é essencialmente digital. Mais tarde, ainda no mesmo ano, haveria de colaborar com Justin Timberlake no celebrado Future Sex/Love Sounds. Queria ser o Rei do Sul, acabou Rei disto tudo. 



sábado, 2 de abril de 2016

[Semana 28-03-06] The Flaming Lips editam "At War With The Mystics"


You think you’re so radical, I think you ought to stop (say what?) But you’re going international, they’re going to call the cops (no, no, no) You’re turning into a poor man’s Donald Trump I know those circumstances make you want to jump Oh no"

Há algo de profético nas palavras de “Free Radicals”, segunda canção do 11º álbum dos The Flaming Lips. É um pormenor que diz muito em relação à pose da banda de Wayne Coyne. A bizarria e o nonsense com que tratam questões profundas não é para ser levado à letra. Em termos práticos, pode tornar-se inócuo apelidar os The Flaming Lips de banda psicadélica. São muito mais do que isso. O grupo criou uma identidade própria assente na sua imprevisibilidade, com bons ou maus resultados. Este At War With The Mystics (sim, título e disco de sensibilidade política) está do lado dos bons.

segunda-feira, 28 de março de 2016

O que aconteceu na semana de 21-03-2006?


Notícias/Concertos: 

- The Jon Spencer Blues Explosion actuam no Teatro Académico Gil Vicente

- The Cult são confirmados no Super Bock Super Rock.

- Marcelo D2, Orishas, Mesa, Tara Perdida, Pitty, GNR, The Darkness, The Gathering, Starsailor e Kasabian são confirmados no Rock in Rio Lisboa.

- Soulfly actuam no Paradise Garage e Hard Club e Damian Marley sobe ao palco dos Coliseus.

Disco da Semana: 

Yeah Yeah Yeahs - Show Your Bones

Ainda aquela ideia do segundo disco como bicho papão. 2006 era isto. A cada novo álbum de uma banda com uma estreia mais ou menos entusiasmante, havia expetativas loucas para o seu sucessor. Os Yeah Yeah Yeahs de Fever To Tell, a tal estreia entusiasmante, destacavam-se por equilibrarem com sucesso o que faziam em disco com aquilo que era revelado ao vivo. Foi a postura de Karen O e as idiossincrasias da guitarra de Nick Zinner que os colocaram no mapa das bandas indie que valiam a pena acompanhar no início do século. A tal prova do segundo disco foi então superada com Show Your Bones, um dos melhores registos rock do ano.


Outras Edições: 

The Legendary Tigerman - Masquerade 
The Vines - Vision Valley 
Howe Gelb - Sno Angel Like You
Embrace - This New Day
Be Your Own Pet - Be Your Own Pet
Ghostface Killah - Fishcale
Shakira - Oral Fixation Vol. 2
T.I. - King
Rob Zombie - Educated Horses
Fingertips - Catharsis

Citações com dez anos: 

- "Eles têm a sua própria identidade e é óptima." (Noel Gallagher sobre os Arctic Monkeys)

- "Na verdade, gosto dos Arctic Monkeys e o que quer que eu tenha dito, foi dito de um modo paternal. Espero não os ter irritado." (Morrissey Official na sequência das declarações em que disse que o sucesso dos Monkeys estava a ser demasiado rápido)

domingo, 20 de março de 2016

O que aconteceu na semana de 14-03-2006?


Notícias/Concertos: 

- Los Hermanos actuam em Viseu e Famalicão e Ursula Rucker actua apenas em Famalicão.

- Rock in Rio Lisboa confirma Jamiroquai.

- Super Bock Super Rock confirma Franz Ferdinand e Pharrell Williams.

- Black Sabbath, Blondie, Miles Davis, Lynyrd Skynyrd e Sex Pistols entram no Rock and Roll Hall of Fame.

