sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 1º - Arcade Fire - Funeral


Funeral quase parece pregação, um manual ao qual podemos recorrer sempre que algo nos corre mal, uma Bíblia para os desafortunados - da miséria, do amor, da morte. Foi ajudado pelas apoteóticas actuações ao vivo - missas para os destroçados, uma banda capaz de unir o mundo, salvá-lo, anunciar a paz, ganhar um Nobel. No final do dia, não era nada disto. Era apenas um conjunto de 10 canções para melómanos atentos e impressionados com a carga emocional, a imprevisibilidade e a ausência de catalogação desta dezena incrível de faixas. 

[Os melhores álbuns de 2004] 2º - The Streets - A Grand Don't Come For Free


Contas feitas, o grime foi um género de miúdos - os autores dos melhores discos do género, Dizzee Rascal e Mike Skinner, foram perdendo frescura com o passar dos anos. A Grand Don't Come For Free, álbum conceptual, balança-se entre a sorte e o azar, o jogo e o amor, o azar ao jogo, a sorte no amor, a sorte no jogo, o azar no amor, o azar no jogo, o azar no amor. Material original clássico.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 3º - Kanye West - The College Dropout


The College Dropout marca o início de uma era, a era Kanye West, do excêntrico, do paranóico, do omnipresente, do génio. Num mundo dominado por um Jay-z, Eminem e, vá, 50 Cent, a estreia de Kanye não é uma pedrada no charco, mas chega para abanar os alicerces. É um Kanye diferente, globalmente respeitado, mas menos exposto. Confiante, mas sem excessos. De The College Droupout a Yeezus, apenas um problema: o facto de não conseguir comunicar para além das canções. Qual génio incompreendido.

[Os melhores álbuns de 2004] 4º - Death From Above 1979 - You're a Woman, I'm a Machine


Num contexto em que o rock pouco ou nada trazia de novo, este som que é punk e que é dançável e que é suado acaba por soar fresco. Um baixo e uma bateria, um ritmo infernal que, ironicamente, não ficaria mal como carta fora do baralho (a par dos Rapture) na DFA de James Murphy, a mesma que obrigou Sebastien Grainger e Jesse F. Keeler a colar um ano (o último da década de 70) ao nome pensado a priori. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 5º - The Go! Team - Thunder, Lightning, Strike


Imagens VHS avulso gastas pelo tempo, divertidas onomatopeias saídas de um comic book carregado de cores alegres e divertidas, samples cortados e colados por um ex-editor do Discovery Channel e o seu irmão, rato de estúdio - os obreiros desta auspiciosa estreia. Verdadeira pedrada no charco capaz de agradar (ou desagradar) os fãs de hip hop, soul e os indies. 

[Os melhores álbuns de 2004] 6º - Madvillany - Madvillain


É o trabalho de dois ratos de biblioteca (Madlib nos beats, Doom no microfone), registo perfeito que exalta as mais valias de cada um. Madlib, mestre do diggin, das referências a filmes dos anos 40/50, dos comics, dos compositores minimalistas. MF Doom, responsável por 1001 projectos fundamentais do hip hop mais negro e obscuro. A viagem é feita de canções curtas, mas complexas e carregadas de samples. Exige tempo, exige que nos debrucemos neste documento, fruto de uma das mais aguardadas e ricas colaborações do hip hop norte-americano. Madlib e Doom são artistas complexos que se escondem por trás de máscaras e pseudónimos que variam de acordo com a abordagem e que se cruzam de projecto em projecto. São várias as referências aos vários alter egos dos dois. Madvillainy é composto por 22 peças que compõe um puzzle complexo. É incrível, já o dissemos?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 7º - Dizzee Rascal - Showtime


Terá sido o canto do cisne do efémero grime. Showtime é o último bom disco do género que nasceu no East End londrino e que nos deu duas obras primas: A Grand Don't Come For Free dos Streets e Boy in the Corner. Mantém-se a produção caseira, com beats que são bits, 8 bits, mas que também são sons de consolas e outras pérolas que servem perfeitamente às letras narcisistas de Rascal. Não é tão bom como o antecessor, mas augurava um futuro que não se veio a cumprir.

[Os melhores álbuns de 2004] 8º - Of Montreal - Satanic Panic in the Attic


É o álbum mais pop dos Of Montreal até à data. E uma ode ao psicadelismo. Os Beatles na música, na capa (referência óbvia a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) e no vídeo de "Disconnect the Dots", os Beach Boys na música, nas harmonias e um pouco por todo o lado e os Stones na referência satânica do título do disco. Uma trip. Uma magnífica.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 9º - MF Doom - MM... Food


A comida não é mais do que um meio para encaixar metáforas. MM... Food sucede Mudvillainy, a magnífica, perfeita, colaboração com Madlib, sendo que Doom usa praticamente os mesmos truques de produção de Madlib: referências ao cinema, séries de televisão e comics. Ao contrário de outras obras de Doom e apesar de, de certa forma, ser um álbum conceptual, MM... Food não cria uma narrativa sólida, uma história com principio meio e fim. Ainda que, ao lado de Mudvillainy, seja um parente pobre, não deixa de ser magnífico.

[Os melhores álbuns de 2004] 10º - The Hold Steady - Almost Killed Me


Os Hold Steady poderiam ser a banda de uma geração. Ou, pelo menos, de uma geração de jovens norte-americanos que têm em Almost Killed Me, o primeiro de seis celebrados álbuns que atingiu o cume com Boys and Girls in America, o manifesto de intenções do quinteto - as histórias do dia-a-dia de um adolescente, um diário diferente daquele que vemos na série contemporânea The O.C.

domingo, 21 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 11º - Franz Ferdinand - Franz Ferdinand


Já quase tudo terá sido dito relativamente a uma das estreias mais entusiasmantes da década passada, a dos eléctricos conterrâneos de Sir Alex Ferguson, comandados por um outro Alex de apelido Kapranos. Apesar da frescura, o homónimo dos Franz Ferdinand logo pareceu irrepetível. Infelizmente, tal como muitos dos seus contemporâneos, os que aproveitaram o balanço de Franz Ferdinand - gente como os Kaiser Chiefs, os Futureheads e os Maximo Park - os últimos dez anos têm revelado um percurso descendente. Ainda assim, as graças alcançadas são bem mais significativas que as conseguidos por quem fez a cama. Referimo-nos, claro, aos Gang of Four.

[Os melhores álbuns de 2004] 12º - Blonde Redhead - Misery Is a Butterfly


Tal como os Clientele em The Violet Hour (editado poucos meses antes),o que guia os Blonde Redhead em Misery is a Betterfly parece a procura da canção pop perfeita. Esta é uma luta antiga que coloca Brian Wilson e The La's no mesmo barco. Objectivo cumprido.

sábado, 20 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 13º - Saul Williams - Saul Williams


Um gajo que usa uma toalha de samples hardcore/industrial para "rappar" sobre política, guerra e afins evitando as rimas e a abordagem mais convencional. Não é uma surpresa pois este álbum homónimo é já o segundo de Saul Williams, mas não deixa de ser um dos discos de hip hop (?) mais desafiantes do ano.

[Os melhores álbuns de 2004] 14º - Scissor Sisters - Scissor Sisters


O primeiro álbum dos Scissor Sisters, que vai dos Bee Gees a Elton John (e até aos Pink Floyd), é um clássico, sabemos hoje. Um disco bem humorado em modo greatest hits com um apelo ao público indie que infelizmente não se voltou a repetir.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 15º - The Concretes - The Concretes


The Concretes é o culminar de nove anos de trabalho - dois EPs e uma compilação - que não é mais do que a fusão desses dois EPs - dos suecos e uma carta de amor ao continente americano - aos Velvet Underground, às girl groups, aos Mazzy Star.

[Os melhores álbuns de 2004] 16º - Dungen - Ta Det Lugnt


Hoje, em 2014, o psicadelismo foi reabilitado, fazendo parte do calendário de edições das mais prestigiadas publicações dedicadas à música. Hoje, em 2014, um novo álbum dos Tame Impala será sempre um dos mais aguardados da agenda discográfica anual. Ontem, em 2004, não era bem assim, as edições psicadélicas não eram tão celebrada. Ontem, em 2004, um tipo sueco, o multi-instrumentista Gustav Estjes, que, à imagem de Kevin Parker dos Tame Impala, a única cara do projecto, edita Ta det lugnt, aquele foi provavelmente o grande disco de rock psicadélico de 2004.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 17º - Flotation Toy Warning - Bluffer's Guide to the Flight Deck



1 de Setembro de 2004: Bluffer's Guide To The Flight Deck, dos Flotation Toy Warning chega às lojas. 14 de Setembro de 2004: o mundo treme com a edição de Funeral, a estreia discográfica perfeita, perfeita dos Arcade Fire, e respectivo burburinho.  

1 de Setembro de 2014: os Flotation Toy Warning cairam no esquecimento. Terão chegado ao fim? 14 de Setembro de 2014: os Arcade Fire são uma das maiores bandas do mundo. 

A comparação é inevitável, os paralelismos óbvios: produção rica, álbum emocional, registo catártico. Na altura, os Arcade Fire ainda não era uma inspiração. Os Flotation Toy Warning fartaram-se de ser comparados a Flaming Lips e Mercury Rev (faz todo o sentido) para, por fim, à imagem das suas referências, caírem na irrelevância.

[Os melhores álbuns de 2004] 18º - A.C. Newman - The Slow Wonder


Carreira a solo após carreira a solo, os The New Pornographers têm vindo a provar que, embora também valha a pena, o todo não supera a soma das partes. Ainda antes de Dan Bejar editar o seu melhor disco como Destroyer, Kaputt, A.C. Newman lançou um magnifico disco que a geração The O.C. abraçou e que tem como grande inspiração outro magnífico álbum pop, Chutes Too Narrow dos Shins.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

[Os melhores álbuns de 2004] 19º - Devendra Banhart - Rejoicing Hands / Nino Rojo


Seria difícil situar a "New Weird America" no tempo se não fosse pela famosa capa da Wire, a de Agosto de 2003. Assim, numa das (mais de) 1001 caras da publicação de referência, David Keenan antecipava os anos de ouro do género - Devendra Banhart editaria Rejoicing Hands (primeira parte de um projecto maior que só terminaria meses depois, com Niño Rojo) e, um ano depois, a obra-prima Cripple Crow. Rejoicing Hands, que conta com Michael Gira na produção, é um dos pilares de um género que, apesar da magnifica história que o originou, nasceu com os dias contados. Ainda assim, entre 2003 e 2000 e qualquer coisa, Joanna Newsom, as CocoRosie e os Wooden Wand ainda teriam algo a acrescentar. 