Disco da Semana:

Dead Combo - Quando a Alma Não é Pequena

Era o segundo disco do duo e recordamos uma entrevista num então muito diferente Curto Circuito. Um dos apresentadores (não nos lembramos qual) perguntava: “Depois da estreia, o que mudou?”. A resposta: “Estamos ricos”. Sim, há um sarcasmo inerente à resposta de Tó Trips, mas a verdade é que, dez anos depois, os Dead Combo são um daquelas bandas nacionais que podem dedicar boa parte da sua actividade profissional à banda que, entretanto, correu o país e o mundo. O vasto leque de convidados não esconde alguma ambição na hora de cozinhar um disco que explora ambientes jazz e western, mas também a tradição portuguesa.

Outras edições: 

Prince - 3121
Band of Horses - Everything All the Time
Ben Harper - Both Sides of the Gun
Graham Coxon - Love Travels at Illegal Speeds 
Stephin Merritt - Showtunes 
Adam Green - Jacket Full of Danger 
Gonçalo Salgueiro - Segue a Minha Voz

Citações com dez anos: 

- "Poderá tocar nas várias formas que ele encontrou para mudar a música, ao longo de várias décadas. Do bebop ao hip hop." (Vince Wilburn, sobrinho de Miles Davis sobre a biopic que só viria a ser concretizada em 2015, "Miles Away")

- "Estamos oficialmente num hiato, talvez até tenhamos chegado ao fim." (Wes Borland sobre os Limp Bizkit)

- “Sai à noite e dancei em clubes Nova-Iorquinos. Algo que ajudou muito em canções como a "Supermassive Black Hole". Os Franz Ferdinand fizeram muito bem essa mistura de batidas de dança com guitarras alternativas. (Matt Bellamy)

domingo, 13 de março de 2016

O que aconteceu na semana de 07-03-2006?


Notícias: 

- Roberto Carlos e Jack Johnson actuam no Pavilhão Atlântico, Testament e Painstruck no Ginásio Clube, em Corroios, Sun O))) e Earth na Casa da Música e Ursula Rucker no Lux.

- As NonStop vencem o Festival RTP da Canção 2006.



- Keane, Alice in Chains e Moonspell são confirmados no Super Bock Super Rock.

Disco da Semana:

Placebo - Meds

“Someone call the ambulance, there’s gonna be an accident!”

Palavras premonitórias saídas diretamente da segunda canção do quinto álbum dos Placebo. De certa forma, Meds terá sido o canto do cisne da banda. É verdade que o trio comandado por Brian Molko editou mais dois discos, mas quantos de vocês não teriam que ir à Wikipédia para o confirmar? Ou outra: quantos de vocês sabem que no ano passado fizeram um MTV Umplugged? Os Placebo perderam a relevância da mesma forma que os Incubus (quem?) perderam a sua: com discos medianos, fórmulas repetidas e, surpresa das surpresas, um progressivo apreço por melodias FM. Serve este texto então para referir que Meds ainda traz algumas boas ideias – como as da faixa-título logo a abrir, com a colaboração de Alison Mosshart dos The Kills (estes sim, dez anos depois ainda bem vivos). “Baby, did you forget to take your meds?”, perguntam-nos nessa mesma “Meds”. De forma algo metafórica, apetece responder que sim.



Outras Edições: 

Run DMC - Checks Thugs and Rock n Roll
E-40 - My Ghetto Report Card
Lordi - The Arockalypse
Joe Satriani - Super Colossal
Sepultura - Dante XXI
A Naifa - 3 Minutos Antes da Maré Encher

Citações com dez anos: 

- "Os últimos 2 álbuns estavam cheios de loops e de caixas de ritmos. Para este disco escrevemos canções de rock eufórico." (Bobby Gillespie, mentor dos Primal Scream em antecipação ao novo álbum, "Riot City Blues")

Obituário: 

- Morre o lendário Ali Farka Touré, vítima de cancro nos ossos. Tinha 66 anos.

segunda-feira, 7 de março de 2016

[Semana 01-03-06] The Television Personalities editam "Dark Places" & Eef Barzelay edita "Bitter Honey"


Na mesma semana, o regresso dos Television Personalities (TP) de Dan Treacy e o álbum de estreia de Eef Barzelay, 15 anos depois de ter arrancado a sua carreira como músico (de suporte). Barzelay tem idade para ter vivido a primeira vida dos TP - na adolescência, nos verdes anos 80. São, de certo modo, contemporâneos e, entre outras coisas que terão em comum, está o facto de serem donos de um refinado humor e escreverem canções que relatam as histórias do seu miserável dia-a-dia - no caso de Treacy, existem provas que, caso fosse necessário, o validam: no final dos anos 90 pensou-se morto. Andou desaparecido, devido a problemas com drogas e criminalidade. O humor de mãos dadas com a auto-comiseração, portanto. Quando a isto tudo se juntam referências hip hop, ficamos uma ideia em relação ao foco do sarcasmo dos escritores de canções da década passada. Se em "Ballad of Bitter Honey", Barzelay goza: "That was my ass you saw bouncing / Next to Ludacris / It was only on screen for a second / But it was kinda hard to miss", em "Ex-Girlfriend Club", Treacy canta/fala: "Don't be fooled by looks! / I'm still daddy from the block / What time is it? / Now I can't love / We can still remember can't we / I got an email today from puff daddy". As diferenças? É a abordagem é que os distingue. Enquanto Treacy é músico de quarto antes de existirem músicos de quarto, Barzelay encosta-se escandalosamente à obra de Dylan. 

domingo, 6 de março de 2016

O que aconteceu na semana de 29-02-2006?

Concertos: 

- HIM actuam no Coliseu dos Recreios.

- DJ Premier & MC Big Shug actuam no Clube Mercado.

Disco da Semana: 

Isobel Campbell & Mark Lanegan - Ballad of the Broken Seas


Percebe-se alguma estranheza/surpresa da imprensa na altura da edição de Ballad Of The Broken Seas: a suave, bela, angelical ex-voz dos Belle And Sebastian, Isobel Campbell, casada com a áspera e cavernosa do ex-vocalista dos Screaming Trees, Mark Lanegan. Longe estaria essa mesma imprensa de imaginar que o projeto duraria sete anos e mais dois álbuns, cada um melhor que o outro. É um disco de outro tempo, mas que funcionou em 2006, em 2008 e em 2010. Continuaria a funcionar hoje pois estes dois ensinaram-nos que não falham.


Outras edições: 

- White Rose Movement - Kick
- Questlove - Babies Makin' Babies 2: Misery Strikes Back...No More Babies
- Buzzcocks - Flat-Pack Philosophy
- Neko Case - Fox Confessor Brings the Flood
- Mogwai - Mr. Beast
- Mudhoney - Under a Billion Suns
- David Gilmour - On an Island

Citações com dez anos: 

- "Algumas canções rock, algumas baladas - não inventámos a roda." (Stone Gossard, guitarrista dos Pearl Jam sobre o novo álbum da banda)

- “Soa-me a inveja, tenho uma colecção de chapéus maior, o melhor bigode e um sentido de humor mais desenvolvido." (Billy Childish sobre Jack White)

O que aconteceu na semana de 22-02-2006?

Notícias: 

- Tool, Korn, Placebo e Within Temptation são confirmados no Super Bock Super Rock.

- Alice in Chains reúnem-se.

Disco da Semana: 

Corinne Bailey Rae - Corinne Bailey Rae

Ouvimos a estreia homónima de Corinne Bailey Rae, longe de imaginar que o passado a dava como fervorosa fã dos Led Zeppelin, L7 e Veruca Salt e que o CV apontava para a presença numa banda riot grrrrl nos seus verdes anos. É difícil acreditar que esta miúda de voz doce e aspeto singelo já foi (ou ainda é) do rock. E a música que se espraia entre a soul e o jazz ainda nos acumula mais a desconfiança. O burburinho à volta de Bailey Rae foi muito, com comparações a Norah Jones e, nas mais arrojadas investidas, a Billy Holiday. O resultado acabou por provocar indiferença generalizada. Nos créditos vemos oito produtores espalhados pelas 11 canções do álbum. Tanto produtor poderia ter resultado numa coisa pouco homogénea, mas não. Soa coerentemente a aborrecido. Alguma confusão poderia ter dissipado alguma da indiferença generalizada.