[Os melhores álbuns de 2004] 20º - !!! - Louden Up Now


A experiência sempre foi melhor ao vivo do que em disco, mas nem esta premissa retira a Louden Up Now o estatuto de um dos melhores discos de dança lançados nos 00s - 66 minutos e nove temas que parecem um só. Nesta altura muito associados à DFA (The Rapture, LCD Soundsystem), a singularidade dos Chk Chk Chk (ou tʃk, tʃk, tʃk ou !!! ou o raio que os parta) começava no nome a acabava em palco, com o carismático Nic Offer louco, de um lado para o outro, de calções e a abanar a anca. No final de um manifesto punk-funk, carregado de referências políticas, um veredicto: a doença (a guerra, a de Bush e Blair, a do Iraque) e a cura: dançar, dançar durante 66 incríveis minutos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

[Semana 01-12-04] Jay-z e Linkin Park editam "Collision Course"


O mundo precisava mesmo de um mashup entre Jay-z e Linkin Park? Não, mas as contas bancárias dos envolvidos terão achado que sim. E o tempo deu-lhes razão. Afinal de contas, se a coisa até resultou de forma ilegal com o Grey Album (White Album dos Beatles e o Black Album do próprio Jay-z) porque não tentar a coisa pelas vias legais? Jay-z sempre se soube misturar, de R. Kelly a Kanye West. Surpreendeu na escolha de um alvo fácil como os Linkin Park para uma nova colaboração. Mais uma vez, a conta bancária terá achado que valia a pena. E o tempo, claro, deu-lhe novamente razão. Mais de 5 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Bem bom para uma altura em que cada vez se vendiam/vendem menos discos.

Collision Course equilibra os beats e rimas de Jay-z com os riffs e a gritaria dos Linkin Park. A vantagem vai, claro, para o rapper, cujo catálogo dá 10 a 0 ao da banda de Mike Shinoda e Chester Bennington. Por vezes, Jay-z rappa sobre os instrumentais banais dos Linkin Park, noutras é a vez dos Linkin Park a tentarem à força combinar o seu material com as produções de Jay-z. Se podíamos pegar em quaisquer dois discos e fazer o mesmo? Sim, na altura saíram alguns mashups do género, a fórmula gastou-se rapidamente. Danger Mouse safou-se bem, as contas bancárias dos envolvidos neste projecto também. Voltem lá a ouvir isto e digam-nos depois se a colaboração entre Lou Reed e Metallica continua a ser assim tão má. 

   

domingo, 23 de novembro de 2014

[Semana 17-11-04] MF Doom edita "MM... Food"


A comida não é mais do que um meio para encaixar metáforas. MM... Food sucede Mudvillainy, a magnífica, perfeita, colaboração com Madlib. Doom usa praticamente os mesmos truques de produção de Madlib: referências ao cinema, séries de televisão e comics. Confirma a incapacidade do rapper/produtor de travar a sua veia criativa que, em poucos meses, para além das obras MF Doom, o levou à criação de discos sob os pseudónimos/alteregos Viktor Vaughn e King Geedorah. Ao contrário de outras obras de Doom e apesar de, de certa forma, ser um álbum conceptual, MM... Food não cria uma narrativa sólida, uma história com principio meio e fim. Ainda que, ao lado de Mudvillainy, seja um parente pobre, não deixa de ser magnífico.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

[Semana 10-11-04] Eminem edita "Encore"


É com Encore que Eminem dá início o período de declínio criativo que ainda hoje dura. Irónico, pois: um encore, se exceptuarmos um concerto de Eddie Vedder (com ou sem os Pearl Jam) tende a ser um fim. Em sua defesa podemos escrever que nem com os seus piores discos, os que não ligámos nenhuma, a dupla Relapse e Recovery, Eminem perdeu a relevância, principalmente se tivermos em conta a comercial. 

Mas não é apenas a decadência criativa que Encore anuncia. Meses antes Kanye West tinha-se estreado com The College Dropout. O plano de domínio global começava a ganhar forma. As listas anuais davam conta da ascensão de um e o declínio de outro. Relembre-se: estamos ainda no âmbito criativo, Eminem ainda hoje quebra records e a Internet garantiu-lhe a frescura mediática que lhe tem faltado em estúdio. 

Na altura, College Dropout tinha passado despercebido para grande parte do público de Eminem. Encore e How To Dismantle an Atomic Bomb dos U2 disputavam protagonismo e as apostas sucediam-se: qual dos dois blockbusters da reentrée "leakará" primeiro? Eminem ia dando nas vistas com o vídeo de "Just Lose It", os U2 chamavam atenções através de projetos como o Band Aid 20 e a gravação de uma nova versão de "Do They Know It's Christmas?". A polémica, o instrumento de propaganda favorito de Eminem, ele, sempre foi de alvos fáceis. Michael Jackson no vídeo de "Just Lose It", George W. Bush no de "Mosh" são os mais óbvios. Resultado: críticas em relação ao primeiro - Stevie Wonder chegou a dizer que "não se bate em alguém que já está no chão" - e problemas com a lei em relação ao segundo - em causa, a escolha das palavras: "Fuck money / I don't rap for dead presidents / I'd rather see the president dead / It's never been said, but I set precedents".

Encore é um rapper no topo do mundo, sem nada a provar. A falta de ideias deixaria-o cinco anos longe das edições.



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

[Semana 27-10-04] Death From Above 1979 editam "You're a Woman, I'm a Machine"


Bizarra a forma como os Death From Above 1979 deixam de existir quase anónimos após esta auspiciosa estreia e, meia-dúzia de anos depois regressam para uma celebrada digressão mundial que começou com o regresso-surpresa no South By Southwest. Num contexto, apesar dos Strokes e dos White Stripes - em que o rock pouco ou nada traz de novo, este som que é punk que é dançável que é suado acaba por soar fresco. Um baixo e uma bateria, um ritmo infernal que, ironicamente, não ficaria mal como carta fora do baralho (a par dos Rapture) na DFA de James Murphy, a mesma que obrigou Sebastien Grainger e Jesse F. Keeler a colar um ano, o último da década de 70, ao nome pensado a priori. Até a cowbell lá anda em "Sexy Results", a última das excelentes 11 canções de um excelente primeiro álbum.




terça-feira, 7 de outubro de 2014

[Semana 06-10-04] R.E.M. editam "Around the Sun"


Despachando a coisa rapidamente, Around the Sun é uma seca - o pior disco dos R.E.M. No meio de dez canções absolutamente dispensáveis, três que retemos (curiosamente ou não, as três primeiras): "Leaving New York" e "Electron Blue", razoáveis canções que entram no campeonato das canções a meio tempo em que a banda de Michael Stipe se foi especializando, e "The Outsiders" que convida Q-Tip, o rapper ex-A Tribe Called Quest, escabrosa tentativa de "modernidade", de adaptação ao século XXI, o século em que os R.E.M. deixaram de ser relevantes e, por fim, terminaram.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

[Semana 22-09-04] Saul Williams edita "Saul Williams"


Um tipo que evita os clichés do hip hop, embora neles caia quando crítica a MTV e toda a gratuitidade a ela associada - sim, em 2004 isto tudo até soava pertinente, embora imprevisível. Um gajo que usa uma toalha de samples hardcore/industrial para "rappar" sobre política, guerra e afins evitando as rimas e a abordagem mais convencional. Não é uma surpresa pois este álbum homónimo é já o segundo de Saul Williams, mas não deixa de ser um dos discos de hip hop (?) mais desafiantes do ano.

[Semana 22-09-04] Junior Boys editam "Last Exit"


Os Junior Boys terão sido dos primeiros a perceber o potencial da Internet que, em 2004, não dava os primeiros passos, mas ainda estava muito longe dos dias loucos de hoje. O Myspace era a cena, o YouTube ainda não existia e o Facebook não era nem uma miragem. Os dois primeiros EPs do duo foram distribuídos por bloggers com afinidades com o som dos canadianos. Last Exit pega em quatro canções desses EPs e junta-lhes mais seis que seguem a mesma linha. Sem medos, esta é a primeira vitória dos Junior Boys. O resto está no som fresco do duo, devedor daquela música de dança criada mais para ser sentida do que dançada. 

[Semana 22-09-04] Green Day editam "American Idiot"


Mais do que um disco político contra a administração Bush, seria apenas mais um no meio de tantos, American Idiot tem a seta apontada para dentro, para a América, a do 11 de Setembro, a dos fantasmas, a das guerras em nome do dólar, a América hipócrita e insegura. É sem dúvida nenhuma o disco mais ambicioso dos Green Day até à data - seguiriam-se várias edições do género a que fomos prestando cada vez menos atenção - chegando, por vezes, entre os épicos, citações/quase plágio aos clássicos do rock n' roll, canções punk e as baladuchas, a soar pretensioso. Há uma boa história a suportar isto tudo. Não, não nos referimos à jornada épica dos dois protagonistas desta aventura, St. Jimmy e Jesus Of Suburbia. Referimos-nos aquela que reza que este seria o "ou vai ou racha" da banda de Billie Joe Armstrong.






sexta-feira, 26 de setembro de 2014

[Semana 22-09-04] The Go! Team editam "Thunder, Lightning, Strike"


Imagens VHS avulso gastas pelo tempo, divertidas onomatopeias saídas de um comic book carregado de cores alegres e divertidas, samples cortados e colados por um ex-editor do Discovery Channel e o seu irmão, rato de estúdio - os obreiros desta auspiciosa estreia. Verdadeira pedrada no charco capaz de agradar (ou desagradar) os fãs de hip hop, soul e os indies com menos preconceitos. 