Citações com dez anos: 

- "Se tivessem feito um episódio do programa da VH1, "Behind the Music", seria um episódio perfeito, carregado de divórcios e todo o tipo de porcaria. Felizmente, foi só uma falha de comunicação." (Abe Cunningham, baterista dos Deftones sobre a gravação de "Saturday Night Wrist")

- "Não oiço rádio, mas, se o fizesse, era assim que queria que soasse. Isto é a minha versão de música pop." (Mike Patton sobre o álbum de estreia do projecto Peeping Tom)

- "Ao lado dos Sex Pistols, o Rock and Roll Hall l of fame é uma mancha de mijo." (Comunicado dos próprios Pistols)

- "Acho que vamos fazer umas datas com o Kanye West. Não sei se está confirmado, mas acho e espero que aconteça. É um artista incrível" (Flea)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

O que aconteceu na semana de 15-02-2006?



Notícias: 

- Bauhaus actum no Coliseu do Porto e Tiga no Lux Frágil,

- Shakira é Guns N' Roses confirmados no Rock in Rio Lisboa.

- The Rolling Stones dão concerto gratuito na Praia de Copacabana no Rio de Janeiro.

Disco da Semana

Liars - Drum's Not Dead

O título pode ser uma ironia. De uma banda chamada Liars, há desculpa para a hesitação. Mas mais importante é perceber que a banda foi preparando a mutação que consumou com este Drum’s Not Dead. Depois da estreia apelidada de punk dançável, They threw us all in a Trench and Struck a Monument on Top, e do já muito diferente They Were Wrong, so we Drowned, muito mais aventureiro e focado na percussão (ah!), um terceiro álbum sinistro, críptico e mais focado no ruído. Drones (comparações aos Black Dice), harmonias (comparações aos Animal Collective), krautrock (provável fruto da gravação em Berlim, num antigo estúdio de rádio) e palavras quase imperceptíveis, um disco conceptual que tem nas personagens Drum e Mt. Heart Attack (estão em todos os títulos das canções) dois protagonistas: o primeiro dinâmico, o segundo estático. Faz sentido. Drum’s Not Dead e, dez anos depois, os Liars também não.


Outras Edições: 

The Weatherman - Cruisin' Alaska 
Destroyer - Destroyer's Rubies 
Isolée - Western Store

Citações com dez anos: 

- “Os Kaiser Chiefs ganharam o "best rock act", o que é perturbador. Pelo simples facto de não ser uma banda de rock." (Barry Burns, guitarrista dos Mogwai)

- “Tendo em conta que este tipo chamado Rick [Rubin] é ainda inexperiente, achámos que seria um gesto bonito ajudá-lo a entrar no mundo da industria musical. Pedimos-lhe para produzir o nosso próximo álbum. Por outras palavras, estamos muito contentes por partilhar convosco que Rick Rubin produzirá o novo álbum dos Metallica!" (Comunicado no site oficial dos Metallica)

- “As pessoas estão fartas dos Coldplay. Não nos vão ver por aí durante muitos anos." (Chris Martin)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O que aconteceu na semana de 08-02-2006?


Notícias: 

- Os U2 dominam a 46ª edição dos Grammys e levam 5 prémios: "Album Of The Year, "Best Rock Album", "Best Rock Song", "Song Of The Year" e "Best Vocal Rock Performance".

- Madonna e Gorillaz actuam nos Grammys.



- Jay-z, Linkin Park e Paul McCartney  actuam nos Grammys.



- Deftones anunciam concerto no Super Bock Super Rock.

- Roger Waters e Red Hot Chili Peppers anunciam presença no Rock in Rio Lisboa.

- Arctic Monkeys anunciam actuação no Paradise Garage.