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

[Semana 15-09-04] Arcade Fire editam "Funeral"


Funeral quase parece pregação, um manual ao qual podemos recorrer sempre que algo nos corre mal, uma Bíblia para os desafortunados - da miséria, do amor, da morte. Foi ajudado pelas apoteóticas actuações ao vivo - missas para os destroçados, uma banda capaz de unir o mundo, salvá-lo, anunciar a paz, ganhar um Nobel. No final do dia, não era nada disto. Era apenas um conjunto de 10 canções para melómanos atentos e impressionados com a carga emocional, a imprevisibilidade e a ausência de catalogação desta dezena incrível de faixas.







quinta-feira, 18 de setembro de 2014

[Semana 15-09-04] Devendra Banhart edita "Nino Rojo"


Ouvimos Devendra Banhart a cantar sobre pardais e, mesmo que vislumbremos a metáfora inerente, não nos custa imaginar o ex de Natalie Portman a compor no meio da floresta. Não custa, pois, olhar para Banhart como um hippie fora de horas, fora do contexto que uma nova vaga de pares haveria de corrigir. Afinal havia espaço para este O.V.N.I. de letras desregradas e aspecto físico aparentemente descuidado. As canções parecem ter sido gravadas ao primeiro take, de forma despreocupada, e versam sobre macacos, caranguejos, tartarugas, corvos e porcos. Tudo muito muito bem humorado e metaforizado, apenas acompanhado com uma guitarra acústica várias vezes dedilhada. Nino Rojo é a segunda parte do projecto que havia começado com Rejoicing in the Hands, mas a exibição é boa ao longo das duas metades. Sem oscilações, como um jogador extremamente regular.

domingo, 14 de setembro de 2014

[Semana 08-09-04] Dizzee Rascal edita "Showtime"


Terá sido o canto do cisne do efémero grime. Showtime é o último bom disco do género que nasceu no East End londrino e que nos deu duas obras primas: A Grand Don't Come For Free dos Streets e Boy in the Corner, o primeiro de Dizzee Rascal, o miúdo que, com apenas 19 anos, venceu o Mercury Prize. Mantém-se a produção caseira, com beats que são bits, 8 bits, mas que também são sons de consolas e outras pérolas que servem perfeitamente às letras narcisistas de Rascal. Não é tão bom como o antecessor, mas augurava um futuro que não se veio a cumprir. Hoje em dia, a frescura Dizzee Rascal anda perdida algures entre a naftalina de Robbie Williams e o mau gosto de Will I Am.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

[Semana 01-09-04] Flotation Toy Warning editam "Bluffer's Guide to the Flight Deck"


1 de Setembro de 2004: Bluffer's Guide To The Flight Deck, dos Flotation Toy Warning chega às lojas. 14 de Setembro de 2004: o mundo treme com a edição de Funeral, a estreia discográfica (perfeita, perfeita) dos Arcade Fire, e respectivo burburinho.  

1 de Setembro de 2014: os Flotation Toy Warning cairam no esquecimento. Terão chegado ao fim? 14 de Setembro de 2014: os Arcade Fire são uma das maiores bandas do mundo. 

A comparação é inevitável, os paralelismos óbvios: produção rica, álbum emocional, registo catártico. Na altura, os Arcade Fire ainda não era uma inspiração. Os Flotation Toy Warning fartaram-se de ser comparados a Flaming Lips e Mercury Rev (e faz todo o sentido) para, por fim, à imagem das suas referências, caírem na irrelevância.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

[Semana 01-09-04] The Prodigy editam "Always Outnumbered, Never Outgunned"


Sete anos é muito tempo. Sete anos separam o terceiro (The Fat of the Land) do quarto disco (este) dos Prodigy. Uma infinidade de controvérsias e um hiato depois, a banda regressa, mas sem fria e distante. Always Outnumbered, Never Outgunned é o St. Anger dos Prodigy, é o patinho feio de uma discografia (sobrevalorizada), mas que serviu de base para construir um presente que ainda os vai mantendo relevantes. Mesmo aquilo que mais interessa na banda de Liam Howlett, os singles, ficam a perder para o restante catálogo. Sobram apenas dois bons singles, um muito bom ("Spitfire") e outro razoável ("Girls"). Sem coincidências, são essas as duas primeiras a surgir no alinhamento de um regresso aborrecido e muito pouco humano. O grupo ainda tenta humanizar Always Outnumbered... com convidados, mas nomes como Juliette Lewis e Liam Gallagher só servem para acentuar o desnorte.





domingo, 10 de agosto de 2014

[Semana 04-08-04] Mark Lanegan Band edita "Bubblegum"


Seria difícil para Mark Lanegan ter criado um álbum mais americano do que este. Na verdade, não fosse a participação de PJ Harvey em duas canções e o sexto álbum do ex-Screaming Trees seria uma ode às terras do Tio Sam. Nesta altura, o rock voltava a ser entusiasmante. Os Strokes mantinham a chama acesa e os White Stripes criavam hinos de estádio, a vaga pós-punk (Franz Ferdinand, Futureheads, etc) dava os primeiros passos, e, acima de todos os outros, os Queens of the Stone (QOTSA), donos de um indisputável trono rock' n' roll do início do século. Não admira que, como ex-colaborador dos QOTSA, Lanegan tenha dado uso à sua lista de contactos e listado Josh Homme e Nick Oliveri - em sessões marcadas para horas e dias diferentes, presume-se - para participações, a par de Greg Dulli - que, mais tarde viria a colaborar no projecto The Gutter Twins -, Dean Ween e a já citada PJ Harvey. Blues, rock, Tom Waits, referências western, uma ode à americana. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