Edições: 

The Knife - Silent Shout
Battles - EP C / B EP
Joana Machado - CRUde
Loosers - Bully Bones of Belgie

[Semana 08-02-06] Man Man editam "Six Demon Bag"


Os Man Man são pela diversão. E continuam vivos mesmo que lhes tenhamos perdido o rasto, se é que alguma vez o alcançámos. Surgem infiltrados naquela onda de bandas que declarava o seu amor pelo leste: Gogol Bordello, Beirut, DeVotchKa. Pois para o resto do mundo não era mais do que paixão e todos estes projectos são hoje mais pequenos do que na primeira década do Século XXI. À imagem dos Gogol Bordello, era mais celebrados em palco do que em disco. Não é que se tornasse medíocre, mas O efeito surpresa perdia-se. De qualquer forma, os Man Man não são como os Gogol Bordello, nem são tão bons como os Gogol Bordello. São melhores que os Gogol Bordello. 

sábado, 13 de fevereiro de 2016

[Semana 08-02-06] Jason Collett edita "Idols of Exile"


Disco injustamente esquecido de um colaborador dos canadianos Broken Social Scene que conta com a colaboração de vários colaboradores dos... Broken Social Scene. O que muda? A abordagem de Jason Collett, claro. Aproveita a baixa forma de dois dos mais importantes artistas do século XXI na categoria a que se convencionou chamar de escritores de canções ou cantautores: Josh Rouse e Ryan Adams, ambos imensamente proliferos -e talvez seja mesmo esse "o mal". Pelo menos meio disco tem que ser unanimemente composto por grandes canções, vale?

[Semana 02-02-06] Belle and Sebastian edita "The Life Persuit"


É curioso que, na mesma semana, os She Wants Revenge tenham fugido do sol da Califórnia para se refugiarem no som negro de Manchester, e os Belle & Sebastian tenham optado por um percurso inverso: para gravar The Life Persuit, os britânicos fugiram do frio escocês para gravar em Los Angeles, no sol dessa mesma Califórnia. O resultado: melodias solarengas e elementos soul e funk herdados das terras do Tio Sam  E assim continuavam a provar que havia vida para lá das saídas de Stuart David e Isobel Campbell. Magnífico disco pop.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O que aconteceu na semana de 01-02-2006?


Notícias:

- The Rolling Stones actuam no intervalo do Super Bowl.


- Gentleman é o 1º nome confirmado no Sudoeste tmn.

- Depeche Mode e The Bravery (na 1ª parte) actuam no Pavilhão Atlântico.

Disco da Semana: 

J Dilla - Donuts

A história tem tendência a repetir-se. Há coisa de um mês, escrevi sobre Blackstar, o derradeiro disco de David Bowie, referindo que era uma obra ímpar na história da industria fonográfica, um puzzle, um testamento, o enterro da derradeira personagem de Bowie – o próprio. A minha ignorância levou-me a supor que nunca um artista tinha feito algo assim. Mentira. Corrijo-o agora: J Dilla fez algo muito similar em fevereiro de 2006. Tal como Bowie, editou este Donuts praticamente no dia do seu aniversário e, apenas três dias depois, deixa-nos de forma surpreendente. Diagnóstico: nefrite lúpica e púrpura trombocitopénica trombótica. 

Terá sido no hospital, algures no verão de 2005, que criou quase tudo o que se passa em Donuts. Ao contrário de Bowie, Dilla tornou-se mais conhecido morto do que em vida, tornou-se num dos artistas mais influentes do século XXI. Basta olhar para a crítica da Pitchfork na altura em que o disco foi editado – pontuação: 7,9. Olhemos, depois, para a crítica de 2013: um perfeito 10. E esse é um dos grande temas do álbum, a falta de reconhecimento crítico e comercial. O músico terá indicado que colocou mensagens entre as letras e os samples. Conseguimos sugerir algumas: 

– Dionne Warwick – “You’re Gonna Need Me” – em “Stop”, em relação à sua ausência;

– Gene & Jerry – “You Just Can’t Win” – em “Glazed”, relativamente à luta contra o cancro;

– L V Johnson – “I Don’t Really Care” – em “Airworks”, alusão à sua subvalorização;

– Smokey Robinson & the Miracles – “A Legend In Its Own Time” – em “One Eleven”, registo claramente sarcástico;

– The Escorts – “I Can’t Stand (To See You Cry)” – em “Don’t Cry”, alusão à sua morte.