[Semana 14-07-04] Rogue Wave editam "Out of Shadow"


Em 2004, enquanto o homónimo dos Franz Ferdinand inspirava meio mundo, “Chutes Too Narrow” dos The Shins assumia-se como modelo de uma pop mais bem comportada, mais devedora do legado dos Beach Boys, com melodias cuidadas e harmonias perfeitas. Depois de “The Slow Wonder” de A.C. Newman, também “Out of Shadow” dos Rogue Wave deve muito limada da banda de James Mercer. Do psicadelismo à folk mais pastoral, a estreia de Zach Rogue veio provar, mais uma vez, que um tipo deprimido vale muito mais do que dois ou três de bem com a vida.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

[Semana 07-07-04] Futureheads editam "Futureheads"


Em 2004, a fórmula era esta: pegar nos ensinamentos pós-punk gingões dos Gang of Four e fazer as delícias dos pés mais irrequietos. Por esta altura, a receita do sucesso tinha sido posta em prática apenas pelos Franz Ferdinand, a primeira e mais entusiasmante banda desta vaga. Talvez resida aí a razão da boa recepção à estreia dos Futureheads. Nem 365 dias depois, as estreias dos Kaiser Chiefs e Maximo Park soariam mais frescas e interessantes.


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terça-feira, 8 de julho de 2014

[Semana 30-06-04] The Cure editam "The Cure"


Em 2004, ao 12º disco de estúdio, os The Cure chegam ao inevitável homónimo. Mantendo a tradição estabelecida desde 1992, a banda de Robert Smith edita mais um álbum em ano de campeonato europeu de futebol e fá-lo com uma vitalidade que parecia perdida em Inglaterra 96. “The Cure” é claustrofóbico, desesperado, nervoso – atributos que poderão ser associados à escolha do produtor Ross Robinson – que trabalhou, por exemplo, com os caóticos Slipknot.


domingo, 29 de junho de 2014

[Semana 23-06-04] Dungen editam "Ta det lugnt"


Hoje, em 2014, o psicadelismo moderno foi reabilitado, fazendo parte do calendário de edições das mais prestigiadas publicações dedicadas à música. Hoje, em 2014, um novo álbum dos Tame Impala será sempre um dos mais aguardados da agenda discográfica anual. Ontem, em 2004, não era bem assim, as edições psicadélicas não eram tão corriqueiras como hoje, em 2014. Ontem, em 2004, um tipo sueco, o multi-instrumentista Gustav Estjes, que, à imagem de Kevin Parker dos Tame Impala, a única cara do projecto, edita Ta det lugnt, aquele foi provavelmente o grande disco de rock psicadélico de 2004.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

[Semana 23-06-04] Wilco editam "A Ghost is Born"


A ambição dos Wilco sempre os levou a fabricar edições diferentes - discos bónus, álbuns duplos, álbuns enormes - em duração e qualidade. Não é por isso de admirar que A Ghost Is Born inclua uma canção de mais de 10 minutos e outra com mais de 15. Nostálgicos como sempre, mais adultos que noutros momentos (Being There, obra-prima), sempre inteligentes e com vontade de arriscar. Dizem as más línguas que essa vontade é a grande responsável pelo adiar de um verdadeiro reconhecimento.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

[Semana 16-06-04] The Killers editam "Hot Fuss"


Cinco bons singles chegaram para criar uma ilusão que rezava assim: os Killers eram a melhor nova banda da década dos zeros a combinar indie-rock e sintetizadores a escorrer azeite. Não, nem indie, nem rock. Os Killers transformaram-se num fenómeno pop à escala global, uma máquina de singles horrendos e de "não singles" ainda piores. Uma fraude. Hot Fuss já denuncia a capacidade de apontar para as grandes arenas - a melhor canção de todas as canções dos Killers, "Mr. Brightside" escala o top britânico, entre nomes como Avril Lavigne, Mario, Eamon e Usher. É um álbum mais consensual da banda de Brandon Flowers (pinta de estrela, cabelo a mais. mas ainda assim capaz de gerar opiniões polares. Hot Fuss é a crónica de uma banda que com apenas cinco canções enganou meio mundo. O tempo deixaria claro o embuste.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

[Semana 16-06-04] A.C. Newman edita "The Slow Wonder"


Carreira a solo após carreira a solo, os The New Pornographers têm vindo a provar que, embora também valha a pena, o todo não supera a soma das partes. Ou seja, há na banda de "Moves" demasiado talento para que tudo fique concentrado num só projecto. Ainda antes de Dan Bejar editar o seu melhor disco como Destroyer, o último, já de 2011, Kaputt, A.C. Newman lançou um magnifico disco que a geração The O.C. abraçou e que tem como grande inspiração noutro magnífico álbum pop, Chutes Too Narrow dos Shins. 

sábado, 14 de junho de 2014

[Semana 09-06-04] Sonic Youth editam "Sonic Nurse"