Os Donuts a que o título se refere serão os vinis. Aqueles que sampla ao longo destas 31 faixas e os objetos que marcaram a sua obra, a sua vida. Discos soul, hip hop, rock, psicadélicos, bollyhood e de compositores clássicos. Um mundo de referências que só encontrará paralelo em Madlib. A capa dá-nos um J Dilla com um sorriso e, aparentemente, a fazer aquilo que mais gostava: a comer Donuts, como no vídeo de “Last Donut Of The Night”. Refere-se aos vinis, claro. Clássico.

Outras Edições:

P.O.S. - Audition
Train - For Me, It's You
In Flames - Come Clarity
Beth Orton - Comfort of Strangers
Belle and Sebastian - The Life Pursuit
She Wants Revenge - She Wants Revenge
KT Tunstall - Eye to the Telescope

Citações com dez anos:

- “Aqui estamos nós com o Spike Stent [o produtor] no nosso estúdio que agora parece a NASA. Sem mais tretas, sem telefones, sem desculpas para abandonar o edifício." (Thom Yorke)

- "Haverá um novo álbum no início do Verão." (Pete Townshend, anunciando o 1º disco dos The Who desde 1982)

- "Pelo que percebo, o Billy [Corgan] deve estar prestes a gravar um novo disco. Todos sabemos que ele não precisa de muito mais do que o Jimmy Chamberlin para avançar para um novo disco dos The Smashing Pumpkins. E este já está a bordo." (Melissa Auf Der Maur)

- "A banda? Acabou. A reunião aconteceu por uma boa causa, para passarmos por cima das nossas más relações e não para nos virmos a arrepender." (David Gilmour, em relação a uma eventual reunião dos Pink Floyd)

domingo, 31 de janeiro de 2016

O que aconteceu na semana de 25-01-2005?


Notícias: 

- "Whatever People Say That I Am, That's What I'm Not", a estreia dos Arctic Monkeys, torna-se no álbum britânico mais vendido de sempre na durante a 1ª semana, com 363,735 cópias vendidas.

Disco da Semana: 

Arctic Monkeys - Whatever People Say That I Am, That's What I'm Not

Em 2006, esta semana foi dominada pela estreia dos Arctic Monkeys. Dez anos depois, tentamos dar alguma ordem a Whatever People Say That I Am, That’s What I’m Not. O que significou? Olhemos para a atitude, o contexto e o momento da mais celebrada banda britânica da última década. A atitude. 

A espontaneidade de quatro miúdos de Sheffield que surgiam em palco vestidos com roupas normais, longe da indumentária cool dos rapazes que os teriam inspirado em primeiro lugar: The Strokes. Se para a banda de Nova Iorque tudo era pose, no caso dos Arctic Monkeys a atitude parece ser de sabotagem constante. A ausência de editora, a partilha de canções na Internet e a escolha de uma Domino que em 2006 era os Franz Ferdinand, The Kills e pouco mais falam por si. No vídeo de “I Bet You Look Good On The Dancefloor”, um tímido Alex Turner atira: “don’t believe the hype”. Estes elementos de auto-sabotagem, de autoflagelação eram comuns: por exemplo, logo a abrir o disco, em “The View of the Afternoon”, cospe-se: “Anticipation has a habit to set you up for disappointment”. 



O contexto. Whatever People Say That I Am, That’s What I’m Not é um daqueles álbuns que corta o tempo ao meio – foi o primeiro disco a aproveitar-se de forma óbvia da Internet, no geral, e da rede social do momento (o MySpace) em particupar. Bateu recordes de vendas – quase 120 mil cópias no primeiro dia (mais do que todos os restantes 19 do top 20… todos juntos) e mais de 360 mil na primeira semana, números ainda por superar. Não será ousado referir que o mundo mudou. 


O momento. Pete Doherty andava a saltar entre clínicas de reabilitação, Amy Winehouse ainda não tinha acontecido (Back to Black só chegaria meses depois) e o NME, na sua eterna adolescência, procurava uma referência para substituir uns acabados Libertines. Os Arctic Monkeys eram perfeitos: a maturidade das letras, a forma como Turner captava os hábitos do adolescente britânico – miúdas e noitadas, basicamente – e uma energia capaz de unir uma geração. Os primeiros anos do milénio surgem impecavelmente retratados nestas 14 canções. Portanto, se nasceram algures entre 1983 e 1990, digam-nos, quanto tempo passaram a repetir estas letras no AZLyrics?

Outras Edições: 

Gossip - Standing in the Way of Control
The Kooks - Inside In/Inside Out
P.O.D. - Testify 

[Semana 25-01-06] East River Pipe edita "What Are You On?"


Ao contrário do que se vai fazendo crer nos dias de hoje, os artistas de quarto já existem desde os anos 60, quando Brian Wilson se terá trancada num estúdio caseiro para gravar uma trilogia de discos dos Beach Boys. Isto para referir que, quando o New York Times escreve que Fred Cornogs é "o Brian Wilson da gravação caseira", a afirmação soa redundante. Em 2006, East River Pipe, o projecto, assinalava já os 17 anos, décadas de droga e álcool. E é esse o tema central do disco: as drogas. Tudo de forma honesta e sem grande subterfúgios.  E com óptimas melodias. 

sábado, 23 de janeiro de 2016

O que aconteceu na semana de 18-01-2005?


Notícias: 

Cartaz do Coachella é anunciado. Cabeças de cartaz: Depeche Mode, Tool, Daft Punk e Madonna;

- All Saints reúnem-se.

Disco da Semana: 

Cat Power - The Greatest

Como é que um disco tão inspirado nos anos 60 e 70 acabou por ganhar um estatuto de clássico de culto em 2006? Da mesma forma que os Franz Ferdinand sacaram o mais celebrado disco de 2004: com grandes canções. É claro que as letras oriundas de um coração despedaçado foram importantes e muitos terão sido os que se reviram nas letras de The Greatest. O álbum de Cat Power conservava o som da soul sulista de Memphis que celebrizou a Stax Records e foi gravado na cidade – nos Ardent Studios, onde tinham gravado Al Green e Booker T & the MG’s. Entre os colaboradores de The Greatest contavam-se Mabon “Teenie” Hodges, que tinha tocado com com Al Green, e o baixista Leroy “Flick” Hodges, que tinha trabalhado com Booker T. & the MGs. A consciência não retirou a imprevisibilidade a Cat Power em The Greatest, provavelmente o mais arriscado (diferente de tudo o que tinha feito anteriormente) e acessível disco de Chan Marshall. E talvez também o seu melhor – The Greatest.

Bonnie Prince Billy / Tortoise - The Brave and the Bold
Robert Pollard - From a Compound Eye
Richard Ashcroft - Keys To the World

Citações com dez anos:

“Os Blur foram uma coisa de miúdos. Não estou em contacto com o Damon Albarn e, até ver, não me arrependo minimamente." (Graham Coxon)

- "Vão ouvir música nova este ano." (Slash)

. "Não falo com o Slash há dez anos. Adoro-o e sempre quis que o mundo soubesse o quão incrível ele é, mas...". (Axl Rose)

- "É o Ano Chinês do cão, mas, na indústria musical, 2006 vai ser o Ano do Macaco." Gennaro Castaldo, especialista em tabelas de vendas)

Obituário: 

- Wilson Pickett, lenda soul da Stax Records.  Entre os grandes clássicos do artista encontram-se "Mustang Sally" e "In the Midnight Hour".

sábado, 16 de janeiro de 2016

O que aconteceu na semana de 11-01-2005?


Notícias:

- 4 anos depois do divórcio, Eminem e Kim Mathers voltam a casar.

- "Walk the Line", a biopic sobre Johnny Cash protagonizada por Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, vence 3 Golden Globes: categorias "Best Musical or Comedy Film" e "Best Actor and Actress in a movie musical or comedy".