Peguemos nos últimos três álbuns dos Sonic Youth, este Sonic Nurse, Rather Ripped (2006) e The Eternal (2009). À primeira audição, parece que os Sonic Youth andaram os últimos anos da sua longa carreira a gravar o mesmo disco. Na verdade, se ouvirmos toda a discografia dos nova-iorquinos, serão poucas as diferenças que vamos encontrar, de registo para registo. O mais incrível é que, seguindo esta premissa da imutabilidade, Kim Gordon, Thurston Moore e companhia mantiveram uma notável relevância. Sonic Nurse é mais um disco dos Sonic Youth, portanto, a eterna exploração do ruído que permitiu que a imprensa não mais largasse o rótulo de "experimental". A variantes relativamente à restante discografia estará no facto deste ser o segundo e ultimo álbum que conta com a colaboração de Jim O'Rourke. 

domingo, 8 de junho de 2014

[Semana 02-06-04] !!! editam "Louden Up Now"


A experiência sempre foi melhor ao vivo do que em disco, mas nem esta premissa tira a Louden Up Now o estatuto de um dos melhores discos de dança lançados nos 00s - 66 minutos e nove temas que parecem um só. Nesta altura muito associados à DFA (The Rapture, LCD Soundsystem), a singularidade dos Chk Chk Chk ou tʃk, tʃk, tʃk ou !!! ou o reio que os parta começava no nome a acabava em palco, com o carismático Nic Offer louco, de um lado para o outro, de calções e a abanar a anca em palco. No final de um manifesto punk-funk, carregado de referências políticas, um veredicto: a doença - a guerra, a de Bush e Blair, a do Iraque - e a cura - dançar, dançar durante 66 incríveis minutos.

domingo, 1 de junho de 2014

[Semana 26-05-04] The Streets editam "A Grand Don't Come For Free"


Contas feitas, o grime foi um género de miúdos - os autores dos melhores discos do género, Dizzee Rascal e Mike Skinner, foram perdendo frescura com o passar dos anos. O primeiro continua a editar baixando a fasquia, álbum após álbum, o segundo fechou a loja em 2011, com o discreto Computers & Blues. A Grand Don't Come For Free, álbum conceptual que sucede o já excelente Original Pirate Material, balança-se entre a sorte e o azar, o jogo e o amor, o azar ao jogo, a sorte no amor, a sorte no jogo, o azar no amor, o azar no jogo, o azar no amor. Tudo muito bem arquitectado. Não há uma canção que soe deslocada e tudo soa a material clássico. Material original clássico.







terça-feira, 20 de maio de 2014

Os álbuns portugueses editados em 2004


A produção nacional de 2004 é sintomática - 50 por cento da música é cantada em inglês, o hip hop tuga continuava a afirmar-se, o pós-punk continuava a dar cartas, o melhor rock vinha de Coimbra e surgia o novo fado. Entre as vacas sagradas (Xutos, Mão Morta, José Mário Branco), algumas afirmações (Clã, Da Weasel e Wraygunn), estreias que viriam a não dar em nada (Loto e Plaza) e outras que deram alguns frutos (Yellow W Van e Matozoo), em 2004, Portugal ainda tentava, excepto uma ou outra excepção, imitar o que vinha de fora.

Comecemos pelos mais singulares: os Olga e os Hipnótica. Ambos ainda resistem, mas com um som radicalmente diferente. Os Olga estreiam-se com O, um álbum pós-rock via Mogwai e os Hipnótica cimentam o seu percurso (que já tinha começado há precisamente dez anos) com um registo etéreo e de referências ao jazz, à electrónica e à música ambiental. Hoje, uns dedicam-se ao rock, os outros à folk.

De Alcobaça, Armando Teixeira (produtor) apadrinha a estreia dos Loto, com um disco que é o equivalente a uma vénia aos New Order. Tivesse saído um ano depois e Loto teria valido comparações com a também estreia dos LCD Soundsystem. Também com o som apontado aos anos 80 e às ancas, os gaienses Plaza estreiam-se com singles como "(Out) On the Radio" e "In Fiction". E os Fonzie? Punk daqueles que envergonha os punks, música pop, no fundo, uma banda às aranhas que não sabe se quer ser os Blink 182 (som) ou os Foo Fighters (a estética). 

Das cinzas dos Tedio Boys, dois discos com selo conimbricense: Eclesiastes 1.11,, dos Wraygunn e Trying To Lose dos Bunnyranch. Os primeiros oferecem um caldeirão rock, soul, blues e, surpresa!, hip hop. Os segundos entregam aquilo que esperamos de uma banda de rock de Coimbra: um bom disco que justifique ainda melhores espectáculos ao vivo. Ainda no rock, os Mão Morta lançam Nus, disco conceptual que junta spoken word, samples e que chega a roçar o metal num registo que toca no absurdo e exigente, e os Xutos & Pontapés editam Mundo ao Contrário. Não será essa a intenção da banda, mas, à imagem dos Stones, parece andar a picar o ponto discográfico de forma a justificar as digressões do que pela qualidade do material. Despachemos também a secção que não se leva a sério: Ena Pá 2000 com A Luta Continua e Comme Restus com Pharmácia Ananáz

No hip hop, a Matarroa ataca com dois álbuns importantes: Funk Matarroês, a estreia dos Matozoo e Conhecimento de XEG. Ambos atiram-se à sátira dos lugares comuns do rap nacional: a industria musical, os críticos, a política, Casa Pia, música portuguesa e, claro, o amor. Exploram uma linguagem mais crua, fruto do contracto com uma editora independente. Nota para a participação de boa parte do núcleo duro do hip hop tuga actual no disco de XEG: Regula, NBC, New Max e Sir Scratch. Os Da Weasel atacam com aquele que talvez seja o seu melhor trabalho: Re-Defenições e a estreia dos Yellow W Van é feita através de uma major, algo que os afasta da linguagem sem filtros da Matarroa. O som fica entre os Red Hot Chili Peppers e o Rage Against the Machine. 