Disco da Semana:

Morningwood - Morningwood

Num início do ano que, à excepção dos The Strokes, não trouxe nada de novo, os Morningwood beneficiaram de uma atenção que, noutro contexto, não teria sido possível. Era a primeira prometedora estreia do ano, diziam alguns, com a dos Arctic Monkeys à espreita e antecipada para o final de Janeiro. Programas de televisão, videojogos de velocidade automobilística, vídeos de promoção – o rock cru dos Morningwood estava por todo o lado, mas nem o carisma da vocalista os safou. Diziam estar apenas a divertir-se, mas a experiência não era reciproca. Era um primeiro disco banal e foi tratado como tal. Tentaram.



Outras edições:

DragonForce - Inhuman Rampage

Citações: 

- "Tem que ser mesmo bom, temos que provar a nós mesmos que o conseguimos fazer. Queremos fazer o melhor álbum desde "Abbey Road" [dos The Beatles]." (Ricky Wilson, sobre o 2º álbum dos Kaiser Chiefs)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O que aconteceu na semana de 04-01-2005?


Notícias: 

- "Whatever People Say That I Am, That's What I'm Not", a estreia dos Arctic Monkeys é antecipado em uma semana. Motivo: leak do disco.

- Apple Inc. revela que vendeu 32 milhões de iPods em 2005.

Disco da Semana: 

The Strokes - First Impressions on Earth

Em Retromania de Simon Reynolds, o autor dedica um pequeno espaço a algo que chama de "discos não coleccionáveis", aqueles discos que não são suficientemente maus para ser cool juntar à colecção. Serve esta referência para, passe o exagero, dizer que First Impressions on Earth é o primeiro disco que o fã de Strokes ouve com desdém. Vem cinco anos depois de Is This It?, irrepetível clássico rock 'n' roll a abrir o século, um daqueles que só vem de tempos a tempos e que uma banda dificilmente conseguirá igualar. É preciso repetir o "erro" duas vezes. Is This It? é um erro, pois nestas andanças falhar é a norma. As expectativas enormes que rodearam Room on Fire dissiparam o pressão que se adivinhava a cada disco dos Nova Iorquinos. Mas não. Não, porque o segundo álbum, embora não seja incrível, é tido como muito bom. Ou seja, a qualidade caiu, sim, mas sabemos que o raio não cai duas vezes no mesmo sitio e, como tal, o muito bom, embora menor, acaba por ser suficiente. Julian Casablancas e companhia decidiram então fazer de First Impressions on Earth o seu blockbuster - oiçam "Heart in a Cage" ou "Vision of Division", por exemplo. Produção hi-fi, solos exibicionistas, virtuosismo puro. A editora ainda tentou atirar areia para a cara do consumidor "a crítica concorda que o álbum representa um regresso à melhor forma dos Strokes." Impossível, senhor Phil Penman. O tempo daria razão aos desconfiados: seguiu-se uma digressão e um hiato. Influenciados por um concerto dos Strokes, os Arctic Monkeys estavam prestes a explodir com o registo de estreia. Passagem de testemunho dos Strokes, uma das bandas mais influentes dos últimos 15 anos.


Citações com dez anos:

- "Com o "Silent Alarm" queria escrever sobre o que é ser um rapaz de 20 anos no mundo ocidental." (Kele Okereke)

- "Adoro The Smiths, mas soa-me quase tudo igual - quero ser mais como os The Who e em todos os discos mudar de som." (Mike Skinner)

- “Sinto-me inspirado por Roma porque é completamente diferente de Los Angeles, cidade onde passei a maior parte dos meus últimos anos. Por mais bonita que LA seja, esta pertence à polícia e a mais ninguém. Onde quer que vás, há polícia à espera de um motivo - por motivo nenhum - para te saltar para cima." (Morrissey Official sobre a inspiração do novo "Ringleader Of The Tormentors")

- "Ele sabe que, para chegar aos jornais, só tem que ser tão desagradável quanto possível. Quando li o que ele disse sobre nós, em 2005, soou a uma miúda do secundário extremamente neurótica." (Alex Kapranos, em relação a Liam Gallagher)

- "Já disse muita coisa sobre o disco, mas sai em Março." (Slash, sobre "Chinese Democracy", o muito adiado disco dos Guns N' Roses)