Por fim, os novos discos de José Mário Branco, Clã e a estreia de A Naifa. O primeiro lança um "disco de intervenção" em tempos pré-crise europeia que, a tempos, soa a premonição. Quando canta "somos lixo!", na "Canção dos Despedidos", por exemplo. É um disco que ainda hoje impressiona, prova de vitalidade suprema, visto estas palavras fazem mais sentido do que nunca. Os Clã lançam aquele que será ainda hoje o seu disco mais arriscado - emocional, orquestrado, poético - e, a fechar, A Naifa estreia-se com o som a que se convencionou chamar novo fado. Com Mitó, Luis Varatojo, João Aguardela e Vasco Vaz, Canções Subterrâneas soa a pedrada no charco com as suas referências electrónicas e batidas secas a casarem na perfeição com a voz de Mitó e o som da guitarra portuguesa.

No segundo semestre, um regresso: o dos Zen - mais nervosos, mais brutos em Rules, Jewels, Fools, segundo e último álbum da banda do Porto. Também do Porto e vindos das cinzas de outra banda que brilhou nos anos 90, os Pluto de Manel Cruz e Peixe (ambos ex-Ornatos Violeta), mas também de Eduardo Silva (ex-Jep) e Rui Lacerda (ex-Insert Coin). Acabaria por ser um acto isolado a estreia dos Pluto, projecto que hoje soa à vontade de Manel Cruz se ir afastando progressivamente do som dos Ornatos. Pouco antes de morrer, John Peel abençoou No Waves, segundo capítulo discográfico dos Micro Audio Waves. Levou-os à internacionalização. Dois suspiros discográficos a fechar o ano: The Gift e Humanos. Os primeiros, munidos de grande ambição, editam AM/FM, álbum duplo que explora novos territórios na primeira metade (AM, a menos comercial, a mais desafiante) e cimenta um percurso de muitos singles na segunda (FM, a mais vendável). Já os Humanos, ou seja, Camané, Manuela Azevedo e David Fonseca, não só não envergonham o legado de António Variações, como ainda o voltam a levar às massas. "Maria Albertina" que quase esteve para não ser incluída no disco acaba por servir de porta-estandarte a um disco surpreendente. 

domingo, 18 de maio de 2014

[Semana 12-05-04] Magnetic Fields editam "i"


i é o sucessor desse clássico que é 69 Love Songs (que não tem 69 grandes canções de amor, mas tem, pelo menos duas dezenas muito boas, algumas delas maravilhosas). i tem menos 55 canções que 69 Love Songs, o que significa duas coisas. Significa que i tem menos canções de alto quilate e, paradoxalmente, tem menos lixo. De resto, estas são canções folk que versam sobre o amor, ou seja, poderiam muito bem estar em 69 Love Songs. Mas, desenganem-se, não soam a sobras. São belas, estas 14 canções. Ah, e claro, o conceito, reparem que todas as canções de i começam por um "i", ou seja, são canções escritas por Stephin Merritt na primeira pessoa.

[Semana 05-05-04] The Concretes editam "The Concretes"


The Concretes é o culminar de nove anos de trabalho - dois EPs e uma compilação - que não é mais do que a fusão desses dois EPs - dos suecos e uma carta de amor ao continente americano - aos Velvet Underground, às girl groups, aos Mazzy Star. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

[Semana 05-05-04] Devendra Banhart edita "Rejoicing Hands"


Seria difícil situar a "New Weird America" no tempo se não fosse pela famosa capa da Wire, a de Agosto de 2003. Assim, numa das (mais de) 1001 caras da publicação de referência, David Keenan antecipava os anos de ouro do género - Devendra Banhart editaria este Rejoicing Hands (primeira parte de um projecto maior que só terminaria meses depois, com Niño Rojo) e, um ano depois, a obra-prima Cripple Crow, e Joanna Newsom arranjaria forma de não soar aborrecida com o excelente Vs, já em 2006. Rejoicing Hands, que conta com Michael Gira na produção, é um dos pilares de um género que, apesar da magnifica história que o originou, nasceu com os dias contados. Ainda assim, entre 2003 e 2000 e qualquer coisa, as CocoRosie e os Wooden Wand ainda teriam algo a acrescentar. 

domingo, 11 de maio de 2014

[Semana 05-05-04] Ghosface Killah edita "The Pretty Toney"


A "Intro" de dois minutos serve para esclarecer que a transferência da Epic Records para a Def Jam não foi mais do que uma mexida de mercado sem sacrifícios estéticos. Todas as 18 faixas (canções + interlúdios) de The Pretty Toney assentam num sample de um clássico soul, a base para as rimas ora violentas ora divertidas do rapper. É no improvável equilíbrio entre a mensagem de amor dos clássicos soul e as rimas inflamadas de Ghostface que está o grande trunfo do quarto álbum do Ex-Wu Tang Clan.